Por James Ratiere, para Desacato. info.
Viva a senzala!
E o velho preto olha com dor quando lembra dos chicotes no lombo. Tanto tempo colhendo algodão, café moendo açúcar. Moído na verdade era seu coração que precisava esconder a fé nos deuses de África.
O velho preto via as mulheres lamentando-se na labuta “Olha meu cativeiro, meu cativeiro meu cativeirar” diziam com o coração.
Ele sabia, sinhozinho tinha emprenhado a mucama novamente. Outro preto nasceria, e o velho veria mais um dos seus virar as costas para a origem.
“Pretos ainda pensam nesse tempo, vivem na senzala, sempre quando tem chance voltam pra lá” dizem eles.
Mas quem bateu no preto? Quem matou? Quem proibiu o preto de estudar? Quem soltou o preto nas ruas, sem abrigo, sem facilidades para plantar como os brancos europeus que chegaram para “embranquecer a sociedade”?
Agora é moda querer voltar pra colônia, brancos tem saudade de ser senhores, olhar para Pretos e fazer chacota de Black face. E não saiu de moda matar preto a tiros ou asfixiado na porta de um mercado.
E o velho preto coça a barba branca pensando em tudo aquilo que tá engasgado na garganta. Jovens negros estão se matando pela solidão e lideram os índices de suicídio. Violência policial é contra periféricos pretos, matando-os como execução. Pretos são acusados de crimes sem nenhuma prova concreta. E o velho olha pro chão, sopra a terra, reza pra Oxalá dar paciência.
Nunca curaremos o racismo estrutural, enquanto brancos colocarem Pretos como inferiores e continuarem achando que Brasil é Europa enquanto brancos não se colocarem como culpados por seus ancestrais e se retratarem pelo que fizeram aos pretos. Nosso pais é o único que não que enxergar suas vísceras podres, enquanto isso, vamos morrendo. A colônia já passou, mas ainda está velada (ou agora escancarada) nos atos da sociedade brasileira.