“Foi só um tapinha. Nem doeu.” “Bati porque ela merecia apanhar.” “Bati. E daí? A mulher é minha. Se eu quiser, bato de novo.” Essas são algumas das frases ouvidas por quem “mete a colher” em situações de violência doméstica contra a mulher. Elas revelam características típicas dos agressores, como a ausência de senso de vida a dois ou em sociedade (a dor alheia não importa) e a autoatribuição de uma autoridade sobre a parceira. Daí para a violência é um pulo. Não é à toa que a cada hora e meia uma mulher é morta no Brasil, vítima de violência masculina. E quatro em cada dez mulheres assassinadas no mundo foram mortas por seus maridos ou namorados, revela um estudo da Organização Mundial de Saúde.
Esses traços de personalidade não fazem parte da natureza humana. São noções de conduta desenvolvidas de acordo com a formação, o ambiente cultural e social, a predisposição do indivíduo, entre outros fatores. E não são inevitáveis nem irreversíveis. Mas é preciso agir.
Uma das formas é a denúncia. Em vigor desde 2006, a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340, de 2006) faz que o Estado se meta nesse drama. Para a juíza Elaine Cristina Cavalcante, em entrevista ao programa Bom Para Todos, da TVT, essa a lei tem um diferencial: para que funcione, todos os atores do cenário têm de trabalhar de maneira articulada – sistema de segurança, de Justiça e políticas públicas que promovam redes de apoio.
A ONG Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, que há 30 anos atua em direitos das mulheres, trabalha com homens agressores. “Aqui eles vão refletir o que é ser homem na sociedade contemporânea e o que como solucionar situações de conflito sem violência”, ressalta o psicólogo Leandro Andrade. Pela casa já passaram 173 homens. Apenas três voltaram a cometer o mesmo crime de violência contra a mulher.
A Lei Maria da Penha já mandou e continua mandando muitos homens para a prisão. Um lugar, por mais que seja necessário para reprimir e punir quem comete qualquer crime, que está longe de promover um trabalho de educação. “Homens que passaram pelo sistema prisional chegam aqui precisando de outro tipo de atendimento. Mais terapêutico do que socioeducativo. Muitos são réus primários, e quando passam pelos presídios saem traumatizados”, afirma Andrade.
Missão: cidadania
Experiências como a recuperação de homens agressores e o passo a passo para encontrar caminhos para mudar essa triste realidade podem ser vistos no novo Bom Para Todos. Apresentado pela jornalista Maria Amélia Rocha, o programa é totalmente dedicado à prestação de serviços e mostra meios de transformar realidades sobre as quais costuma-se dizer que “não tem jeito”.
Para quase tudo tem, mas é preciso informação, saber a quem recorrer, atitudes das pessoas envolvidas, dos órgãos públicos. O programa traz sempre ao cidadão serviços e experiências que funcionam. E explica direitos e caminhos que o espectador muitas vezes desconhece.
O Bom para Todos pode ser visto às segundas-feiras às 19h30, no canal 2 da NET, no canal 46 UHF e também pelo portal http://tvt.org.br.