Começa neste sábado, 12 de outubro, a circulação da Exposição “Manifesto Invisível”, desenvolvida pela artista visual Manon Alves. O trabalho, composto por cinco máscaras criadas a partir da técnica de papietagem, evidencia uma discussão necessária sobre a intolerância religiosa e a valorização das manifestações populares e afro-brasileiras.
A exposição investiga a expressividade dos arquétipos nos ritos da umbanda, uma religião de matriz africana que sofre altos índices de preconceito e intolerância no Brasil. Dados da Secretaria de Direitos Humanos revelam que as denúncias de intolerância religiosa no país aumentaram significativamente nos últimos anos, e as religiões de origem africana, como a umbanda e o candomblé, estão entre as mais afetadas, sendo alvo de ataques físicos e verbais, além de perseguições aos praticantes. Segundo dados registrados pelo Disque 100, há um aumento alarmante nos registros de ataques contra essas religiões. Em 2022, foram reportados 1.201 casos de intolerância religiosa, e somente no primeiro semestre de 2023, o número já havia alcançado 1.940 denúncias. Religiões de matriz africana continuam sendo as mais afetadas por esse tipo de violência.
Segundo Manon Alves, a proposta do “Manifesto Invisível” é ir além da estética artística: “A intenção nesse processo criativo foi valorizar a riqueza imagética presente nas religiões brasileiras de matriz africana e dar voz àqueles que, muitas vezes, são silenciados”, explica. Ao transpor a expressividade dos ritos dos terreiros para máscaras tridimensionais, a artista busca não apenas uma representação artística, mas também uma ferramenta de diálogo e conscientização social.
A exposição destaca a importância das religiões afro-brasileiras como parte fundamental da cultura popular do país, ao mesmo tempo em que propõe uma reflexão sobre as consequências da intolerância. “A arte tem um papel fundamental na desconstrução de preconceitos, pois ela nos convida a olhar para o outro com empatia e compreensão. Neste caso, buscamos abrir um espaço para que as manifestações culturais e religiosas marginalizadas possam ser vistas e valorizadas”, afirma a artista.
O projeto, contemplado pelo Edital D+ pela Lei Paulo Gustavo, através da Fundação Catarinense de Cultura, foi desenvolvido ao longo de 2024 e mergulha na observação das performances dos médiuns da umbanda e na corporeidade dos guias presentes nos ritos. As cinco máscaras criadas representam entidades amigas tradicionais da umbanda, como Preto Velho, Caboclo, Cigana, Erê e Exu Mirim, figuras que carregam em suas representações valores como sabedoria, força, liberdade, pureza e alegria.
A circulação da exposição terá início no Bairro Santo Antônio e passará por outras três localidades: São Cristóvão, Linha Sarapião e Casa da Árvore. A entrada é gratuita.
Além de um trabalho artístico, “Manifesto Invisível” é um convite à reflexão. “Nosso intuito, além de desenvolver a prática e a pesquisa artística, é abrir espaço para a diversidade e evidenciar manifestações que estão à margem da sociedade. Queremos convidar as pessoas à informação, um elemento fundamental para desconstruir e quebrar o preconceito instituído”, finaliza Manon Alves.
Todo o processo de produção de uma obra e ainda o passo a passo para fazer uma máscara em papel machê está disponível no Youtube em um vídeo tutorial no canal da artista.
Acompanhe o trajeto
Exposição Manifesto Invisível
12/10 – sábado
Local: Terreiro Ilé Asé Aféfé Toyá
Rua Espírito Santo, 867D
Bairro Santo Antônio
14/10 – sábado
Local: Terreiro Ile Ase Oya Funan
Rua Adolfo Konder, 523
Bairro São Cristóvão
26/10 – sábado
Local: Terreiro Ilé Alaketú Iroko Asé
Linha Sarapião
Informações @irokoase
27/10 – domingo
Local: Casa da Árvore – espaço cultural independente
Linha Barra do Rio dos Índios
Informações @a.casa.da.arvore