Projeto Sementes de Proteção para defensores de direitos humanos. Por Sérgio Homrich

     

    Foto: ACNUDH

    Iniciativa surge na esteira das violações de direitos no país e se estende até março de 2023

    Por Sérgio Homrich, para Desacato.info

    O coordenador nacional do Movimento de Direitos Humanos, professor Paulo Cesar Carbonari falou ao JTT A Manhã com Dignidade (vídeo abaixo no ponto da entrevista) sobre o Projeto Sementes de Proteção, que ganhou apoio da união europeia para proteção aos Direitos Humanos. Professor de Filosofia, Carbonari destaca a importância de uma rede capaz de registrar e apurar denúncias de violações. “Não é fácil a vida de defensores e defensoras, há muito tempo, desde a ditadura militar, se seguindo nos anos 80 e 90, com a redemocratização. Infelizmente, em todo esse período, disseminou-se no Brasil a ideia de que defensor de direitos humanos é defensor de bandidos”, critica, exemplificando: “Temos na presidência um senhor que disse que iria acabar com todos os ativismos e confessou a dificuldade de destruir o trabalho das ONGs; que durante toda a sua atividade parlamentar atacou os direitos humanos e alimenta essa raiz histórica de ataques”. “Nos últimos tempos temos tido mortes, ameaças, sobretudo a indígenas, quilombolas, camponeses, que são os mais atingidos, mas também, jornalistas, ambientalistas têm sofrido muito em função desse quadro”.

    O coordenador do MNDH participou do lançamento do projeto “Sementes de Proteção”, em Santa Catarina, durante live transmitida pela ferramenta meet.google, no dia 10 de dezembro de 2021 – Dia Internacional dos Direitos Humanos. A live contou com as participações de defensoras e defensores de Direitos Humanos de várias unidades da Federação e com relatos dramáticos e emocionantes sobre a realidade dos defensores e defensoras de DHs em santa Catarina, retratos dos tempos de golpe em que vivemos, demonstrando a relevância do projeto Sementes de Proteção, dada à necessidade de respostas imediatas aos dramas pessoais e coletivos.

    A primeira mulher negra eleita para a Câmara de Joinville, vereadora Ana Lúcia Martins (PT), revelou em seu depoimento as ameaças racistas e os ataques que sofreu em suas redes sociais, que o levaram inclusive a separar-se do filho para garantir segurança à família. A militante da Pastoral da Criança, Maristela Cizeski, processada e condenada após denunciar a adoção ilegal de crianças por estrangeiros, em Gaspar (SC), contou em seu depoimento que até hoje encontra-se em endereço incerto para se proteger. O depoimento final foi feito pelo engenheiro de Aeronáutica Acioli Cancelier de Olivo, irmão do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancelier, cujas injustiça extrema e humilhação pública o levaram a cometer suicídio, jogando-se do sétimo andar de um shopping, em Florianópolis, uma tragédia que tem como pivôs a Justiça e a mídia monopolista.

    “São casos emblemáticos, e não estamos falando do comum do povo, que são as pessoas que mais sofrem”, avalia Paulo Cesar Carbonari. “O reitor da UFSC é mais uma vítima de lawfare, um sistema feito para atacar as pessoas; a vereadora Ana Lúcia sofre ataque por ser negra, assim como outros tantos vereadores e vereadoras trans também são atacadas, casos típicos de estados totalitários; e Maristela também nos mostra que a injustiça é algo que pode vir das instituições do Estado. Temos que pensar a garantia dos direitos humanos como desafio imenso para o povo em geral, mas também para a proteção daqueles que assumem a tarefa de defensores de direitos humanos para outras pessoas”, explica Carbonari.

    Sobre o Projeto

    O Projeto sementesdeprotecao.org.br foi iniciado em março de 2021 e se estenderá por 36 meses. O objetivo geral é “contribuir com o apoio a defensores/as dos direitos humanos e as organizações da sociedade civil que atuam em questões associadas a violações dos direitos humanos e ataques contra liberdades fundamentais no Brasil”. O objetivo específico é “fortalecer as capacidades de defesa, promoção e proteção dos direitos dos/as defensores/as de direitos humanos de movimentos sociais e organizações da sociedade civil em 21 Estados das cinco regiões brasileiras”.

     

    DEIXE UMA RESPOSTA

    Please enter your comment!
    Please enter your name here


    This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.