Por Tatiana Farah.
Pedro Chaves (PSC-MS) já teve universidade e é dono de colégio de 2 mil alunos em Campo Grande. Em vez de ocupações, senador defende que estudantes façam passeata. Ele é contra o Escola Sem Partido.
Chaves, que gosta de ser chamado de professor, fundou a Uniderp (Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal), vendida para o grupo Anhanguera. Ele é dono da Mace, um dos colégios mais tradicionais de Campo Grande, com mais de dois mil alunos.
Em 2010, quando concorreu como suplente do senador cassado Delcídio Amaral (ex-PT-MS), Chaves declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 69 milhões.
Em entrevista ao BuzzFeed Brasil, o senador Pedro Chaves disse não ver conflito de interesses entre sua atividade empresarial e o posto de relator da reforma do ensino médio no Brasil: “Sou uma gota no oceano”.
O senador começou seu império nos anos 1970 e criou uma faculdade privada que mais tarde daria origem à Uniderp. Quando vendeu a universidade para o grupo Anhanguera em 2006, em um negócio que teria girado em torno de R$ 200 milhões, a instituição tinha cerca de 30 mil alunos.
Próximo de José Carlos Bumlai, empresário condenado a 9 anos e 10 meses de prisão na Lava Jato, Pedro Chaves foi citado pelo site O Antagonista por ter recebido um empréstimo de R$ 4,6 milhões para a Uniderp em 1998. Nada nas investigações trata dele.
“É óbvio que, para ter uma universidade dessas, eu que sou de família muito humilde, a luz da minha casa era de lampião. Eu comecei como professor, eu precisava de recursos para construir prédios, recorri ao banco Santander, que era agente do BNDES e tomei empréstimos. Pagava religiosamente. Nunca recebi nada de governo do estado, município, de governo nenhum”, disse o senador.
“Não vi conflito porque minha escola é uma escola de dois mil alunos. No Brasil temos no ensino médio 9 milhões de alunos. Sou uma gotinha no oceano. Minha escola é quase de tempo integral. É uma escola conceituada. De classe média, média alta. Quero que as escolas estaduais tenham o mesmo tratamento”, disse.
O senador deve concluir a relatoria da MP até o final deste mês. Deputados e senadores já entregaram 566 emendas à medida provisória, que prevê, entre outras mudança, a não obrigatoriedade do ensino de Sociologia e Filosofia.
Ao contrário do presidente Michel Temer, que disse que os estudantes não sabem o que é uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional), Pedro Chaves falou ao BuzzFeed que os jovens “estão bem conscientizados”. “Eles amadureceram muito neste episódio. É provável que o presidente tenha dito antes de conversar com eles”, disse o senador.
No entanto, Pedro Chaves, que disse ter feito movimento estudantil em sua juventude, quer que os alunos troquem as ocupações por passeatas: “Que forma é essa de manifestar, que você ocupa a sala sem pedir licença, comprometendo os colegas? A melhor forma é fazer passeata. Manifestar em praça pública.”
“A PEC do Teto, um dos motivos que levaram os jovens a fazer centenas de ocupações em universidades e escolas públicas não representa perigo para a educação”. Ele quer que o Estado corte “gordura” de outros ministérios e de programas como o Ciência Sem Fronteira.
“O valor que se gastou foi uma coisa absurda. Ontem estive com o embaixador da Inglaterra. Onze mil alunos estiveram lá, fizeram curso, voltaram e não acrescentaram nada para o país. Tem de atrelar esses programas que existem com o custo e com os objetivos do país. Existe muita gordura nos ministérios”, disse ele.
O senador é contra o projeto da Escola Sem Partido.
“Ninguém é isento de opiniões. Cada professor tem a sua formação e a troca de ideias é muito salutar na sala de aula. Há um equívoco na escola sem partido. Eu sou contra. De verdade”, afirma.
Fonte: Buzz Feed.