Por Roberto Malvezzi.
O PT tem bloqueio para fazer autocrítica e admitir seus próprios erros. O problema fundamental não é se o dinheiro das campanhas foi doação ou propina, mas o fato de mergulhar em fábulas de dinheiro privado para ganhar eleições. Antes que legal é um problema ético e político.
Para a eleição de 2014 o PT recebeu 147 milhões, PSDB 82 milhões, PMDB 76 milhões, PSB 32 milhões, PP 17 milhões, PR 11 milhões, DEM 7 milhões, PC do B 6 milhões, assim todos os partidos, até chegar aos menores (“Quanto cada partido recebeu das empreiteiras da Lava Jato”, congressoemfoco.uol.com.br).
É uma lástima ver pessoas como Moro, gente do Ministério Público, Polícia Federal, gastar meses e meses para tentar discernir se o dinheiro das campanhas foi doação ou propina.
São vítimas do legalismo que sempre moveu esse país.
Desculpem a sinceridade, mas falta a esses homens a compreensão da formação social e histórica do país, de como a corrupção sempre se constituiu na privatização do Estado brasileiro. Doação ou propina, tanto faz. Quem recebe, uma vez eleito, terá que pagar com obras ou outras benesses. Portanto, falta-lhes um pouco de Raimundo Faoro.
As empreiteiras impõem a agenda de obras no Brasil. Algumas claramente inúteis – Mané Garrincha, estádio de Manaus, etc. –, outras duvidosas – Transposição, Belo Monte, etc. – e que muitas vezes ocupam o lugar e a verba de obras necessárias, como é o caso do saneamento básico, das adutoras, do transporte público urbano, da energia eólica e solar, ou investimentos em educação e saúde.
O que está estampado na mídia tradicional todos os dias – é uma tortura abrir esses jornais e revistas e essa ser a matéria constante há meses – alimenta esse moralismo típico dos fariseus modernos, que coam mosquitos e engolem camelos.
A reforma política proposta pela sociedade civil poderia pôr algum limite nesse poço sem fundo, mas Cunha assassinou a reforma política.
O que resta aos brasileiros de bom senso nesse momento – para além de todos os partidos – é salvar o fiapo de democracia que temos e não perder as conquistas sociais.
Fonte: Roberto Malvezzi