Por Claudia Weinman, para Desacato. info.
“Vida em primeiro lugar. Desigualdade gera violência: Basta de privilégios”. Essa frase caracteriza o tema e o lema do 24º grito dos/as excluídos/as que é uma manifestação popular e reúne diversas organizações no dia 07 de setembro para denunciar os golpes contra a classe trabalhadora e também a falsa independência.
Falar em falsa independência é fazer referência a um Brasil /produto de diferentes acordos entre elites para manutenção de uma estrutura colonial, agrária, de inalteração de privilégios, por isso da importância desse tema do grito, onde se coloca “Basta de privilégios” a essa nova/velha estrutura do capital.
Bem, em São Miguel do Oeste/SC, interior do estado catarinense, as organizações sempre se fizeram resistência. Mais do que isso, em movimento, denunciam há mais de 20 anos todos os ataques contra a classe trabalhadora explorada. Desde a luta por moradia, pelo direito das mulheres, contra o extermínio das juventudes pobres e negras das periferias, pela educação do e no campo, pela reforma agrária, direito à terra, em favor das demarcações do território indígena, pela universidade pública e popular, pela vida, enfim, são muitas pautas que se somam em um único ato de rua.
No ano passado, enquanto as organizações ocuparam o desfile tradicional do município, no mesmo lugar onde as escolas e entidades desfilam, o prefeito já havia falado que se houvesse qualquer manifestação fora do tradicional ele vetaria, no ano seguinte.
“Homem de uma palavra só”, se fez cumprir. Nesse 07 de setembro só os militares desfilarão para a sociedade. Isso lembra algo? Já faz um tempo que essas “autoridades” buscam boicotar as organizações e isso não tem nada de novo, afinal, vivemos a luta de classes, não se espera que o prefeito ou alguém sinta-se confortável com o povo que levanta bandeira e faz gritos de ordem.
Simbolismo
Nessa semana que passou, conversei com Maria Carmen Vieiro do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Urbanas (MMTU) e também Presidenta da Rádio Cultura Comunitária de São Miguel do Oeste. Ela participa há mais de 20 anos do ato de rua no 07 de setembro. “Lembro que a primeira denúncia que fizemos foi contra os transgênicos, o uso de agrotóxicos e desde então sempre colocamos as pautas que tem relação com a luta do povo, com os/as excluídos/as e nunca vamos deixar de manifestar nossas indignações”, disse no momento.
Outra pessoa que mencionou a importância especialmente do tema do grito desse ano foi o Padre Francisco Buehrmann, da Paróquia São Miguel Arcanjo. Segundo ele: “Por meio do Grito dos/as Excluídos/as deseja-se fazer ouvir a voz do povo excluído que denuncia neste ano a desigualdade social como a que vivemos, compreendemos que nossos país ainda sofre com a fome, a dor, o analfabetismo, o desemprego, a exploração no trabalho, a redução dos direitos, a alta taxa de homicídios que entre 2001 e 2015 tirou a vida de mais de 700 mil pessoas em nosso país, a exclusão que são algumas das inúmeras faces da violência, fruto da desigualdade social”.
Ele ainda completou salientando que a Igreja do povo deve estar com o povo. “Não tenhamos medo de sermos os protagonistas deste movimento ecumênico, que conta com a força de todos/as nós, em prol da luta pela vida, pelos direitos e democracia, elementos fundamentais para a construção de um mundo melhor. Além de denunciarmos a estrutura opressiva e excludente da sociedade e do sistema neoliberal que nega a vida”.
Que venha o 07 de setembro…
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Claudia Weinman é jornalista, diretora regional da Cooperativa Comunicacional Sul no Extremo Oeste de Santa Catarina. Militante do coletivo da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR).