O progressismo do PSOL, mesmo tendo diferenças com os partidos progressistas (PT e PCdoB), não evita dialogar com eles nem os odeia, construindo maiorias progressistas nos segundos turnos; o conservadorismo de esquerda do PSOL evita o diálogo com o PT e o PCdoB, tem um discurso de ódio moralista antipetista semelhante ao do conservadorismo de direita e não ajuda a formar uma maioria progressista nos segundos turnos
Por Nicolas Chernavsky, CulturaPolítica.info.
Recentemente, dois ex-candidatos a presidente do PSOL, Heloísa Helena e Randolfe Rodrigues (que foi escolhido pelo PSOL para as eleições de 2014 mas desistiu, abrindo espaço para Luciana Genro), ou seja, pessoas bastante representativas do partido, foram para a Rede, partido liderado por Marina Silva, a qual apoiou abertamente o candidato conservador, Aécio Neves, nas últimas eleições presidenciais. Isso evidencia que o PSOL tem uma certa proximidade com o conservadorismo, mesmo ainda não sendo conservador. Mas como? Um partido de esquerda próximo do conservadorismo? Sim, pois o conservadorismo de esquerda existe, no Brasil e no mundo. E o que é o conservadorismo de esquerda?
O conservadorismo de esquerda é o que costumamos chamar de moralismo. E o conservadorismo de direita é o que costumamos chamar de egoísmo.
Assim, quem observa o PSOL pode ver que os setores moralistas do partido chegam inclusive a usar insistentemente as acusações dos meios de comunicação tradicionalmente conservadores como “evidências” da “imoralidade” do PT. Parece não importar se estes jornais ou redes de TV são alguns dos maiores representantes do país do conservadorismo de direita: se a acusação é contra o PT, “é verdade”. Essa simbiose entre conservadorismo de esquerda e de direita está relacionada a suas naturezas profundas: o moralismo é a tentativa fracassada de reprimir o egoísmo.
Por outro lado, é óbvio que o PSOL tem um importante componente progressista. Quem viu Jean Wyllys apoiando convictamente Dilma Rousseff no segundo turno contra Aécio Neves em 2014 nunca poderia dizer que este deputado federal do PSOL é um conservador de esquerda. Quem viu quatro dos cinco deputados federais do partido eleitos em 2014 apoiarem Dilma nesse segundo turno não pode acreditar que o partido seja conservador de esquerda. Mas essas pessoas também se lembram do quinto deputado federal eleito pelo partido nessa eleição, o Cabo Daciolo, que não apoiou Dilma contra Aécio, sendo que seu conservadorismo de direita era tão evidente que o PSOL o expulsou meses depois. Mas sua expulsão expulsou também o conservadorismo de direita do PSOL? Não é bem assim. De qualquer forma, esse exemplo da Câmara Federal mostra como os representantes democraticamente eleitos do PSOL tendem mais ao progressismo que o restante do partido, cuja cúpula se posicionou quase de forma neutra no segundo turno de 2014, indicando leve preferência por Dilma (“nenhum voto em Aécio”, lembram?).
Essa situação dicotômica do PSOL pode se desenvolver em várias direções, mas uma delas é especialmente perigosa para o progressismo: a aliança do conservadorismo de esquerda existente no PSOL com o conservadorismo de direita de fora do PSOL. Essa aliança conservadora pode acabar acontecendo em torno de Marina Silva, política que atrai tanto o conservadorismo de direita quanto o conservadorismo de esquerda. A ida de Heloísa Helena e Randolfe Rodrigues à Rede é fortíssima indicação de que essa eventual aliança conservadora, centrada na figura de Marina Silva como alternativa a Lula em 2018, pode acabar levando o PSOL a deixar de estar entre o progressismo e o conservadorismo de esquerda, e pular de cabeça no conservadorismo, como já aconteceu com tantas entidades e pessoas vindas do progressismo, como o PSB e a própria Marina. Inclusive, os conceitos de conservadorismo de direita e de esquerda (e sua inter-relação) ajudam a explicar como pessoas “surpreendentemente” passam “da esquerda para a direita”. Não há surpresa se compreendermos que, na verdade, passaram do conservadorismo de esquerda para o conservadorismo de direita.
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