Em ato contra o pastor e deputado federal Marcos Feliciano (PSC-SP) na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minoria (CDHM) da Câmara, cerca de 500 pessoas estiveram, na tarde desta segunda-feira (25), na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Centro do Rio. O protesto contou com o apoio de diversas lideranças religiosas.
Feliciano tem sido duramente criticado por sua postura, considerada racista e homofóbica por vários segmentos sociais, diante das questões sensíveis da CDHM. Um vídeo que circula pela internet mostra o pastor pedindo a senha do cartão de um fiel. “Doou o cartão mas não doou a senha. Aí não vale. Depois vai pedir um milagre para Deus e Deus não vai dar. E vai falar que Deus é ruim”, disse Feliciano na ocasião. O parlamentar responde no Supremo Tribunal Federal (STF) a processo por homofobia e estelionato.
A manifestação foi organizada pelo deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), militante da área dos direitos humanos. Entre os presentes, destacam-se o cantor Caetano Veloso, o ator Wagner Moura, a cantora Preta Gil, as atrizes Leandra Leal e Dira Paes. Os deputados federais Chico Alencar, Jean Willys (ambos do PSOL-RJ), Alessandro Molon (PT-RJ) também participaram.
“Não é um movimento contra os cristãos e nem uma luta contra um deputado específico. Por isso chamamos lideranças de diferentes religiões, que aqui estão representadas e exigem direitos humanos para todos. Não basta a troca do Feliciano, porque existe um grupo político que hoje é maioria na Comissão de Direitos Humanos. Precisamos lutar para mudar essa proporcionalidade da maioria dentro da comissão”, afirmou Freixo aos presentes na ABI.
No ato, houve a participação de representantes da Igreja Batista, Presbiteriana, da Umbanda e do budismo, entre outros. Militantes de minorias, como o movimento negro e LGBT também marcaram presença.
Para o pastor da Igreja Presbiteriana de Jacarepaguá, Marcos Amaral, o deputado Feliciano, ao não respeitar a pluralidade, “desrespeita os valores do próprio Reino de Deus”.
“A compreensão de mundo no Reino de Deus é baseada na Justiça, na igualdade e na ética. E as declarações de Feliciano ferem tudo isso, não são nada cristãs. Ele precisa entender que aniquilar o outro é aniquilar a própria missão divina. Já os evangélicos precisam entender que o mundo não é uma capela, existem várias verdades na cabeça de cada um, que devem ser respeitadas”, disse o pastor.
A representante da Umbanda, Marilena Matos, seguiu a mesma linha do deputado Marcelo Freixo e afirmou que a protesto não é destinado a uma pessoa específica, no caso o pastor Feliciano.
“Queremos que mudem as atitudes, as palavras em geral sobre questões ligadas aos direitos humanos. Na verdade, não existe intolerância religiosa, o que existe são maus líderes religiosos. Numa posição visível como é a da Comissão de Direitos Humanos é preciso ter um cuidado maior no que se diz”, ressaltou Marilena.
O deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ), homossexual assumido e que já manifestou diversas vezes o repúdio à eleição de Feliciano para a CDHM destacou as manifestações populares, no que ele classifica como um aumento da politização dos brasileiros.
“Os atos são importantes porque mostram que existe pressão popular para questões que dizem respeito a toda população brasileira representada em suas minorias. Esse ato hoje é um evento plural que envolve diversas religiões, inclusive evangélicos, e todos estão juntos em defesa de um estado laico . O Feliciano só vai sair do cargo se houver pressão popular. Ele não atenderá às pressões de políticos”, apostou o deputado.
Classe artística também protesta
Entre políticos e representantes de diferentes religiões, artistas como o cantor Caetano Veloso, o ator Wagner Moura, a cantora Preta Gil, as atrizes Leandra Leal e Dira Paes também marcaram presença no ato pró direitos humanos na ABI.
“Minha presença é muito óbvia. É inadmissível que uma comissão de direitos humanos seja presidida por um pastor que expressa intolerância sexual, religiosa e racial. A movimentação popular em torno do tema significa também dizer que o povo brasileiro não quer viver sem o Congresso, sem representatividade”, afirmou o cantor Caetano Veloso.
Já a cantora Preta Gil, ao ressaltar que é “negra, homossexual e gordinha” fez questão de destacar que está na luta pela renúncia de Feliciano da CDHM: “Não podemos nos calar nesse momento”, bradou.
Fonte: Jornal do Brasil.