Por Claudia Weinman.
Quero falar do interior internacionalista, do trabalhador da enxada, da mulher da faxina, do jovem que salvou a vida, da fé que organiza o povo, do coração em resistência, da flor, arado, das realidades censuradas e também defendidas. Pensei em falar, nesse texto de pouca rima, da mãe que voltava tarde, do pai que plantava o milho, dos filhos que varriam o terreiro, da vassoura de Guanxuma ou melhor, “guanchumba”, do balanço alto, da rede rasgadinha. Falar e escrever do sábado de lavar escada, de lustrar a casa limpa, de rezar à santinha, um pedido de afago. De cantar a fé na Igrejinha, de viver o social nos comentários, nas preces ainda mal escritas.
Falar de todo tempo de aprender, da vida do trabalhador. Da mulher que não foi para a rua, mas da que foi e ficou. Das que não voltaram, das que ocuparam e fixaram em nossas mentes tantos sonhos e esperança. Quero falar desses trabalhadores do mercado, que estão no caixa agora, ou limpando estoque.
Disseram: É dia do trabalho! Eu respondi: Não senhor!
Internacionalista, disseram: não pode ser do interior. Mentira, respondi, o povo se organiza e vai além do computador.
A semana de organizar para o dia, sempre foi de festejo. Sair cedo e voltar tarde, comer o pão, a bolacha, o salame. Olhar os cachorros, brincar com os gatos. Daí vem um áudio no WhatsApp, o porco grita, não se escuta nada, mas essa é a vida de quem trabalha. Se busca o queijo na vizinha, amplia a mesa, precisa de um chá, talvez um boldo para refrescar. A luta é alegria, é dureza, perigo, tem risco, tristeza, é tudo isso, mas é principalmente vida.
Frigorífico, tijolo, casa, sala de aula. Limpeza, venda, música, escrita, trabalho. Mãe de filhos, cuidadoras várias. Comunista precisa querer descanso, tempo livre, prazer, cuidado. Então, das minhas mãos para quem trabalha, para quem respeita essa fé revolucionária, de tantas vidas e realidades, feliz nosso dia, mesmo em triste cenário. Sinto pelas 402 mil vidas, pelo que causa dor, sinto tanto que escrevo costurando linhas, em esforço, por favor.
Não vamos perder a linha, nem o que nos trouxe até aqui. Esse é o nosso dia em luta multiplicada, todos os dias, contra o genocida, pela vida que nos pertence, pelo amor que nos faz caminhar, pela solidariedade que não é de mentira, pelo risco que estamos correndo, pelas denúncias que fazemos, pelas escritas que desenham desejos de paz.
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Claudia Weinman é jornalista, vice-presidenta da Cooperativa Comunicacional Sul. Militante do coletivo da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR).
*A opinião do autor/a não é necessariamente de Desacato.