Diretores da APA mantinham contato com psicólogos militares do Pentágono e posteriormente fecharam contratos lucrativos com agências antiterrorismo.
Um novo relatório divulgado nos EUA afirma que a maior associação norte-americana de psicólogos deu aval aos programas de tortura conduzidos pela CIA e pelo Pentágono na chamada ‘Guerra ao Terror’ que se seguiu aos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
Alguns dos profissionais envolvidos em justificar e legitimar os controversos métodos das agências de inteligência dos EUA — chamados internatmente de “técnicas de interrogatório intensivas” — posteriormente lucraram, no setor privado, com contratos firmados com as agências de defesa norte-americanas.
Relatório produzido por autoridades dos EUA mostra relação entre psicólogos civis e agêncais antiterrorismo na era Bush
O documento, concluído neste mês de julo, analisa como a APA (Associação de Psicólogos dos EUA), principal entidade da categoria no país, deu uma espécie de apoio doutrinário aos métodos empregados pelas forças de segurança norte-americanas durante o governo George W. Bush (2001-2008). Altos membros da associação deram sinal verde às práticas, assegurando, por exemplo, que as diretrizes éticas da APA sempre estivessem de acordo com os fundamentos da cartilha de interrogatório policial produzida pelo Departamento de Defesa dos EUA.
Dois ex-presidentes da APA eram membros do conselho consultivo da CIA, um dos quais produziu, a pedido da agência, uma análise, à época, atestando que privação de sono não poderia ser considerada tortura — esta mesma pessoa também, anos mais tarde, tornou-se sócia de uma empresa de consultoria que supervisionava as atividades da CIA.
O documento descreve ainda outros episódios em que pessoas do alto escalão, envolvidas com o programa antiterror dos EUA, migraram depois para o setor privado, conseguindo contratos lucrativos com a CIA e o Pentágono.
“A APA definiu suas diretrizes éticas baseadas em seu objetivo de ajudar o Pentágono, gerindo as relações públicas e maximizando o crescimento da profissão”, escreve David Hoffman, um ex-procurador-assistente norte-americano, autor do relatório de 542 páginas publicado na sexta-feira (10/07) pelo jornal The New York Times.
Como consequências imediata à divulgação, o diretor da APA responsável pelo setor de ética, Stephen Behnke, pediu demissão do cargo. De acordo com o relatório, ele era responsável por elaborar as linhas de conduta ética da APA e estava em constante articulação com altos psicólogos militares, assegurando que não houvesse divergências. Mais tarde, e sem notificar o conselho da APA, Behnke fechou um contrato com o Pentágono para treinar interrogadores.
Fonte: Opera Mundi