Psicologia e gênero na infância: desdobramentos de uma cultura

Foto: Reprodução

Por Letícia Lechtold, para Desacato.info

Para abordar este tema tão complexo, gostaria primeiramente de ressaltar a diferença entre sexo, gênero e orientação sexual. Assim sendo, o sexo é definido anatômica, biológica e fisicamente. Tratando-se de uma definição genética que diz respeito aos órgãos sexuais que classificam o indivíduo como homem ou mulher. Já o gênero, refere-se a uma construção sociocultural, ou seja, varia de acordo com o contexto cultural e regional. É a compreensão dos papéis sociais relacionados ao significado de ser homem ou mulher dentro da sociedade. Por sua vez, a orientação sexual diz respeito a atração que se sente por outro indivíduo, sendo este do sexo oposto ou do mesmo sexo.

Na área da psicologia, as pesquisas que envolvem questões de sexo, gênero e sexualidade tem crescido muito, principalmente nas questões de direitos humanos, direitos sexuais e políticas públicas. A principal preocupação está em compreender o gênero como um processo de construção sociocultural. Sendo que este processo de socialização cultural determina os modelos, padrões, juízo de valor e crença referentes aos papéis sexuais (feminino ou masculino). Para obter determinado padrão os comportamentos são reforçados, incentivados, rejeitados, punidos, ou reprimidos de acordo com sua representação no contexto.

Alguns autores, salientam que mesmo antes do nascimento os pais constroem expectativas com relação ao sexo do bebê, conforme a representação sexual feminina ou masculina. Com o nascimento, as expectativas e planos se intensificam nas interações feitas com a criança, desde os brinquedos oferecidos até as atitudes permitidas, fazendo com que estas desempenhem papéis em conformidade com o gênero ao qual pertencem, ensinando-as a identificar e reproduzir diferenças e desigualdades marcadas por esteriótipos. Portanto, as diferenças comportamentais entre meninos e meninas são decorrentes, em grande parte, do processo de educação onde a diferença biológica torna-se diferença sócio-cultural.

Para a maioria das crianças, ser menino ou menina é algo que acontece naturalmente. Ao nascerem, são declaradas do sexo feminino ou masculino, mas ao tornarem-se capazes de se expressar, estas crianças se autodeclaram menino ou menina, apresentando assim sua identidade de gênero, que em sua maioria se alinha com o sexo biológico, no entanto para algumas crianças a combinação entre sexo biológico e identidade de gênero não acontece de forma tão clara. A personalidade de um indivíduo é um sistema complexo que se constrói juntamente com as experiências vivenciadas, mas não se restringe a isto. O fato de um menino querer passar um batom não significa necessariamente que seu gênero esteja cruzado ou que sua orientação sexual será diferente do seu sexo biológico, pode ser que ele apenas esteja querendo explorar o mundo e conhecer o papel que a mãe exerce. Por isso, é necessário que se oportunize a criança explorar os diferentes papéis de gênero em um ambiente que reflete esta diversidade. Os pais podem explicar o que for necessário desde que a criança apresente esta curiosidade, assim evitamos a criação de confusões na cabeça da criança.

Quando uma educação é apenas baseada na diferença entre meninos e meninas desconsideramos o ser humano em sua totalidade bem como suas potencialidades, assim como reforçamos a perpetuação de preconceitos, descriminação e desigualdades. Portanto, ao invés de tentar moldar o comportamento do seu filho ao gênero tradicional imposto pela cultura, ajude-o a desenvolver o seu potencial, afinal cada criança possui seus pontos fortes que podem não estar de acordo com as expectativas da sociedade ou com as suas, mas podem ser fonte essencial para o desenvolvimento de um ser singular.

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