Publicação revela detalhes do processo de recuperação de empresas por trabalhadores

Por Monica Ribeiro.

Há um tempo escrevi aqui, no Conexão Planeta, sobre as chamadas empresas recuperadas por trabalhadores (ERTs), modelo em que se recuperam empresas falidas ou inviabilizadas economicamente, e que são transformadas em cooperativas.

As primeiras experiências de ERTs no Brasil, segundo dados do Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA), ocorreram na década de 1980, mas foi mesmo nos anos 1990 que se observou um crescimento dessa movimentação, em especial diante do quadro de crise econômica da época. Como reação e resistência ao fechamento de empresas e à perda de postos de trabalho, ampliaram-se as experiências de empresas recuperadas.

De uma dessas experiências surgiu, por exemplo, a maior fabricante de anéis, flanges e conexões de aço forjado de toda a América Latina – a Cooperativa Central de Produção Industrial de Trabalhadores em Metalurgia (Uniforja), criada em meados de 2000, em Diadema.

Para entender um pouco melhor esses processos, recomendo a leitura da recém-lançada publicação Empresas Recuperadas por trabalhadores e trabalhadoras: cooperativismo solidário em tempos de crise. Ela reúne material que começou a ser pensado a partir da articulação de vários parceiros ao longo do processo de falência da montadora Karmann-Ghia, em São Bernardo do Campo, no estado de São Paulo. Nesse episódio, trabalhadores e trabalhadoras ocuparam a fábrica por mais de sete meses em 2016, para tentar garantir o pagamento de salários atrasados e direitos trabalhistas.

Ao longo desse período, foram realizadas atividades, assessorias e formações sobre empresas recuperadas, com o objetivo de instruir e qualificar o debate, mas, também, para se pensar na possibilidade de formação de uma cooperativa. O conjunto de atividades incluiu um seminário internacional, que apresentou experiências de fábricas recuperadas na Argentina, no Brasil, Espanha e Itália.

A história ainda não teve um desfecho. Até o presente momento há disputa judicial para se obter a falência da empresa.

Como mencionei acima, foi nesse contexto que a publicação começou a ser elaborada, destacando alguns dos principais pontos sobre empresas recuperadas e buscando abordar o assunto de modo prático e pragmático. Ela define o que são ERTs, destaca temas como autogestão, cooperativismo e cooperativas, indica um passo a passo para a recuperação de empresas por trabalhadores e trabalhadoras, além do marco legal e de boas fontes para se obter mais informações e aprofundar temas.

A publicação pode ser acessada gratuitamente no site da Unisol Brasil, organizadora do material.

Foto: Uniforja/Divulgação Unisol Brasil

Jornalista e mestre em Antropologia. Coordenou a Comunicação da Secretaria do Verde da Prefeitura de São Paulo – quando criou as campanhas ‘Eu Não Sou de Plástico’ e, em parceria com a SVB, a ‘Segunda Sem Carne’. Colaborou com a revista Página 22, da FGV-SP, e com a Unisol Brasil. Hoje é conectora – trabalha linkando projetos e pessoas de todas as áreas na comunicação para um mundo melhor

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