Por Leandro Monerato.
Ontem, dia 20/8, ocorreram manifestações em 23 capitais pelo país, além de outras cidades menores. Organizadas por centrais sindicais como CUT e CTB, movimentos sociais como MST e MTST, além de partidos de esquerda como PT, PCdoB, PCO, PCR, parte do Psol, contaram também com participação de anarquistas e antifascistas.
Em São Paulo, reuniu-se o maior número de manifestantes (cerca de 90 mil pessoas – 70 mil reunidas no Largo da Batata que se encontraram aos 20 mil que lhes esperavam na Avenida Paulista). Grandes manifestações ocorreram também no Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Maceió, Curitiba.
Houve claramente uma evolução política da esquerda no sentido de combater explicitamente, com uma definição política maior, a extrema-direita que foi às ruas no dia 16. O que ressoaram os manifestantes vermelhos em todo país foi “não vai ter golpe”.
Além da luta contra o golpe, outras bandeiras apareceram em vários lugares como: “que os ricos paguem pela crise”, “não ao ajuste fiscal de Levy”, “não à redução da maioridade penal”, “Fora Cunha”, “Petrobras 100% estatal”. Além de respostas diretas à defesa da ditadura e dos assassinatos políticos durante o regime militar (como pode-se ver nas fotos).
O clima da manifestação era totalmente diverso em relação ao dia 16. A composição social ainda muito mais destoante. Grande parcela de negros, de trabalhadores produtivos, braçais. Uma grande parcela jovem. Enquanto no dia 16 havia grande parcela de cinquentões saudosistas do regime militar.
O balanço que pode ser feito após as duas manifestações é que entramos novamente num momento de impasse. A situação não está de modo algum definida. Nem para o golpe, nem tampouco o golpe foi derrotado.
De um lado, com todo o investimento milionário de capitalistas internacionais e nacionais, com a grande campanha realizada sistematicamente pela imprensa burguesa, toda a pressão política utilizando a Polícia Federal do Paraná e o judiciário, as últimas manifestações da extrema-direita diminuíram em relação as anteriores. Não conseguiram ainda a adesão popular para seus planos golpistas, restringindo assim a participação para uma pequena-burguesia, branca, bem remunerada (como mostram pesquisas).
De outro lado, a esquerda realizou grandes manifestações, mesmo sem contar com toda a estrutura disponível ao outro lado. Entretanto, a esquerda possui instrumentos poderosos que não foram ainda plenamente utilizados. Existe muito potencial ainda inexplorado. As organizações sindicais, as centrais e demais sindicatos, os movimentos sociais, a UNE, os partidos etc. não mobilizaram toda a força que de fato possuem. Mostrando ainda relativa vacilação. Um grande passo foi dado ontem para barrar a ofensiva golpista, mas não conseguiu-se ainda reverter a situação, pesar a balança da luta política para a esquerda.
Eles utilizaram todo seu potencial e não conseguiram o que queriam. Nós, não conseguimos tudo o que queríamos, mas também não utilizamos todos os recursos disponíveis. É uma vitória parcial, importante, mas não definitiva.
A extrema-direita voltará às ruas em 7 de setembro. Os golpistas estão nesse momento num impasse, mas de modo algum desistiram de seus planos. O capital financeiro que gasta milhões nessas manifestações tem objetivos muito definidos para o país. Querem privatizar tudo o que ainda possuímos. Querem esmagar a resistência operária diante a crise econômica mundial que se aprofunda, e assim necessitam colocar um governo muito mais duro contra os trabalhadores do que tem sido o PT. E continuarão lutando pelos seus objetivos.
Nós, por nosso lado, temos também nossos interesses econômicos e políticos. E devemos continuar e intensificar nossa mobilização, nossa campanha política. Ontem, vimos que é possível. E é possível muito mais, e será necessário muito mais para colocar essa extrema-direita novamente nas sombras de onde não deviam ter saído.
Foi-se uma batalha, mas a guerra continua.
Fonte: O Homem Livre.