Redução do auxílio jogou 8,6 milhões de brasileiros na pobreza

“O pior momento vai ser em janeiro (de 2021)”, afirma pesquisador da Ibre/FGV

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Desde que o presidente Jair Bolsonaro reduziu à metade o auxílio emergencial – de R$ 600 a R$ 300 –, o número de pessoas vivendo em situação de pobreza no País aumentou em mais de 8,6 milhões. No mesmo período – passagem de agosto para setembro –, a população em situação de miséria avançou em mais de 4 milhões de brasileiros. Os cálculos são do economista Daniel Duque, pesquisador da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

O auxílio – uma conquista do PCdoB e da oposição ao governo Bolsonaro – é uma renda mínima mensal e temporária que beneficia trabalhadores desempregados e informais. Para mostrar o peso de sua redução no bolso dos brasileiros, Duque considerou as informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid (Pnad Covid-19) de outubro, divulgada na terça-feira (1) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“O pior momento vai ser em janeiro (de 2021)”, afirmou o pesquisador, em referência à data prevista para o fim do benefício – a despeito de o mercado de trabalho ainda não ter recuperado o ritmo pré-Covid. Pressionada a manter o pagamento por mais alguns meses, a equipe econômica diz que trabalha na criação de programa para expandir o microcrédito.

Pesquisador da consultoria IDados, Bruno Ottoni, também fala com preocupação do início de 2021. “O auxílio vai acabar, e os trabalhadores que puderam ficar em casa com alguma renda no período de pandemia não terão alternativa. Terão de buscar trabalho”, diz Bruno. “Vai acabar também o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, que beneficiou até 9,5 milhões de trabalhadores da iniciativa privada. Então, teremos um corte expressivo e abrupto de dois programas muito relevantes.”

Pelos números pesquisados por Duque, a população vivendo na extrema pobreza saltou de 5,171 milhões em agosto para 9,251 milhões em setembro – um aumento de cerca de 4,080 milhões. A proporção da população brasileira vivendo nessa condição cresceu no período de 2,4% para 4,4%. Já a proporção de brasileiros vivendo na pobreza subiu de 18,3%, em agosto, para 22,4% em setembro. Em números absolutos, esse grupo passou de 38,766 milhões para 47,395 milhões.

Conforme critérios das Nações Unidas, a pobreza extrema engloba pessoas com renda disponível familiar per capita inferior a US$ 1,90 por dia, na conversão pelo método de Paridade de Poder de Compra. Já a população que vive abaixo da linha de pobreza é aquela com renda disponível de US$ 5,50 por dia. “Boa parte dessa população tem a renda altamente dependente do auxílio”, lembrou Duque.

Os dados da Pnad Covid de outubro mostraram que os 10% de brasileiros mais pobres tinham renda domiciliar per capita de apenas R$ 31,69 por mês no período, se excluído o auxílio emergencial. Ou seja, mais de 21 milhões de brasileiros tinham apenas R$ 1,05 por dia para sobreviver considerando todo o restante de renda disponível. Com a ajuda do auxílio, esse valor subiu a R$ 219,96 mensais, o equivalente a R$ 7,33 por dia.

Segundo Duque, a expectativa é de queda na desigualdade de renda nos próximos meses com uma recuperação do mercado de trabalho e mesmo a estabilidade do valor do auxílio até dezembro. Mas a melhora no emprego não deve chegar a mudar a situação dos miseráveis, que têm mais dificuldade de se inserir no mercado de trabalho.

“A melhora do emprego, sem dúvida, dificilmente afeta positivamente a pobreza extrema. A pobreza não extrema é mais sensível ao mercado de trabalho”, diz Duque. “Elas estão em regiões ou localidades que são muito pouco dinâmicas, com a economia mais fraca, que terá mais dificuldade para ter um dinamismo na geração de vagas, como o interior do Nordeste.”

Com informações do Estadão

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