“Raiz Forte” é novo lançamento de RAP, em Chapecó

O clip está disponível no canal do Youtube, "Kinta Records".

Texto: Jaine Fidler Rodrigues

No domingo (13), os cantores de rap Mano ET, Mano Pira, PP, 054, RDS e PKS lançaram seu primeiro clip musical juntos “Raiz Forte”. A produção musical é de Lord Ìcaro, com produção audiovisual Kinta Records.

Raiz Forte representa para os artistas, a essência do rap. Em geral, as letras carregam criticas sociais relacionadas às populações negras e periféricas. Assim como, à práticas do sistema político no país. A abordagem é característica do gênero que nasceu no Brasil a partir dos anos 1980. 

A iniciativa do trabalho parte do rapper, Cristian Alberto Breuer, também conhecido como “ET”. Segundo ele, a letra para ele já era muito significativa e representava um desabafo. Sendo que, a junção de todos para construção do trabalho foi bem natural. Eles se conheceram nas batalhas de rap. Mano Pira e Cristian são os mais antigos e os demais já são da nova geração. 

“Todos os participantes são pessoas muito verdadeiras na sua essência, na sua parte da música, se você for conhecer cada um deles, vai ver que o que estão cantando é uma verdade, não é ilusório”. 

Cada participante escreveu a sua parte, como forma de desabafo e expressão de seus sentimentos. Por isto, é caracterizado como rap de protesto. Cristian explica que se buscou no trabalho manter a essência do Rap, da cultura hip-hop, pois, com o surgimento de novas vertentes, o rap que faz a indicação de problemas sociais e indignações com o sistema, está se perdendo aos poucos. 

“Antigamente a cena rap era muito violenta, muito agressiva, mas hoje já não existe mais isso, já passou. Mas, o sistema continua o mesmo, a opressão continua a mesma, o racismo continua o mesmo, preconceito continua o mesmo, só um pouco mais mascarado”.

Ao considerar o contexto estadual, o rapper também reflete como o percentual de pessoas brancas em Santa Catarina e a existência de núcleos fascistas e neonazistas afeta a luta contra o racismo. Sendo homem branco, já foi indagado por defender a causa. “Você ali tentar abrir a mente daquela pessoa, olha para você e fala assim: mas você é igual eu, você é branco, como é que você consegue pensar assim?”

Arquivo pessoal

Cristian sente muito orgulho em fazer parte desta cultura negra. “Eu consegui adaptar isso na minha vida para usar a cultura como um protesto, também para contribuir  da minha forma, ajudar”.

Manter a essência do rap, em Chapecó, também se refere aos vários jovens surgindo conectados ao estilo. Quando o movimento hip-hop iniciou em Chapecó, nos anos 2000, a luta era intensa, diante de qualquer problema social. “A gente assumia todo tipo de luta, na linha de frente, o rap tem voz ativa para isto”, afirma. Além disto, para ele é importante salientar que escrever uma letra de rap não é simples.

“Para você escrever uma letra você tem que estudar. Tem que ler, você precisa saber cada linha, cada palavra que você escreve, você tem que saber o que você tá botando, porque são muitas pessoas que vão escutar ou mesmo que seja poucas pessoas, uma pessoa escutando a tua letra já é alguém se identificando com ela, é alguém que entendeu”.

Outro fator abordado na letra, se refere a existência de humilhações em batalhas de rap para conseguir ganhar. ET, menciona a letra do “PKS” onde ele fala que união não é somente aperto de mão. Para ele, tem que ser uma luta coletiva.

“O rap é uma luta social, é uma transformação social, ele é um resgate social das pessoas que estão em situação e decadência intelectual, o rapper ele puxa essas pessoas escutando as letras, as pessoas conseguem se conscientizar, se interessar pela leitura e pela intelecto”.

A cultura do RAP no Brasil

O Rap chegou ao Brasil no final dos anos 1980, com grupos de periferia que se reuniam na Galeria 24 de maio e na estação São Bento do metrô de São Paulo onde “JR Blaw”, padrinho do grupo “Rota de Colisão” que nasce em 1990, uns dos primeiros a defender o Hip Hop na Praça São Bento, lugar onde o movimento punk começava a surgir. Nesta época, as pessoas não aceitavam o rap, pois consideravam este estilo musical como sendo algo violento e tipicamente de periferia. Reflexos desta dificuldade de aceitar o que nasce nas periferias permanece, infelizmente. É comum vermos julgamentos mal-intencionados à artistas do meio rapper.

Desde o seu surgimento, são referências na área Racionais MC’s,  Planet Hemp, liderado por Marcelo D2, Gabriel o Pensador,  Facção Central, Projota e Emicida. Atualmente, a mídia tradicional pouco abre espaço para rapper’s. No entanto, os movimentos para fortalecer o rap resiste.

“Foi interessante, pegamos a velha escola e a nova escola do rap que de Chapecó e região, para mostrar também que aqui a cultura não é só elitista, mas tem cultura que gera consciência”, finaliza, Cristian Breuer.
Divulgação

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