O diretor palestino Ameen Nayfeh expressa orgulho e satisfação ao levar às telas de cinema e televisão seu trauma particular, quando teve de atravessar um posto de controle israelense para chegar ao leito de morte de seu avô, na Cisjordânia ocupada.
Ainda assim, jamais esperava que seu curta-metragem alcançasse tamanha audiência.
Nesta quinta-feira (14), tudo mudou para Nayfeh, quando o Netflix lançou enfim uma coleção de filmes palestinos — a primeira em qualquer serviço de streaming —, incluindo seu premiado curta-metragem “The Crossing” (“A Travessia”, em tradução livre).
“É por isso que fazemos cinema, porque queremos que nossas histórias viajem o mundo, queremos que as pessoas saibam sobre nós”, declarou Nayfeh, de 33 anos, à agência Reuters.
“Agora, quando você pesquisar Palestina no Netflix, terá muitos títulos diferentes para assistir”, acrescentou o cineasta. “Antes, ao buscar Palestina, teria apenas títulos israelenses”.
A nova antologia do Netflix — denominada “Palestinian Stories” (“Histórias Palestinas”) — abrange 32 filmes premiados dirigidos por palestinos ou que contam histórias da população ocupada, confirmou a empresa à imprensa, na última terça-feira (12).
“A diversificação de nosso conteúdo está junto de meu coração, ao passo que trabalhamos para nos tornar a casa do cinema árabe”, declarou Nuha El-Tayeb, porta-voz do Netflix.
Muitos dos filmes contam histórias da vida palestina sob a ocupação israelense na Cisjordânia e Faixa de Gaza, territórios capturados pelas forças coloniais, em 1967, sobre os quais o povo nativo busca instituir um estado próprio e independente.
Israel mantêm postos de controle militares na Cisjordânia ocupada, sob pretexto de segurança. Os palestinos denunciam restrições severas sobre a mobilidade em suas próprias terras.
Antes mesmo dos cineastas, músicos palestinos evidenciaram as virtudes do streaming para alcançar um público global, após a rede Spotify lançar um canal específico para Oriente Médio e Norte da África, em meados de 2018.
A nova coleção do Netflix estará disponível a todos os consumidores, reiterou a empresa.
Huda Al-Imam, atriz do filme “Ave Maria”, indicado ao Oscar, observou que a iniciativa do Netflix deverá expandir o alcance das narrativas palestinas.
“Graças ao Netflix, histórias e mesmo a vida dos palestinos, com toda sua beleza e agonia, poderão chegar agora a todo o mundo”, destacou Al-Imam.