Pronunciamento sobre os incêndios na Amazônia: Bolsonaro perdeu o pathos

Por Tiago de Castilho Soares, para Desacato.info.

Bolsonaro foi enquadrado pela pressão externa: deixou a informalidade de suas declarações de youtuber, vestiu o melhor terno e colocou os óculos para ler corretamente um discurso moderado perante as câmeras oficiais do Planalto. Falando assim, como deveria falar, para todos, usando inclusive a expressão “diálogo”, Bolsonaro fez rir a esquerda, que não se deixa enganar, e afastou-se de seu eleitorado, que espera sempre dele uma patada silenciadora, uma acusação dos inimigos ou uma grosseria bem sacada.

Os gestos usados para interpretar as coisas sérias do texto, mesmo firmes, não se aproximaram do que os torcedores de Bolsonaro esperavam dele: revelou-se a pura casca de político de baixo clero, revelou-se a falta de qualquer coisa que possa fazer diferença, revelou-se a falta de pathos, falta da essência de Bolsonaro na hora H.

A descoberta de que seu presidente é um covarde, recuando seu jeito de ser no momento político culminante de defender a Amazônia brasileira, a descoberta de que os pronunciamentos do Bolsonaro político podem ser mornos e alvos de panelaços, faz despedaçar a figura antes pitoresca perante seu público de homens e mulheres simples, que esperam que um bruto seja, com ou sem razão, o mais adequado para tomar decisões no universo da política.

Tiago de Castilho Soares é doutor em Sociologia Política e comentarista no programa de rádio web Informativo Paralelo.

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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