Por Sandro Silva.
Relatório feito em parceria com CDP e WWF mostra como as empresas que representam riscos de desmatamento estão lidando com os impactos ecológicos de suas cadeias de valor.
Os quatro maiores commodities agrícolas – óleo de palma, produtos de madeira, soja e gado – são responsáveis por mais de 3,83 milhões de hectares de desmatamento tropical a cada ano – mais de um terço dos 9,9 milhões de hectares de florestas tropicais que são perdidos globalmente por ano. Esses são dados de um novo relatório do projeto Forest Trends’ Supply Change que acompanha o progresso dos 579 compromissos públicos de empresas de todo o mundo que dependem desses produtos, e que se comprometeram a retirar a destruição de florestas de suas cadeias de suprimentos.
O CDP (Carbon Disclosure Project), organização internacional que provê um sistema global único de reporte de impactos ambientais, e o WWF (World Wide Found for Nature), organização não-governamental dedicada à conservação da natureza, foram responsáveis pelo fornecimento dos dados usados do estudo.
Lançado durante o Global Landscapes Forum, em Londres, o “Supply Change: Tracking Corporate Commitments to Deforestation-free Supply Chains, 2016” contempla 566 empresas que representam, pelo menos, US$ 7,3 trilhões em capitalização de mercado e que foram identificadas como tendo riscos de desmatamento vinculados a esses quatro commodities dentro de suas cadeias de suprimentos. Destas empresas, 366 firmaram compromissos para mudar para fontes sustentáveis e livres de desmatamento.
O relatório apontou que as empresas são mais propensas a assumirem compromissos relacionados à palma, madeira e celulose. Das empresas ativas na palma, 61% adotaram compromissos, em comparação com apenas 15% e 19% dessas empresas ativas no gado e na soja, respectivamente. A diferença é alarmante, pois se estima que a produção de gado cause dez vezes mais desmatamento do que a palma.
Em relação às grandes empresas públicas, nota-se que elas assumem mais compromissos do que companhias menores e privadas, como resultado da pressão e padrões mais elevados para a divulgação de instituições financeiras. Muitas dessas grandes empresas são entidades voltadas ao consumidor com sede na América do Norte e na Europa, longe do dano ambiental causado pela agricultura de commodities.
Embora o reporte foque nos quatro principais commodities agrícolas em escala global, são destacados alguns projetos regionais que contribuem para a redução do desmatamento. Na Amazônia brasileira, por exemplo, existem duas iniciativas para reduzir os impactos ambientais provocados pelo desmatamento – a Moratória da Soja e do Acordo de compra de gado. Esses acordos garantem que soja proveniente de áreas desmatadas não será comercializada. Outro exemplo é a JBS, maior produtora de proteína animal do mundo, que desenvolveu um sistema de monitoramento por satélite que supervisiona a gestão sustentável da compra de gado de fornecedores da companhia, para atingir o compromisso de desmatamento zero.
“Desmatamento é um tema que tem tido grande repercussão em todo o mundo e afetado diretamente as grandes cadeias produtivas. O relatório nos mostra um sensível avanço de grandes players do mercado buscando soluções e efetivamente tomando iniciativas para reduzir e garantir que sua matéria prima não venha de áreas desmatadas. Muitas iniciativas citadas ainda são tímidas e ainda há muito que ser feito para alcançar as metas de desmatamento zero planejadas pelas empresas. Outro ponto que chama atenção é a inercia de alguns setores que não tem iniciativas nesse sentido. Acredito que ainda há um grande trabalho de engajamento a ser feito em ambas as pontas do processo, tanto com fornecedores quanto com os clientes, para que eles entendam a importância desse trabalho”, afirma Lauro Marins, gerente do programa CDP Supply Chain na América Latina.
A pesquisa também mostrou que as empresas que operam upstream (produtores, processadores e comerciantes) tendem a assumirem mais compromissos do que suas parceiras downstream (fabricantes e varejistas) – e suas promessas são potencialmente mais impactantes. Os atores upstream representam apenas 26% das empresas controladas, mas 80% têm feito um compromisso, em comparação com 62% das empresas downstream. Além disso, o estudo evidencia que a divulgação atual é insuficiente, uma vez que as empresas só têm relatado progresso quantificável em um de cada três compromissos. Mesmo entre compromissos cujas datas-chave já passaram, as empresas têm revelado progressos em menos da metade.
Veja o Sumário Executivo do “Supply Change: Tracking Corporate Commitments to Deforestation-free Supply Chains, 2016” na íntegra:
http://www.forest-trends.org/documents/files/doc_5248.pdf
Colaboração de Sandro Silva para EcoDebate
Fonte: EcoDebate