Qasem Soleimani, herói e mártir antiterrorismo. Por Sayid Marcos Tenório.

Por Sayid Marcos Tenório.

O dia 3 de janeiro marca uma data que nos convida, por um lado, a refletir sobre a luta contra o terrorismo e, por outro, a continuar lutando por justiça, liberdade e soberania. Foi nessa data em 2020, que uma ordem direta do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, se concretizou num ataque terrorista que martirizou o comandante da Força Al Quds da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRGC), General Qasem Soleimani, aos 63 anos, o comandante das Forças de Mobilização Popular iraquiana, Abu Mahdi Al-Muhandis, aos 66 anos, além de outras pessoas de sua comitiva.

Deus, Louvado Seja, diz no Alcorão Sagrado que poderão acontecer duas coisas sublimes na vida de um crente: uma é a vitória das causas que abraçou; e a outra, o martírio (9:52). Qasem Soleimani obteve as duas. Ele conquistou a vitória sobre seus inimigos, e foi um extraordinário vencedor das batalhas que conduziu. O martírio de Soleimani e Al-Muhandis mostrou ao mundo que a Revolução está viva e será vitoriosa. E que os inimigos da nação iraniana e da ummah (nação) islâmica foram humilhados diante da grandeza do General e seus companheiros.

Os EUA alegaram, como motivo para o assassinato de Soleimani, o seu apoio às manifestações que ocorrem, no dia 27 de dezembro de 2019, em frente à embaixada norte-americana em Bagdá e a falsa alegação de invasão (que não ocorreu), que teria resultado em morte e ferimento de cidadãos americanos e iraquianos.

Sabemos que os motivos para o assassinato são outros. Estão relacionados ao papel de Soleimani nas vitórias contra o terrorismo patrocinado pelos EUA e Israel no Oriente Médio e na perda da condição de únicos players da região, bem como ao aumento do protagonismo da Rússia e China, tendo o Irã como centro dessa articulação antiterrorista.

A Perita Relatora das Nações Unidas, Agnes Callamard, disse em pronunciamento oficial que “Frente ao que foi apresentado pelos americanos até o momento [2020], o alvejamento do general Soleimani e as mortes dos seus acompanhantes, constituem um assassinato arbitrário pelo qual, segundo o Direito Internacional dos Direitos Humanos, os EUA são responsáveis”. E que “o assassinato conduzido por Donald Trump significou uma violação da Lei Internacional”.

O assassinato de Soleimani e Al-Muhandis, fora de uma situação de guerra e em território estrangeiro, mais do que uma violação da soberania iraquiana, foi um ato explícito de terrorismo de estado e uma violação das convenções e do Direito Internacional.

Sabe-se, ainda, que ações estratégicas do General Soleimani contribuíram para cortar o fluxo de armas dos EUA, Israel e seus sócios do Golfo não apenas para o “Estado Islâmico” e outros grupos terroristas que atuam no Oriente Médio, mas também para outros compradores regionais.

Os EUA, como maior fabricante de armas do mundo e para o sucesso dos seus negócios no tráfico internacional de armas, precisam da atuação dos grupos terroristas. Com as seguidas derrotas dos terroristas do “Estado islâmico” na Síria e no Iraque comandadas por Soleiman e Al-Muhandis, e a consequente queda nos negócios de armas, os EUA decidiram assassinar o General, que era o símbolo da resistência contra esses bandos terroristas.

Essa ação foi mais uma tentativa inútil dos EUA e de seus sócios de frear o “eixo da resistência” que envolve o Irã, a Síria, o Hezbollah libanês, as Forças de Mobilização Popular do Iraque, os Houthis do Iêmen, o Movimento de Resistência Islâmica palestino (HAMAS), a Jihad Islâmica e a Frente Popular pela Libertação da Palestinas, a Frente POLISARIO do Saara Ocidental, entre outros movimentos de resistência.

Soleiman e Al-Muhandis não foram os únicos nem serão os últimos. Que seus nomes sejam lembrados, juntamente com os nomes dos cientistas iranianos martirizados em ataques terroristas, como Mohsen Fakhrizadeh, Massoud Ali-Mohammadi, Fereydoun Abbasi-Davani, Majid Shahriyari, Darioush Rezai, Mostafa Ahamdi-Roshan, entre outros.

São assassinatos seletivos que refletem o espírito criminoso que domina a estrutura do Estado norte-americano e de “Israel”. As ilegalidades dos EUA constituem cobertura e incentivo para os crimes cometidos pela ocupação israelense contra o povo palestino nos territórios ocupados e no exterior.

O General Soleiman teve um papel relevante na vitoriosa estratégia do Hezbollah que expulsou de maneira humilhante as forças do invasor sionista do Líbano em 2006. Ele deu importante estímulo e suporte ao levante dos Houthis do Iêmen contra o regime saudita. Soleimani teve um papel central na derrota do “Estado Islâmico” na Síria, bem como na criação, no treinamento e nas ações das forças iraquianas de Al-Hashd Al-Sha’abi, dirigidas por Al-Muhandis, responsáveis pelo colapso dos grupos terroristas na Síria e no Iraque.

O martírio de Soleimani e Al-Muhandis mostrou ao mundo que a revolução está viva e será vitoriosa. Além disso, os inimigos da nação iraniana ficaram humilhados diante da grandeza do General assassinado, que se transformou no Mártir de Al-Quds (Jerusalém) por ser uma figura-chave na estratégia vitoriosa de enfrentamento ao terrorismo de EUA, Israel, Arábia Saudita e seus aliados no Oriente Médio e na Eurásia.

Soleimani nasceu de uma família de camponeses pobres na província de Qanatfanad, no sudoeste do Irã, em 11 de março de 1957. Iniciou sua carreira militar com sua entrada no Corpo dos Guardiões da Revolução Islâmica, em 1979. Nos anos de 1980, foi designado comandante de 41ª Divisão do exército iraniano durante a guerra Irã-Iraque. Sua ascensão ao comando das Forças Quds iranianas de ações no exterior se deu em 1997. Ele foi promovido ao posto de Major-General pelo Líder Supremo da Revolução Islâmica, Imam Ali Khamenei, em 24 de janeiro de 2011, posto em que permaneceu até o seu martírio.

Diferentemente do que se avalia, a importância de Soleimani no enfrentamento ao terrorismo não era apenas militar. Ele desempenhou relevante papel político, como quando, em 2015, convenceu a Rússia a entrar, de forma mais efetiva, na guerra da Síria, na aliança trilateral entre Rússia, China e Irã para enfrentar os bandos terroristas no Oriente Médio, bem como na realização de exercícios militares marítimos conjuntos no Mar de Omã e no Oceano Índico, determinantes para quebrar o monopólio dos EUA nos mares da região.

Durante os funerais de Soleimani em Teerã, o Imam Ali Khamenei, Líder Supremo da Revolução Islâmica, declarou que aqueles que planejaram e executaram o assassinato do general certamente pagarão o preço, pois a vingança ocorrerá inevitavelmente quando as condições permitirem. Para Khamenei, “O sapato de Soleimani vale mais do que a cabeça de Trump”. Além disso, o líder apontou que os funerais dos mártires com a presença de milhões de pessoas, no Irã e no Iraque, foram um tapa severo para os americanos, mas o tapa mais duro será a eliminação da arrogante presença dos EUA da região.

Soleimani se sacrificou pela causa mais importante da humanidade atualmente, que é a justa luta para libertar a Palestina da ocupação colonial israelense, com o foco em recuperar as terras árabes e palestinas e tirar a sagrada mesquita de Al-Aqsa do cerco e das tentativas de destruição por parte do estado de supremacia judaica que se apossou da Palestina desde 1948.

O ataque terrorista norte-americano que martirizou Soleimani, Al-Muhandis e vários outros mártires iranianos e iraquianos que os acompanhavam reflete o sentido criminoso que domina a mentalidade dos líderes de EUA, Israel e Arábia Saudita. Essa ação constitui um salvo-conduto para todos os crimes cometidos pela ocupação israelense contra o povo palestino nos territórios ocupados e no exterior.

O crime do consórcio terrorista, liderado pelos EUA, nem de longe representou uma vitória sobre a luta de resistência contra o terrorismo por ele disseminado. EUA, Israel e Arábia Saudita é que foram os derrotados, porque a luta de resistência segue até a vitória final, como um direito legal garantido por leis e convenções internacionais e reconhecido pela Carta das Nações Unidas.

O sangue e o legado dos mártires, seus exemplos de abnegação e de compromisso com a justiça, a paz e a soberania, serão sempre lembrados e honrados por todas as pessoas que almejam um mundo de paz e de justiça.

Sayid Marcos Tenório é historiador, escritor e especialista em Relações Internacionais. É vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal) e autor do livro Palestina: do mito da terra prometida à terra da resistência (2. ed. – São Paulo, SP: Anita Garibaldi; Ibraspal, 2022. 408 p). Twitter/Instagram: @sayidtenorio

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