Refinaria Teatral em resistência. Por Guigo Ribeiro.

Por Guigo Ribeiro. para Desacato. info.

Anos atrás tomei um ônibus em Santana (zona norte de São Paulo) com um endereço anotado no caderno que escrevia versos feitos para nunca serem lidos. O ônibus, pequeno, rodou poucos minutos até o ponto que eu tinha como referência. Desci. Andei mais uns bons minutos numa rua para chegar ao lugar. Era o endereço da cia de teatro Refinaria Teatral. Tímido, fiquei sentado aguardando o que seria minha primeira experiência de teatro. Achava que ia gostar. Não sei. Acho que quem me recebeu foi a Ana Szcypula, uma artista incrível. Acho que foi ela. Não sei ao certo. Porque depois da minha primeira experiência de teatro, foram tantas outras. Tantas. Mas não esqueci que foi por aquele primeiro dia que vivi essas outras.

O que quero dizer contando histórias minhas? Quero dizer que hoje agonizamos num tempo em que sabemos que receberemos uma notícia com o número de mortos à noite. Quero dizer que morremos todos, todos os dias junto aos tantos empilhados no colapso do Estado. Quero dizer que não temos certeza do que acontecerá depois disso tudo, contudo sei que como se veleja é determinante para como se chega. E estamos indo muito mal. Estamos num porão sendo torturados enquanto o presidente ri. Não vamos esquecer que ele nunca mentiu sobre sua conduta genocida. Quero dizer isso, mas não só isso.

Quando tomei o ônibus em Santana, cheguei na cia Refinaria Teatral. E minha vida mudou completamente. Também quero dizer que hoje a cia vive uma momento extremamente difícil, diante da possibilidade de perder seu espaço. Isso me machuca. Isso machuca a arte. Todo artista que não consegue exercer seu trabalho é um passo a mais do país rumo ao abismo, à ignorância. Então talvez aqui me coloco publicamente para pedir ajuda para que a cia Refinaria Teatral siga viva, resistindo. Formando novos artistas. Para que siga com um teatro democrático localizado na periferia de São Paulo. Me coloco aqui publicamente para pedir ajuda para os artistas, para os trabalhadores alvos da pandemia Estado. É um pedido muito sincero.

Esse tempo me traz duas memórias muito fortes. A primeira é sobre os constantes avisos desesperados que se o Bolsonaro fosse eleito, estaríamos mortos. E a segunda memória é uma frase que se não é isso, é quase isso: ninguém solta a mão de ninguém. É… essa frase é para o sempre. Só que hoje está MUITO urgente.

Abaixo o link com mais informações sobre o que tá rolando.

https://www.catarse.me/refinaria_teatral_em_resistencia?ref=project_link

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Guigo Ribeiro é ator, músico e escritor, autor do livro “O Dia e o Dia Que o Mundo Acabou”, disponível em Edfross.

 

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