Rádio Campeche é comunidade

Por Elaine Tavares.

A Rádio Campeche não é uma rádio qualquer, nascida para ser mais um empreendimento comunicacional. Ela é fruto de sangue, suor e trabalho de uma comunidade viva. Quando nos anos 80 a luta pelo Plano Diretor começava, reunindo centenas de pessoas na construção de uma proposta de vida para o bairro, os moradores já pensavam uma forma eficaz de se comunicar. E, ao longo dos anos, acabaram criando um jornal, o “Fala Campeche” , que cumpriu de maneira muito positiva as demandas da comunicação. Produzido de forma coletiva e colaborativa, o jornal circulava de casa em casa, nas padarias, nas vendas, e foi alavancando o debate que acontecia nas reuniões comunitárias. O Campeche foi pioneiro nesse processo de Plano Diretor.

Quando os anos 90 apontaram no horizonte, o bairro já tinha um desenho de plano e com ele disputava as propostas vindas da prefeitura. Mas, nada acontecia no âmbito do poder público. E foi no decorrer dessa década que os diversos grupos de luta que davam batalha no Campeche decidiram que era preciso avançar na comunicação. Aí nasceu a ideia de ter uma rádio comunitária. E, do esforço de um pequeno grupo de voluntários, tendo a frente o jornalista Lucio Haeser, ela foi tomando corpo até que se fez.

Mas, o importante nesse processo foi que ela nasceu das entranhas da luta. Uma necessidade comunitária diante domínio completo dos meios de comunicação por parte de uma única empresa: a RBS. Sem espaço para dizer sua palavra ou contar da profunda organização que vibrava no interior do bairro, ter uma rádio que pudesse chegar na casa de toda a gente era fundamental. Assim, a primeira transmissão, em, 07 de novembro de 1998, com a emissora já totalmente regularizada foi um marco na vida do Campeche. Nascia a rádio, espaço e voz das gentes em luta.

Assim, com algumas horas de programação, contendo músicas e notícias, a rádio foi caminhando, criando vias pelo ar, chegando em todo o bairro. Foi uma revolução. No ano de 2004 a Rádio Campeche já conseguia estar no ar por 24 horas sem interrupção. Tinha então uma nova sede, construída pelas mãos dos associados, no terreno do Sinergia, cedido em comodato. Concretamente, a Rádio Comunitária Campeche foi feita, tanto no plano físico como no éter, pela gente em luta. Sempre foi o braço comunicacional das batalhas concretas que se travavam pela cidade.

Em  2006 ela teve seu primeiro programa de notícias ao vivo, o Campo de Peixe, que segue firme até hoje, repercutindo a vida da cidade e do país com outra informação. Depois, outros programadores foram chegando e novos programas passaram a  compor a grade. E, nessa primeira década do ano 2000 a rádio cumpriu importante papel aglutinador da comunidade em mais uma etapa da luta pelo Plano Diretor, agora chamado de participativo pelo poder público.  Era pelo microfone da comunitária que todas as vozes do bairro e da luta por uma cidade melhor se expressavam.

Foi na Comunitária que a comunidade viva do Campeche discutiu e defendeu o patrimônio imaterial do bairro que era o Bar do Chico. Pelos microfones da rádio muitas vezes a comunidade foi chamada para impedir a derrubada do bar, e naquelas horas sempre atendeu ao pedido de ajuda. A importância da Rádio foi tanta que ela até virou personagem do filme de Todd Southgate, “Desculpe pelo transtorno”, que conta a história da luta pelo bar do Chico.

Em 2014 o Plano Diretor foi aprovado no apagar das luzes, no final do ano, e de forma totalmente ilegal. A Comunitária seguiu denunciando e abrindo espaço para as vozes populares. Novas lutas foram travadas em 2015, sempre  com os microfones da rádio abertos para o debate dos temas de interesse da cidade: o Plano Diretor, a Ponta do Coral, o Parque do Pântano do Sul, as lutas sindicais, o crescimento do fascismo, a arte, a cultura.

Agora, novas lutas pedem o fortalecimento desse instrumento comunitário de comunicação. A Rádio precisa da presença e do apoio da comunidade viva do Campeche. É preciso fortalecer as associações, buscar novos apoios. No comércio sempre é difícil o entendimento de que a rádio não é uma espaço de propaganda. Por isso, os apoios são poucos. Essa é uma Rádio Comunitária com objetivo claro: defender as lutas do bairro e da cidade. E para quem vive em busca do lucro isso não parece muito atrativo.

Assim, a musculatura da Comunitária só se fortalece com a compreensão política de que esse é um espaço de comunicação crítica. E esse entendimento só pode ter quem luta por uma cidade boa de viver. Então, a rádio pede o apoio de cada um e cada uma que esteja engajada nessa mesma vibração. Precisa de novos sócios, gente que venha aportar a sua anuidade (50 reais) e também de colaboradores de outros bairros, que possam contribuir com qualquer quantia para manter viva a rádio. Sempre tendo em mente de que esse espaço é um espaço de luta política e comunicacional.

Os que quiserem colaborar podem depositar na conta: Caixa Econômica Federal, agência 3524, Operação 013, conta 8387-8. Qualquer valor é bem vindo. Depois, mande seu nome para o correio: [email protected]

Já quem mora no sul da ilha pode ser sócio. É só vir na Rádio e se associar, ou encaminhar pedido por correio eletrônico.

A Rádio Comunitária Campeche é a voz do sul da ilha. Apoie e divulgue.

www.radiocampeche.com.br

Rádio Campeche

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.