Projeto mapeia mulheres na música em Santa Catarina e cria rede de fortalecimento no setor

Foto: Camila Almeida

Por Camila Almeida/Girassol Cultural

Você conhece quem são as mulheres que atuam na música na sua comunidade? Que estilo musical tocam, que trabalho desenvolvem na cadeia de produção, o que pesquisam e se conseguem ter renda em sua área de atuação? Foi atrás dessas respostas, nunca antes levantadas no estado catarinense, que o Portal Elas por Elas mapeou, durante um ano, as mulheres que atuam na música em Santa Catarina. O primeiro resultado tabulado compõe agora um E-book onde é possível acessar as informações mapeadas em todas as microrregiões do Estado, além de um portal online onde podemos visualizar, saber quem são e conhecer os trabalhos dessas profissionais.

Contemplado pelo Edital Elisabete Anderle, através da Fundação Catarinense de Cultura – importante política pública cultural no Estado, o projeto foi idealizado pela artista Tatiana Cobbett, que se juntou a um grupo de mulheres, musicistas e pesquisadoras, de regiões distintas mas com os mesmos anseios: dar visibilidade para as mulheres na música em Santa Catarina.

Na contramão do setor, que enfrenta grande disparidade de gênero, nasce o “Elas por Elas – Mulheres na Música Catarinense”, transformando e criando espaços de fortalecimento para as mulheres. “O projeto traz como objetivo dar visibilidade para essas profissionais que atuam na música no Estado, desenvolvendo uma rede potente, encurtando distâncias, criando pontes e um espaço que possibilite nos vermos, nos reconhecermos, saber quem somos e quantas somos”, explica Tatiana. “A intenção é criarmos um espaço online que nos permita compartilhar um censo levantado a partir das nossas próprias informações e escolhas, um movimento que nos coloque como protagonistas das nossas próprias demandas. As informações levantadas também servem como ferramenta de transformação, para que olhemos para o nosso Estado e possamos estudar com ampliar esses espaços em todas as regiões”, continua a artista.

Dados em Santa Catarina

O projeto levantou dados cartográficos de artistas profissionais que atuam em três categorias: cultura popular, música contemporânea e música erudita.  Da série de respostas obtidas pelo questionário aplicado em todas as microrregiões do Estado, foram selecionadas aquelas capazes de delinear e dar a conhecer o perfil das mulheres na música catarinense. A partir de suas narrativas materializadas em 133 respostas, é possível conhecer dados como faixa etária, pertencimento racial, região onde reside, atuação na música e se há rendimento ou não com a música.

De acordo com as informações coletadas 72% das profissionais de Santa Catarina são brancas, 22% pardas, 11% pretas e apenas 1% indígenas, e estão entre a faixa etária de 15 a 72 anos. Dessas, 56% residem na Grande Florianópolis, 22% no Vale do Itajaí, as outras regiões variam com porcentagens de 3% a 5%. No total de mulheres mapeadas, 59% atua a mais de 10 anos na área musical, 41% tem sua renda totalmente de atividades com a música e 5% não tem rendimentos na área musical ou está desempregada.

O mapeamento, além de nos permitir conhecer o alto grau de especialização, as predileções, inspirações artísticas e as zonas de atuação profissional das mulheres na música, também traz como intenção apresentar os desafios enfrentados por essas mulheres: notoriamente, a dificuldade em visibilizar suas produções musicais, sobretudo em regiões que não o litoral catarinense, e o fato de que menos da metade das musicistas catarinenses conseguem viver exclusivamente de seu trabalho com a música.

Amanda Cadore, é compositora, iniciou sua carreira no oeste e mudou-se para o litoral do Estado em busca de novas oportunidades. Fez o seu cadastro no site logo no início do mapeamento. “Não pensei duas vezes na hora de participar desse projeto. Eu acredito que é muito importante estarmos juntas,  fortalecermos os projetos, nos apoiarmos. Santa Catarina tem artistas incríveis, que merecem muito serem conhecidas e ouvidas, valorizadas e que estão na luta pelo seu espaço no mercado”, complementa a artista, que prepara o lançamento de seu novo trabalho autoral.

Tatiana acrescenta “conhecer, visibilizar, respeitar e apreciar as mulheres na música catarinense a partir de suas próprias narrativas é um começo para a escrita de uma história mais justa que reconheça e valorize o nosso trabalho”.

Para Priscila Schaucoski, integrante e fundadora do Grupo Cirandela, onde atua desde 2009 como atriz, musicista e produtora, em Criciúma, no sul do Estado, fazer parte desse movimento é somar-se à essa rede de mulheres que fazem “Elas por Elas”. “Esse é um importante e necessário canal para evidenciar a potência e pluralidade da arte produzida pelas mulheres artistas catarinenses em seus mais diversos âmbitos da linguagem musical. É também um canal de conexão, encontro e fortalecimento das trabalhadoras da arte, que atua como um ponto de articulação de ações e reflexões sobre o fazer artístico nesse tempo espaço”, opina.

Disparidade de gênero

Segundo dados levantados pela União Brasileira de Compositoras, divulgados em março deste ano,  mulheres receberam somente 9% do total distribuído em direitos autorais ao longo de 2021. Considerando os rendimentos vindos do exterior, dos 100 maiores arrecadadores brasileiros de direitos autorais na área musical, somente 13 são mulheres. De acordo com a pesquisa Data SIM, divulgada pelo Folha de São Paulo em 2020, 60% das mulheres entrevistadas sentem que a dupla jornada é uma das maiores dificuldades da profissão, 84% das profissionais ligadas ao setor já foram discriminadas no ambiente de trabalho. Das 1.450 profissionais entrevistadas, 63% foram afetadas pelo viés de gênero e 21% não se sentem confortáveis no mercado de trabalho por serem mulheres. Ainda segundo pesquisa realizada pelo Spotify, também em 2020, apenas 10% das mulheres que trabalham com música são escaladas para festivais.

Para Ana Laura Diaz, produtora cultural de Chapecó, na região oeste, e diretora regional sul da Associação Brasileira de Festivais Independentes (Abrafin), é fundamental termos esse espaço de fortalecimento. “Para mudarmos a realidade desses índices e pesquisas é fundamental que desenvolvamos a comunicação entre nós mulheres, produtoras e artistas, e tenhamos esse espaço de encontro, mesmo não estando perto geograficamente. Se torna cada vez mais importante saber quem são essas profissionais, tendo a oportunidade de conhecê-las, acessar os seus trabalhos e fazer com que eles também estejam circulando e cheguem às comunidades”, pontua.

Acompanhe o Portal Elas por Elas pelo endereço:  https://www.elasporelas.art.br/ . No site também é possível acessar diferentes conteúdos, feito por mulheres artistas do Estado, como shows, podcast com diferentes temáticas na área musical, entrevistas e lançamentos, além de conhecer todas as artistas que se cadastraram no projeto. Acompanhe as informações também pelo  perfil no aplicativo Instagram .

Faça o seu cadastro

Se você é mulher, cis, trans, não binária, e atua na música em Santa Catarina, em qualquer setor da cadeira produtiva – compositora, instrumentista, produtora, técnica,  entre outras – faça o seu cadastro no  Portal Elas por Elas e entre para essa rede. Acesse o site, clique em “faça parte”, no menu superior da página e preencha o formulário.

O Portal Elas por Elas conta com o apoio da Maf Economia Criativa, Arapy Produções, Café Maestro Produções, Ueek Soluções Digitais, Portal Catarinas e Girassol Cultural.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.