Por Márcio Papa, de Florianópolis, para Desacato.info (texto e fotos).
Em resposta a convocação, detonada pelas redes sociais, 500 usuários sob duas rodas, -estimativa da Polícia Militar Rodoviária presente- que trafegam diariamente nas vias públicas da Capital e da região metropolitana de Florianópolis, reuniram-se ontem, sexta, dia 29, na Avenida Beira mar, -Centro- e partiram em uma das pistas, conduzindo-se pacifica e organizadamente por uma das faixas, até o Centro Administrativo Estadual, na SC 401, km 05. Rodovia a onde Simone Bridi, mãe de duas crianças, perdeu sua vida em seu traslado para casa, após mais um fim de jornada de trabalho. Seria a sua última.
Deflagrada violência no trânsito, no início deste ano, ( mortes desde o começo), os usuários de diversas classes profissionais e níveis sociais, vem lentamente sendo exterminados um a um, em compasso proporcional ao aumento do número de carros que trafegam por Florianópolis e região metropolitana.
Uniram-se a funesta pedalada, ativistas e militantes de outros movimentos sociais, entre eles o do Passe- Livre. Estiveram dando seu apoio acompanhados de suas magrelas, bradando sempre em coro, em nome da indignação com tipo de tratamento que os contribuintes, e eleitores vem recebendo do Governo Estadual .O mesmo se aplica ao impiedoso Prefeito, que decretou na última terça, 29/01/2016, um aumento de no valor da tarifa de 11,94%, a título de cumprimento de acordo de reajuste previsto em contrato de licitação.
Com exceção das sirenes de uma ambulância que trafegou livremente, foram vinte minutos de paralização. Distantes da foligem e o roncar dos motores dos carros, um sepulcral silêncio que a todos tomou conta. Intercalado apenas pelo emocionado desabafo de Fabiano Faga, Conselheiro da União dos Ciclistas do Brasil:
“ – Não queremos mortes. Não queremos sofrer acidentes… Chegamos ao extremo de fechar esta rodovia nos dois sentidos…- Queremos sair e voltar para casa com segurança… “
Após o traumático atropelamento de Everton Luiz Machado, 22 anos, no fim de 2013, trafegando pelo acostamento; Muito recentemente em 05/10 de 2015, a vida ceifada de Gabriel Serôa da Mota, professor de Química do Instituto Federal de Santa Catarina; – IFSC- Da morte de Róger Bitencourt, de 49 anos, no fim do ano passado, -27/12/2015- na ciclofaixa sentido centro; E agora, no trágico atropelamento de Simone Bridi em 24/01, domingo passado.
Para a ciclista Adriana machado (foto de capa), de 50 anos, que percorre cinquenta quilômetros diários, (em sua maioria no continente) participa de grupos de ciclistas, mas sai de casa com medo e o receio de que o pior aconteça a ela. “ -Você pode estar em sua mão, na ciclo-faixa, e corre o risco ainda estar envolvido em uma tragédia dessas… Em menos de um mês, duas vítimas… Multas pedadas, sem relaxamento de penas, são necessárias, mas a construção de ciclovias é fundamental…”
O ciclista Eraldo de carvalho Pedro (foto acima), Gerente Administrativo, integrante do grupo Vício-Pedal, que pedala dezessete quilômetros diariamente, ( do Campeche à Coqueiros) contou-nos como fugiram ele e a namorada, de um atropelamento, no Campeche, também no domingo passado por volta das 17:30 hs :
“ – Pedalávamos a 10 (dez) quilômetros horários. Em instantes vi um veículo uno cor vinho. Ele atravessava a rua avançando sobre as tartarugas. Gritamos o mais alto que podíamos. Ao ouvir-nos puxou o volante corrigindo sua tragetória… -Não fomos colhidos, por razão de centímetros…
Márcio Papa Desacato:
– Você se utiliza da bicicleta para dirigir-se ao trabalho, o que vê pelo percurso que também faz desanimá-los?
Eraldo de Carvalho:
“ Há um pessoal do pedal, que deixa a desejar… como andar na contra mão, mas o pior são as “finas” dos ônibus, dos carros… – Há motociclistas que gritam assustando-nos. O direito de ir e vir com segurança para ir ao trabalho e passear aos fins de semana , está colocado como uma solução que parece distante. Pois estão envolvidos a ela: a política, empresários de transportes, motoristas… e a educação de todos, de uma maneira geral…”
-Fiquei em choque com a falecimento da Simone…mas não vou parar de pedalar…gosto e preciso pedalar…minha vida mudou depois do pedal, em todos os sentidos de minha saúde…”
O campeão mundial de no Jiu-Jitsu e“tri-atleta” Jacks Morgado Sobrinho (foto acima), que está em preparação física, competindo por Florianóplis, comenta outras realidades:
“ -No brasil todo, e em especial aqui nesta capital, há um desrespeito enorme ao ciclista, e autoridades fazem vista grossa…Carros avançam sobre a ciclovia e acostamento nos congestionamentos ou simplesmente param e até estacionam… –Eu sofri um acidente recentemente, pelo primeiro motivo.”
A reportagem também conversou com o Vereador Lino Peres, que acompanhou todo o trajeto e foi ter com diversos representantes de grupos de ciclistas um contato direto com a grave situação vivida por eles:
Vereador Lino Peres:
“ – Existem projetos importantes de ciclovias, mas que que não se consegue implantar.- Há técnicos sérios dentro da Prefeitura, dentro do IPUF. e há necessidade que hajam, muitos recursos para isso. Incentivos do governos Federal, Estadual e local para compra de bicicletas. O GEMURB, -Grupo de Estudos de Mobilidade Urbana Sustentável- da UFSC, discute a acessibilidade de todos os pedestres. Na mobilidade estuda-se o conceito de transportes circulares, e inclui-se a isso, também as ciclovias, uma ”sub-linha” de pesquisa).”
Márcio Papa/Desacato:
– Como suplantar a dor, o estarrecimento e o choque, ao saber que mais uma trabalhadora, ainda jovem, perde sua vida, por motivo banal, que é o desrespeito ao espaço da ciclo-faixa, a ela reservado?
Vereador Lino Peres (foto acima):
“ – É lamentável. – Estamos de luto. A única forma de superar isso, é a luta, como esse ato de hoje, onde nos dirigimos ao Centro Administrativo partindo deste bar, ao lado da Ponta do Coral. É um alento à dor da família da Simone Bridi, e de todos os ciclistas… É a melhor forma de suavizar esse grande trauma. Respondendo imediatamente com ações concretas e humanizadoras como esta. -Pois os que tombaram, muitos deles foram militantes da causa…não só usuários, que não aceitaram submeterem-se ao uso apenas dos carros e do precário transporte coletivo em Florianópolis mas sim, ao uso e ocupação das vias, e é em homenagem à todos esses, que essa mobilização está sendo feita hoje…”
Infelizmente, como apurou a reportagem do Portal Desacato, (fato comentado nas redes sociais) houve pressão da parte da Polícia Militar, pela celeridade durante o percurso, gerando insatisfação o que logo fora contido pelos ciclistas à frente dos demais.
Com o desejo honesto em desculpar-se pelo “transtorno” que fez esperarem o fim do ato, os manifestantes distribuíram a todos os motoristas parados nas proximidades, aos pedestres e aos que saiam do Centro Administrativo uma lista de reivindicações:
- Adoção de políticas de educação e respeito no Trânsito
- Colocação de sinalização adequada
- Construção de ciclovia segregada da rodovia
- Fiscalização ostensiva, diária e ininterrupta
- Políticas de maior acessibilidade em transporte coletivo para motoristas que frequentam festas e baladas naquela região
- Instalação de redutores de velocidade
- Instalação de uma central de vídeo monitoramento de toda a rodovia
- Colocação de placas advertindo os motoristas que o percurso está sendo gravado e acompanhado pela central de vídeo monitoramento
Um abaixo assinado on line está recebendo assinaturas em https//goo.gl/38Aenl.
Convocação: Os integrantes da organização do ato, voltam a se reunir dia 14,de janeiro,no local do acidente, para a instalação da “bicicleta fantasma” de cor branca, um simbolo internacional da violência no trânsito.