A iniciativa é de dois comediantes britânicos, que querem criar encontros comunitários sem necessidade da religião.
Cerca de 200 “fiéis” participaram no ultimo domingo (06/01) da primeira missa da Assembleia de Domingo, organização que se intitula “a primeira igreja ateia do Reino Unido”, no norte de Londres.
Nela, canções religiosas são substituídas por sucessos como “Don’t Look Back in Anger”, da banda pop Oasis. Entre outras características peculiares, o uso de alguns palavrões é largamente incentivado. As informações são dos jornais britânicos The Independent e The Islington Gazette.
Na verdade, a “igreja” é uma iniciativa criada por dois comediantes britânicos de stand-up Sanderson Jones e Pippa Evans, com a ajuda de outros atores e músicos, e pretende realizar reuniões mensais, sempre no primeiro domingo do mês.
Divulgação/The Nave
Antiga igreja do bairtro hoje é utilizada para uma série de eventos culturais, entre eles “a missa ateia”
O objetivo é, segundo os organizadores, uma chance de realizar shows, celebrar a vida e também uma chance de reunir ex-teístas, ateus e qualquer outra pessoa com um senso de comunidade para “transformar boas ideias em ações” e aumentar o senso de voluntarismo – apenas não coloca Deus no meio.
Os dois comediantes afirmam terem tido a ideia de criar a Assembleia após perceberem que concordam com alguns aspectos religiosos, embora não acreditam em Deus. “Seria uma pena se não aproveitássemos os aspectos positivos da religião, como o censo de comunidade, simplesmente por desacordos teológicos”, diz Jones.
As celebrações serão realizadas no bairro de Islington, na antiga e desativada igreja de São Paulo, local atualmente dedicado a eventos artísticos e culturais. Os organizadores afirmam que uma das razões para a escolha da casa é que um terço da população do bairro é ateia.
Além de shows de música e humor, a Assembleia também promove debates temáticos, conversas e leituras, ligados ou não ao ateísmo. No primeiro encontro, o tema inicial foi “começo”. No próximo, programado para 3 de fevereiro, será “maravilha”.
Reprodução – Logo da Assembleia
Também houve espaço para críticas sérias à religião, como depoimentos realizados por um homem de origem judaica e uma mulher de família católica.
No futuro, a Assembleia também pretende abrir serviços de casamentos e funerais para pessoas que não acreditam em Deus.
“É metade uma ‘igreja’ ateísta e metade um show. Teremos um locutor que vai tratar de um tema a cada mês, mas também teremos sempre uma banda caseira incrível. (…) Mas nossa prioridade será ajudar as pessoas a descobrirem e tentarem manter suas resoluções de ano novo”, disse Jones, antes da realização da “missa”.
“Se a igreja se tornar um lugar útil para os outros, será uma boa ideia. Nós só queremos que as pessoas se sintam encorajadas e empolgadas quando saírem”, diz Jones, que garante que ninguém vai aderir a um culto de verdade, nem haverá curas ou massagens milagrosas.
Críticas
Jones admitiu, em sua conta no microblog Twitter, que sofreu críticas tanto de ateus quanto de religiosos. Além de acusarem que o único objetivo é atrair publicidade, o próprio conceito de “igreja ateia” foi atacado.
O fato de os encontros serem realizados em uma igreja desativada e seguirem o formato de uma missa tradicional também remete ao o risco da criação de uma nova religião de fato. Via Twitter, Jones nega essa possibilidade: “Caras, não estamos dizendo de modo algum que o ateísmo é uma religião. Estamos apenas tentando construir uma comunidade útil”.
Vizinho à “Assembleia”, o padre Saviour Grech, da Igreja de São Pedro e São Paulo, de orientação católica, questionou a iniciativa, e pediu prudência aos organizadores. “Como é possível ser ateu e pregar em uma Igreja? É evidente que há uma contradição aqui. Eles cantam em honra a quem? É importante debatermos mais com os ateus, mas que eles tentem estabelecer uma igreja como qualquer outra religião, é ir longe demais”.
No Reino Unido, há um declínio da religião registrado nos últimos dez anos. Em 2011, 15% da população, ou 7,7 milhões de britânicos se declararam sem religião ou crença, segundo o censo. Já em 2011, o percentual subiu para 25%, ou 14,1% de pessoas – quase o dobro.
Fonte: Ópera Mundi