Rede de ativistas latino-americanos exibe as 13 primeiras ilustrações da campanha gráfica Viva Palestina Viva!; veja

Por Conceição Lemes.

A Rede Conceitualismos do Sul nasceu em 2007, com o foco de pensar sobre as relações entre arte e política na América Latina por meio da pesquisa e contextualização de arquivos de artistas, entre outras formas.

O trabalho da RedCSur (sigla do nome da Rede em espanhol) se distancia de uma proposta meramente acadêmica.

Suas publicações são como “caixas de ferramentas”; socializam proposições no campo do ativismo artístico. Atualmente, a rede reúne cerca de 40 pesquisadores, artistas e ativistas latino-americanos.

Em 29 de novembro, Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino, a RedCSur realizou duas ações nesse sentido.

Uma delas foi a publicação da declaração Viva Palestina! (veja, ao final), na qual faz um apelo à solidariedade internacional face à carnificina praticada por Israel contra os palestinos e a escancarada cumplicidade dos EUA e União Europeia no genocídio.

Em sua declaração, a RedCSur denuncia as perseguições no setor artístico, principalmente na Alemanha e nos Estados Unidos:

”No mundo da arte, vemos com preocupação como as condenações do genocídio na Palestina acarretaram perseguições evidentes.

Instituições artísticas, públicas e privadas, recorreram à censura e à exclusão de todas as vozes dissidentes face a este consenso punitivo.

Esta operação de censura exprime-se, por exemplo,

com o cancelamento da premiação da autora palestina Adania Shibli na Feira do Livro de Frankfurt;

com a demissão do editor David Velasco do Art Forum por publicar uma carta aberta apelando à quebra do silêncio face ao genocídio contra o povo palestino;

com o novo conflito na Documenta Kassel em que boa parte da equipe responsável se demitiu devido à pressão do lobby sionista;

com a admoestação da curadora Wanda Nanibush pelo Museu de Toronto, no Canadá, e sua posterior saída da instituição, após um grupo pró-Israel denunciar seu posicionamento pró-Palestina nas redes sociais;

ou, da mesma forma, o atual controle de conteúdo em exposições e atividades onde são apresentados materiais gráficos com conteúdos que dedicam atenção ao que está acontecendo na Palestina.

Personalidades como Susan Sarandon, Melissa Barrera e Roger Waters também receberam ameaças e hostilidade por se manifestarem.

Nos solidarizamos com todos aqueles que foram afetados pelo pacto de silêncio e estigmatização por denunciarem o extermínio”.

A declaração Viva a Palestina viva! foi acompanhada da convocatória para campanha gráfica Viva a Palestina Viva!

Ou seja, em 29 de novembro, Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino, a RedCSur também lançou a campanha gráfica Viva a Palestina Viva!

A ideia surgiu da indignação pelo genocídio que acontece na Palestina, à vista de todo o mundo.

Os primeiros resultados da campanha estão mais abaixo.

São 13 ilustrações de ativistas de Espanha, Argentina, Chile, Colômbia e Uruguai.

A campanha gráfica Viva Palestina Viva! vai continuar.

À medida que a RedCSur receber novas contribuições, elas serão publicadas em seu perfil no instagram.

Você pode conhecê-las. Basta uma visita aqui

E se quiser enviar o seu trabalho artístico em solidariedade ao povo palestino, é só acessar o formulário neste endereço.

A melancia é um símbolo da Palestina. Daí, a sua imagem ter sido escolhida para ilustrar a campanha Viva Palestina Viva!, da RedCSur. Ilustração de Javier del Olmo, 2023/ cortesia do artista

Campanha gráfica Viva a Palestina Viva!
A uma semana da greve mundial em solidariedade com o povo palestino, desde a RedCSur, compartilhamos a primeira remessa de imagens de nossa campanha provenientes de diferentes países da região.

Vemos com muito pesar como o número de assassinatos cresce indiscriminadamente diante do olhar indiferente daqueles que poderiam intervir diretamente para deter este genocídio, e como as condições de vida e de segurança dos habitantes de Gaza se tornam cada vez mais insuficientes, indignas.

Diante disso, não podemos ficar calados. Precisamos levantar nossa voz, compartilhá-la, imprimi-la, divulgá-la, em vista da censura, do medo e da indiferença de tanta gente.

Nos somamos àqueles que estão exigindo o fim imediato do massacre, e defendemos o direito do povo palestino a uma solução pacífica para sua justa reivindicação.

Pelo cessar-fogo definitivo! Que os tratados humanitários sejam cumpridos e que cesse a agressão do Estado de Israel à população palestina!

Pela paz e pelo direito à autodeterminação dos povos!

Pela vida, pelas vidas!

Solidariedada internacional (2023)
Ana Penyas (Espanha) @ana_penyas
Ilustração
Campanha Viva Palestina Viva! – RedCSur

Libre já!! (2023)
Natalia Mejías (Chile) @reme.ppt
Ilustração Power Point
Campanha Viva Palestina Viva! – RedCSur

Brilho na obscuridade (2023)
Mugre gráfica (Argentina) @mugre_grafica
Ilustração
Campanha Viva Palestina Viva! – RedCSur

Free Palestina (2023)
Alejandro Thornton (Argentina)
Caligrafia digital
Campanha Viva Palestina Viva! – RedCSur

Palestina Vive (2023)
Fiera (Uruguay) @fiera_estampa
Ilustração
Campanha Viva Palestina Viva! – RedCSur

Terra da Violência Prometida (2023)
Martín de los Tantos (Uruguay)
Digital
Campanha Viva Palestina Viva! – RedCSur

Paz para Palestina (2023)
Martín de los Tantos (Uruguay)
Digital
Campanha Viva Palestina Viva! – RedCSur

Todxs estamos vendo (2023)
@solasolasola_ (Colômbia)
Digital
Campanha Viva Palestina Viva! – RedCSur

Metrô de Gaza – Rede Metro de Gaza em Madrid (2023)
Redretro Sistema de Transporte Onírico (Espanha) @redretro_internacional
Desenho gráfico, subversão semiótica e intervenção urbana
Campanha Viva Palestina Viva! – RedCSur

Palestina Livre (2023)
Barbárie
Xilografia a 3 tintas
Campanha Viva Palestina Viva! – RedCSur

Palestina livre! (2023)
agus zaballa
Serigrafia
Campanha Viva Palestina Viva – RedCSur

Javier del Olmo, genOciDio, 2023. Cartaz tipográfico. Cortesia do artista

Declaração Viva Palestina Viva! e convocatória da campanha gráfica Viva Palestina Viva!
Apelo à solidariedade internacional
A noite na cidade é negra, exceto pelo brilho dos mísseis; silenciosa, exceto pelo barulho dos bombardeios; aterrorizante, exceto pela promessa tranquilizadora da oração; escura, exceto pela luz dos mártires”. Heba Abu Nada (veja PS do Viomundo)

Hoje, Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino, somos convocados pelo estupor e pela necessidade de nos juntarmos às vozes que em todo o mundo exigem um cessar-fogo definitivo, uma resolução política e a restituição definitiva da entrada da assistência humanitária em Gaza.

Água, alimentos básicos, suprimentos médicos, eletricidade são elementos essenciais e ao mesmo tempo insuficientes, dada a magnitude da tragédia.

Medidas humanitárias garantidas por todos os tratados de direitos humanos e ignoradas até hoje pelo Governo de Israel, com a cumplicidade dos Estados Unidos e a conivência da União Europeia.

Há mais de 50 dias que o governo israelense vem empreendendo uma nova ação militar genocida na Faixa de Gaza, Palestina, hoje brevemente interrompida por um cessar-fogo de poucos dias, embora o governo israelense já tenha manifestado sua decisão de dar continuidade ao massacre.

Desde então até hoje, Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino, mais de 20.360 pessoas foram assassinadas, entre elas 8.241 crianças; milhares de pessoas desaparecidas sob os escombros; 1.730.000 pessoas deslocadas; mais de 59.000 casas completamente destruídas; 256 escolas bombardeadas e 124 postos de saúde atacados, 22 hospitais destruídos e 210 profissionais de saúde mortos nas mãos do exército israelense. É urgente contar novamente cada número, à ciência de que, assim que é anunciado já perde validade.

Cada um desses números mostra a magnitude de um presente contínuo de morte e horror, que não tem nenhum limite. Junto com eles, surgem novas siglas.

Os profissionais de saúde dos hospitais da Palestina tiveram que criar uma forma de nomear o inominável que se torna quotidiano: WCNSF (wounded child no surviving family – criança ferida sem família sobrevivente).

Esta situação não começou – como a imprensa internacional nos quer fazer crer – em 7 de Outubro de 2023, com os condenáveis crimes de Hamas contra civis, mas já se arrasta há muitos anos.

O grito palestino é ouvido de longe, tem seu início na ocupação da Palestina pelo Estado de Israel desde 1948, que resultou na Nakba ou “grande catástrofe”, que produziu a morte de milhares de palestinos e a remoção forçada do território em que eles habitavam.

Alguns fatos marcantes dessa longa história são a Guerra de Seis Dias em 1967, a Intifada de 1987, os confrontos que culminaram com o isolamento definitivo da Faixa de Gaza em 2005 e a “Sexta-feira de Fúria”, em razão da abertura da embaixada estadunidense em Jerusalém em 2017.

Ouvir a Palestina tal como tínhamos assinalado na campanha gráfica que promovemos pela RedCSur em 2020, implica prestar especial atenção a esse grito prolongado, deixando-nos afetar pela intempérie de sua história, mas especialmente pela urgência de seu presente.

Hoje, a Palestina dispõe apenas de uma ínfima porção de seu território original, cercada pelo exército israelense, e com a sua população exposta a um regime de apartheid, conforme a definição da Convenção Internacional sobre a Supressão e Punição do Crime de Apartheid, de 1973.

A força ocupante mantém Gaza sob um bloqueio que restringe o acesso ao mar, o ingresso de eletricidade, água e alimentos, desde 2007.

Em 2008, as forças de ocupação israelenses delinearam um cálculo de calorias para os habitantes de Gaza e impuseram à população uma dieta forçada que limita a quantidade de alimentos que pode entrar no enclave, impedindo a captação de água (até de chuva) e a produção de alimentos.

Gaza, na Palestina, se tornou o maior campo de concentração a céu aberto do mundo. Já transcorreram 75 anos de inação ou indiferença por parte da comunidade internacional, incapaz ou desinteressada em conter por vias diplomáticas o projeto colonialista sionista na Palestina.

Sem justiça e autodeterminação dos povos, sem reconhecimento do direito do povo palestino a um território e a um Estado soberano, nenhuma paz duradoura é possível.

À medida que o genocídio (isto é, o extermínio sistemático de um povo devido à sua condição racial, política e religiosa) vai avançando, a solidariedade internacional aumenta em todo o mundo.

Dia a dia, multiplicam-se mobilizações e atos de denúncia em diferentes cidades da África, da Europa, do Médio Oriente, dos EUA e da América Latina.

Embora os governantes de muitos destes países tenham proibido e criminalizado os protestos e todas as formas de apoio aberto ao povo palestiniano, estigmatizando-os deliberadamente como antissemitas, os atos e gestos de solidariedade não se detêm.

No mundo da arte, vemos com preocupação como as condenações do genocídio na Palestina acarretaram perseguições evidentes. Instituições artísticas, públicas e privadas, recorreram à censura e à exclusão de todas as vozes dissidentes face a este consenso punitivo.

Esta operação de censura exprime-se, por exemplo, com o cancelamento da premiação da autora palestina Adania Shibli na Feira do Livro de Frankfurt; com a demissão do editor David Velasco do Art Forum por publicar uma carta aberta apelando à quebra do silêncio face ao genocídio contra o povo palestino; com o novo conflito na Documenta Kassel em que boa parte da equipe responsável se demitiu devido à pressão do lobby sionista; com a admoestação da curadora Wanda Nanibush pelo Museu de Toronto, no Canadá, e sua posterior saída da instituição, após um grupo pró-Israel denunciar seu posicionamento pró-Palestina nas redes sociais; ou, da mesma forma, o atual controle de conteúdo em exposições e atividades onde são apresentados materiais gráficos com conteúdos que dedicam atenção ao que está acontecendo na Palestina. Personalidades como Susan Sarandon, Melissa Barrera e Roger Waters também receberam ameaças e hostilidade por se manifestarem. Nos solidarizamos com todos aqueles que foram afetados pelo pacto de silêncio e estigmatização por denunciarem o extermínio.

Dentro da própria comunidade judaica em todo o mundo, incluindo Israel, vozes corajosas se levantaram em protesto contra este extermínio, gritando “Não em nosso nome!” Desfazendo assim a falácia de confundir antissemitismo e anti-sionismo.

Não podemos permanecer calados. Precisamos levantar nossa voz, compartilhá-la, imprimi-la, divulgá-la, em vista da censura, do medo e da indiferença de tanta gente.

Somamo-nos àqueles que exigem o fim imediato do massacre e defendemos o direito do povo palestino a uma solução pacífica para a sua justa reivindicação.

Pelo cessar-fogo definitivo! Que os tratados humanitários sejam cumpridos e que cesse a agressão do Estado de Israel à população palestina!

Pela paz e pelo direito à autodeterminação dos povos!

Pela vida, pelas vidas!

RedCSur, 29 de novembro de 2023

Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino

Tradução: Jair de Souza, para o Viomundo

PS do Viomundo, publicado originalmente em 5 de novembro: Em 20 de outubro de 2023, a poeta, escritora e feminista palestina Heba Abu Nada foi assassinada durante bombardeio de Israel à sua cidade, Khan Yunis, na Faixa de Gaza.

Tinha apenas 32 anos e uma carreira muitíssimo promissora à frente.

Em 8 de outubro, um dia após o início do conflito Israel-Hamas na região, Heba escreveu em seu perfil no X (antigo twitter):

“A noite da cidade é escura,

exceto pelo brilho dos mísseis, silenciosa,

exceto pelo som dos bombardeios, assustadora,

exceto pela garantia das súplicas, negra,

exceto pela luz dos mártires’’.

A Editora Tabla, cujo foco é a publicação de livros referentes às culturas do Oriente Médio e do Norte da África e seus ecos mundo afora’, postou em sua conta no Instagram:

“É com muita tristeza que recebemos a notícia da morte da poeta e romancista Heba Abu Nada, assassinada no bombardeio israelense à cidade de Khan Yunis, na Faixa de Gaza.

Heba tinha 32 anos, era formada em bioquímica e tinha mestrado em nutrição clínica. Seu romance de estreia, “Oxigênio não é para os mortos”, ficou em segundo lugar no Sharjah Award for Arab Creativity em 2017.

Como Heba, milhares de crianças e jovens foram assassinados em nome de um projeto imoral, forjado há décadas. Todos tinham um nome, uma presença e um caminho. Vidas que importam, sim, porque quem conhece os palestinos sabe que é gente de coração incorruptível no seu amor pela vida, no seu olhar para o outro.

A cada vida palestina que se apaga, o mundo fica mais feio, mais pobre, mais medíocre, mais infeliz.

Um dia antes de ser assassinada, Heba Abu Nada escreveu: “Se morrermos, saibam que estamos satisfeitos e firmes. Digam ao mundo, em nosso nome, que somos um povo da verdade.”

Ah mundo insano… que avilta a vítima e exalta seu algoz!!

Que haja uma dimensão, um canto nesse vasto universo onde a alegria, o riso e a dignidade dessas milhares de crianças e jovens possam existir, se espalhar e seguir iluminando”.

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