“E não creais que aqueles que sucumbiram pela causa de Allah [Deus] estejam mortos; ao contrário, vivem, agraciados, ao lado do seu Senhor.” (Alcorão 3:169)
Os feitos da Resistência Palestina desde 07 de outubro vêm surpreendendo “Israel” e o mundo pelos avanços tecnológicos militares das forças da Resistência. Seus combatentes vêm mostrando um elevado espírito de coragem, resiliência e de disposição ao martírio. Estes conceitos são indissociáveis na mente e ação dos combatentes da resistência, onde quer que ela ocorra.
Neste 3 de janeiro somos chamados a refletir sobre estes conceitos e no papel que exercem na luta contra o terrorismo, contra as injustiças e pelo respeito a liberdade e a soberania dos povos, que neste momento se encaixam perfeitamente na realidade dos combates na Faixa de Gaza que estão provocando a derrota das forças de ocupação.
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Foi nessa data que, em 2020, o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, ordenou o ataque terrorista que martirizou o comandante da Força Al Quds da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRGC), General Qasem Soleimani, aos 63 anos, e o comandante das Forças de Mobilização Popular iraquiana, Abu Mahdi Al-Muhandis, aos 66 anos, além de outras pessoas de sua comitiva.
Os EUA alegaram falsamente que o assassinato de Soleimani, estava relacionado ao seu apoio às manifestações que haviam ocorrido naquele mês em frente à embaixada norte-americana em Bagdá e a falsa alegação de invasão da Embaixada (que não ocorreu), que teria resultado em morte e ferimento de cidadãos americanos e iraquianos.
Os motivos são bem outros e estão relacionados ao papel proeminente de Soleimani na derrota dos grupos terroristas patrocinados pelos Estados Unidos e “Israel” no Oriente Médio e na perda dos EUA na condição de únicos players da região, bem como ao aumento do protagonismo do Irã na articulação antiterrorista.
O assassinato arbitrário do general Soleimani e dos seus acompanhantes fora de uma situação de guerra e em território estrangeiro, mais do que uma violação da soberania iraquiana, foi um ato explícito de terrorismo de Estado e uma violação das convenções e do Direito Internacional, um ato no qual os EUA e o seu ex-presidente Donald Trump são diretamente responsáveis.
O ódio dos sionistas dos EUA e “Israel” e outras máfias associadas, era também em decorrência das ações estratégicas adotadas por Soleimani, que contribuíram decisivamente para cortar o fluxo de armas dos EUA, “Israel” e seus sócios do Golfo para o “Estado Islâmico” e outros grupos terroristas que atuam no Oriente Médio.
Os EUA, como maior fabricante de armas do mundo, precisam da atuação dos grupos terroristas para o sucesso dos seus negócios no tráfico internacional de armas. As seguidas derrotas dos terroristas do “Estado islâmico” na Síria e no Iraque, comandadas por Soleiman e Al-Muhandis, influenciaram na queda nos negócios de armas dos EUA e “Israel”, que decidiram assassinar o General, que era o símbolo da resistência contra os bandos terroristas.
Aquela ação covarde e traiçoeira do assassinato arbitrário do general Soleimani, foi mais uma tentativa inútil dos EUA e “Israel” para frear o “eixo da resistência” e envolver diretamente o Irã na escalda de violência regional.
Soleiman e Al-Muhandis não foram os únicos nem serão os últimos. Recentemente os terroristas de “Israel” assassinaram em Damasco, o destacado oficial do Corpo da Guarda Revolucionária do Irã, Seyyed Razi Mousavi, que servia como conselheiro militar na Síria. Neste início de 2024, os sionistas perpetraram mais um covarde e traiçoeiro atentado contra a Palestina em território libanês, assassinando o Vice-Chefe do Birô Político do Hamas, Sheikh Saleh Al-Arouri, e vários outros dirigentes do movimento palestino.
EUA e “Israel” são useiros de assassinatos seletivos como estes, que refletem o espírito criminoso que domina a estrutura do Estado norte-americano e de “Israel”. As ilegalidades dos EUA constituem cobertura e incentivo para os crimes cometidos pela ocupação israelense contra o povo palestino nos territórios ocupados e no exterior.
Estas duas forças demoníacas não perdoam os dirigentes da resistência, como o General Soleiman, por seu papel relevante na vitoriosa estratégia do Hezbollah que expulsou as tropas “bem treinadas” de “Israel” de maneira humilhante do Líbano em 2006. Ele deu importante estímulo e suporte ao levante dos Houthis do Iêmen contra o regime saudita. Teve um papel central na derrota do “Estado Islâmico” na Síria, na criação, no treinamento e nas ações das forças iraquianas de Al-Hashd Al-Sha’abi, dirigidas por Al-Muhandis, responsáveis pelo colapso dos grupos terroristas na Síria e no Iraque.
O apoio às forças da resistência palestina sempre foram uma das preocupações centrais de Soleimani, que esteve em Gaza para encontros com os dirigentes das organizações da resistência palestina. O apoio iraniano à Gaza se deu por interferência direta do General Soleimani perante a liderança iraniana. Foi por seu intermédio que o Irã ajudou a equipar a resistência, que estava de mãos vazias, permitindo que enfrentasse a petulância israelense em novas condições militares e o uso de mísseis de maior alcance.
A importância de Soleimani no enfrentamento ao terrorismo não era apenas militar. Ele desempenhou relevante papel político, como quando, em 2015, convenceu a Rússia a entrar, de forma mais efetiva, na guerra da Síria, na aliança trilateral entre Rússia, China e Irã para enfrentar os bandos terroristas no Oriente Médio.
Durante os funerais de Soleimani em Teerã, o Imam Ali Khamenei, Líder Supremo da Revolução Islâmica, declarou que “O sapato de Soleimani vale mais do que a cabeça de Trump”. O martírio de Soleimani foi um sacrifício pela causa mais importante da humanidade atualmente, que é a justa luta para libertar a Palestina da ocupação colonial israelense, com o foco em recuperar as terras árabes e palestinas e tirar a sagrada mesquita de Al-Aqsa do cerco e das tentativas de destruição, por parte do estado de supremacia judaica que se apossou da Palestina desde 1948.
O sangue e o legado dos mártires, seus exemplos de abnegação e de compromisso com a justiça, a paz e a soberania, serão sempre lembrados e honrados por todas as pessoas que almejam um mundo de paz e de justiça.
Sayid Marcos Tenório é historiador, especialista em Relações Internacionais e vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal). Autor do livro Palestina: do mito da terra prometida à terra da resistência (Anita Garibaldi/Ibraspal). Twitter/X: @soupalestina
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