Para manter a unidade partidária, PSOL de Florianópolis resolveu moderar decisão para o 2º. turno.
A 72 horas de um belo resultado eleitoral na Capital do Estado, o PSOL teve uma reunião de decisão difícil de cara ao 2º turno. Por primeira vez, a sigla fundada legalmente no Estado em 2005, teve que apelar à unidade partidária para manter, ao menos publicamente, uma imagem coesa frente ao novidoso eleitorado que depositou quase um 15% dos votos válidos na legenda.
Segundo seu líder, Prof. Elson Pereira, com o qual falamos brevemente por telefone na quinta-feira, o partido não se disporia a “tutelar” os eleitores, tomando uma decisão orgânica mais drástica de apoio ao voto nulo. No entanto, sem querer desvirtuar a legitimidade desta postura, ela parte de um pressuposto falso. Nenhuma decisão eleitoral que tome uma agremiação de direito privado, por mais pública que possa se tornar, é tutelar além do seu quadro de filiados. Uma decisão nítida em favor do Voto Nulo por parte do PSOL não estaria tutelando ação alguma dos cidadãos não atingidos pela disciplina partidária. São tutelados pela agremiação os que fazem parte orgânica da sigla, dentre eles os que defenderam uma decisão em favor do Voto Nulo, criando um debate enérgico que obrigou à direção a apelar à unidade. A parte resolutiva do PSOL a respeito do 2º turno em Florianópolis diz assim:
“No segundo turno, o PSOL não se vê representado por nenhuma das duas alternativas, portanto não apoiamos nenhuma delas e não indicamos voto. A consciência livre do eleitor é que deve prevalecer e mesmo o voto nulo é um caminho de protesto e democrático. Apoiado pelos 34.599 votos (cerca de 14,42% dos eleitores, contrariando os “indicativos” dos Institutos de Pesquisa) desde já, o PSOL se define como oposição programática e saberá na luta, ao lado dos movimentos sociais, da cidadania e com nosso mandato de vereador defender a cidade e atuar também propositivamente na construção de nosso futuro.” http://www.elson50.com.br/
Portanto, o PSOL como agremiação se desonera de tomar parte numa ação nítida em favor do Voto Nulo, pois não apoia o voto nos conservadores, mas também, não indica afirmativamente a anulação, só a sugere de maneira forçada. Em definitivo, não assume a função política que lhe corresponde como agremiação de orientar (não tutelar) seu eleitorado e alivia a barra interna, sugerindo que o Voto Nulo é um caminho democrático. Nada de novo o fato do Voto Nulo ser uma ferramenta democrática, apenas soa rara a apreciação forçada, particularmente quando o PSOL se autodefine como oposição programática, e depois de participar brilhantemente no processo eleitoral, não se sente à vontade orientando seus seguidores.
Talvez a resposta esteja no final do parágrafo, quando se refere ao mandato de vereador para defender a cidade e atuar propositivamente na construção do “nosso futuro”. É verdade que os vereadores do campo popular seriam apenas 3, Lino, Boppré e Ricardo e a necessidade de transitar e tramitar nesse âmbito pode estar marcando esta decisão mais ou menos nula. É necessário viabilizar a vida do PSOL na Câmara, com certeza, porém, é importante estabelecer posturas claras e decisivas para garantir a credibilidade da sigla entre seus seguidores e os moradores da Capital desde antes mesmo de ocupar aquele espaço legislativo.
Uma pequena decepção trouxe-nos esta “afrouxada” do PSOL no momento mais adequado para este partido tomar um decisão firme, clara, em favor do sentir majoritário dos seus filiados, expressado de forma espontânea na rua e nas redes sociais.
Nos próximos dias tomará a decisão o PT. O cenário não deve ser diferente, ao contrário, poderá ser mais “liberador” que o do PSOL. Trata-se do PT, que tornado há muito um fim em si mesmo, do mesmo jeito que o PCdoB, deverá digladiar-se entre uma decisão em favor do sentir das suas bases e os acordos feitos com outros partidos, nas instâncias municipal, estadual e nacional. O PSOL deveria ter sido o principal ator afirmativo do Voto Nulo, mas, se rendeu aos atalhos. Ainda está a tempo de mudar e unir-se, firme, às bases sociais do campo popular.
Imagem: Tali Feld Gleiser.