Projeto da Cia de La Curva leva espetáculo teatral para escolas públicas localizadas na zona rural de Chapecó

Foto: Ringo Dominique

Como o acesso às ações culturais pode contribuir e complementar o fazer pedagógico dentro da escola? Fazendo essa pergunta, a Cia de La Curva, de Chapecó, desenvolveu um novo projeto “Tet a Tet no campo”, uma circulação do espetáculo teatral do grupo, com foco nas escolas públicas localizadas na zona rural de Chapecó. O projeto, idealizado pela Cia, aprovado pelo Edital de Fomento e Circulação das Linguagens Artísticas de Chapecó, em 2024, traz um objetivo muito simples: pensar  a cultura e a educação, como parceiras para o desenvolvimento das crianças e adolescentes.

“Quando nós pensamos em apresentações teatrais em escolas, primeiramente  visualizamos a oportunização do acesso aos bens culturais, que é um direito das comunidades. E, em segundo, pontuamos a importância dessa parceria cultura e educação para que esse acesso aconteça. Os benefícios de ações culturais acontecendo nas escolas são inúmeros, a começar por despertar o interesse dos alunos pelo ambiente escolar, trabalhar competências socioemocionais, estimular a imaginação, oportunizar múltiplas visões sobre o mundo, entre tantos outros”, explica Manon Alves, atriz da Cia de La Curva.

A circulação iniciou dia 28 de março na Terra Indígena Toldo Chimbangue, na Escola Indígena Fenno. As ações, totalmente gratuitas, prosseguem nesta quarta-feira, 02/04, na Escola Básica Municipal Sede Figueira, na Linha Sede Figueira, e 16/04 na Escola Básica Municipal Água Amarela, na Linha Água Amarela. Ao todo, serão beneficiados cerca de 500 alunos e professores.

Tet a tet – um diálogo sobre o real e o virtual

Em um tempo em que recursos digitais são utilizados cotidianamente por crianças e adolescentes, Tet a Tet – o mais novo espetáculo do repertório da Cia La Curva, propõe questionar essa interação. O trabalho, traz como base a palhaçaria, a partir de duas figuras vindas de um futuro distópico, motivadas por uma missão: fortalecer as conexões humanas neste tempo, a fim de salvar a humanidade de um futuro frio, com relações demasiadamente mediadas por recursos digitais. O espetáculo-jogo, sob o olhar do palhaço, questiona sobretudo a qualidade das interações ao vivo.

“As tecnologias modernas trazem benefícios inquestionáveis, porém, têm trazido preocupantes prejuízos no que diz respeito à interação social humana. O ponto é: enquanto o indivíduo está tendo qualquer interação virtual, o mundo real em que está inserido continua lá, acontecendo à sua frente, por isso a importância do equilíbrio”, acrescenta Manon.

Apoiados nestes questionamentos e considerando que o ser humano parte das relações sociais para perceber a si mesmo, a Cia traz a palhaçaria como um argumento para o espetáculo, como um intenso exercício do estar presente. “O palhaço está atento a tudo que acontece no aqui e agora, não existe quarta parede, brinca-se com a própria teatralidade, propõe-se um jogo sincero com o público. O espetáculo acontece em relação direta com o público, num contínuo jogo interativo entre palhaços e público e entre o público e público.  Quando fortalecemos a possibilidade do erro em contraponto a imagem “perfeita” e inalcançável recebida diariamente pelas redes sociais, alivia-se a pressão diária. Tét a Tét busca ser uma celebração do aqui e agora, das relações presenciais e da pluralidade de existências, oportunizando uma comunidade que ri junta, que se conecta, reconhece e identifica”, pontua Fernando Perri, integrante da Cia de La Curva.

De acordo com os atores, o intuito de circular com este tema por escolas é também o de apoiar a educação com um projeto transversal que enriquece o conteúdo pedagógico.

“Acreditamos ser imprescindível levar esse trabalho para o público jovem, crianças e adolescentes que estão, cada vez mais, frente às telas, e que estão construindo suas relações pelo mundo digital. Trazer essa lembrança de que as conexões, construídas ao vivo são fundamentais para o desenvolvimento humano e que precisamos mantê-las, é um dos focos principais dessa peça, e levar esse assunto pra dentro da escola torna esse momento ainda mais importante”, finaliza Fernando.

Multiplicação 

Além das apresentações, o grupo faz um bate-papo com os estudantes ao final de cada espetáculo, com o objetivo de aproximar artistas e comunidade, tirar a dúvida dos estudantes e aprofundar a temática abordada. O projeto prevê ainda três ações formativas com professores das escolas rurais por onde o projeto vai passar. A oficina de “jogos de improvisação teatral para sala de aula” se propõe a disponibilizar através da prática e do fornecimento de uma apostila em PDF, ferramentas lúdicas para que os docentes se conectem de forma dinâmica e afetiva com seus educandos.

 

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