Redescobrindo a vida em comunidade. Por Douglas Kovaleski

Imagem: Pixabay.

Por Douglas F. Kovaleski, para Desacato. info.

A sociedade humana já passou por várias configurações, desde uma sociabilidade em pequenos grupos até grupos maiores que permitiram que a espécie humana sobrevivesse diante de diversidades do ambiente, predadores e a própria competição entre as pessoas por recursos. Vivemos em um momento da história da humanidade em que o volume de riquezas, alimentos e recursos é elevadíssimo e pode alimentar e prover todas as pessoas. Há de fato um problema grave de distribuição. Onde poucos acumulam um contingente muito grande de recursos, enquanto a multidão não sabe o que vai comer no dia seguinte, vive em condições precárias de moradia e vive à margem de uma condição de vida digna.

Movimentos sociais contestam a apropriação, por parte de uma elite, de recursos naturais, conhecimentos, espaços e serviços públicos. A valorização dos aspectos que unem as pessoas em alguma perspectiva, seja nos serviços públicos, na democracia ou no convívio coletivo. Esse princípio, Pierre Dardot  e Cristian Lavall denominam princípio do comum.

Esse princípio articula lutas práticas contra o capitalismo e os estudos sobre o governo coletivo de recursos, como aponta novas formas democráticas. O comum deve ser percebido nas atividades cotidianas das pessoas. Por meio da prática radicalmente democrática quando define-se o que é comum, respaldado por regras de responsabilização e respeito mútuo. Ou seja, o comum precisa de uma revolução radical da democracia desde as microrrelações até a macropolítica.

A intencionalidade desse olhar é construir uma alternativa política ao neoliberalismo que caracteriza uma ruptura contínua no cotidiano da sociabilidade e principalmente na forma de produção e acumulação das riquezas. O comum pede um trabalho de esclarecimento no pensamento e na concretude das práticas. Certas coisas devem ser reservadas consensualmente para o uso comum.

Diante do avanço e uma aparente consolidação da ideologia neoliberal, que aparece nas relações econômicas, na concorrência empresarial e interpessoal e no ascenso dos governos de esquerda pelo mundo. O comum se coloca como alternativa política para o século XXI. A prática social anticapitalista, por meio das lutas sociais, tem visado à instituição de espaços comuns, a disponibilidade para as pessoas dos meios materiais e imateriais necessários a suas atividades coletivas não baseados na propriedade privada ou estatal, mas comum. Institui o autogoverno das pessoas, que realizam coletivamente a própria libertação, seja da dominação explícita do Estado, seja da dominação do sistema econômico vigente.

No caso da saúde, o comum se impõe como condição de repartição, de sociabilidade e de vida em comum, ou seja, a vida compartilhada livremente, a proteção que o coletivo comunal provê, são aspectos essenciais para que as pessoas tenham boa saúde. Isoladamente, é impossível ter saúde no capitalismo e em qualquer modo de produção social da vida. O ser humano é social por essência, tanto pelas necessidades materiais, como pelas trocas que precisam ser estabelecidas de maneira permanente de maneira solidária. Vamos rumo à ampliação do que há de comum em nossas vidas.

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Douglas Francisco Kovaleski é professor da Universidade Federal de Santa Catarina na área de Saúde Coletiva e militante dos movimentos sociais.

 

 

A opinião do autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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