Por Carmen Susana Tornquist, para Desacato.info [1]
Os livros dizem que foram os generais os marechais, os prefeitos
Que vieram doutores e arquitetos, projetaram ruas, as vitrines e pontes
por acaso os governantes carregaram pedras, ergueram paredes,
Semearam roças?
Há registros de arquitetos que pegaram pás, estenderam fios,
Carregaram peso?
Quem constrói a cidade, hoje, ao redor das ondas, lhes fazendo sombras?
Por acaso os engenheiros viraram noites alinharam máquinas, inspiraram piche, consertaram postes?
Quem recuperou as luzes sem olhar pra baixo por três dia e por quatro noites?
Os publicitários , os gerentes de marketing, os colarinhos brancos?
Acaso a cidade se ergueu em meio a matas e mangues sem o labor das gentes,?
Acaso os playboys e as socialites lavam as vidraças, separam seus lixos, tapam os esgotos:?
Quem copia as chaves, quem cultiva as ostras, quem troca os pneus, quem instala splits, quem entrega as pizzas?
(Não estão nas fotos, não constam nos livros, não recebem prêmios)
Acaso os chefes e os chapas-brancas dormem no latão, pulam refeições, perdem suas horas, vivem de aluguel?
Quem constrói a Floripa, quem lhe enche os tanques, serve seus sushis, entorna, nos copos, as champagnes?
Bernadetes, Bete, Graças, Dores-
Cozinham varrem lavam cuidam fecham caixas
Beneditas, Dudas, e também Marildas
E mais e mais vigilantes
E do alto, e longe, distantes
Folgam, gozam Cesares e Colombos
Sua glória e grana, as supostas famas, quem as alimenta?
Cada página, uma vitória
Cada retrato, outra mentira
Quem mantém acesa a vibrante Ilha , quanto a noite avança?
Tantas respostas
Quantas perguntas!
[1] Livre adaptação do poema de Bertold Brecht “ Perguntas de um trabalhador que lê.”
Foto: Reprodução.