Por Neri Pedroso.
Legitimado pelo Edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura – Dança 2022, o projeto A Mesa mergulha na história da dança para aludir, a partir da memória e do tempo contemporâneo, reflexões sobre a sociedade, a arte, a política e a condição humana. A iniciativa de pesquisa e formação voltada às artes do corpo evoca “A Mesa Verde” (1932), obra clássica da história da dança alemã criada por Kurt Jooss (1901-1979). Por meio da cena inicial do espetáculo realizado na Alemanha, a proposta é oferecer uma formação diferenciada em dança em Florianópolis para resultar numa montagem de quatro apresentações abertas ao público. Os interessados serão selecionados para 12 vagas e três suplências mediante inscrições que abrem hoje e se estendem até o dia 12 de fevereiro (veja serviço).
A ideia surgiu do encontro entre a proponente Diana Gilardenghi com Lucila Vilela, Vera Torres e Bia Vilela, todas com vasto currículo na cena cultural de Santa Catarina. Depois de estruturada a proposta convidaram a artista e professora Tejas para o trabalho de máscaras e a produtora cultural Crica Gadotti, para dar corpo ao projeto. A equipe se completou com Diogo de Haro na música, Esha no figurino, Ildo Francisco Golfetto no design, Cristiano Prim na fotografia e Alan Langdon no audiovisual.
A programação envolve uma oficina de pesquisa em danc?a (teo?rica), oficina de danc?a contempora?nea (pra?tica), oficina de criac?a?o de ma?scaras (pra?tica), oficina de montagem (pra?tica) e mostra/apresentac?a?o do resultado. As ministrantes são profissionais reconhecidas no campo da dança e das artes visuais. As oficinas serão sempre nos sábados e domingos, de 25 de fevereiro a 6 de maio, na Sala M., no Porto da Lagoa, na Ilha de Santa Catarina. A seleção levará em conta a disponibilidade de participação de forma integral em todas as etapas. Os critérios são experiência em artes do corpo, pluralidade, diversidade, capacidade e compromisso. Gratuitas, as inscrições abrem no dia 6 de fevereiro e encerram no dia 12, com o preenchimento de um formulário. O resultado da seleção será divulgado no dia 16 de fevereiro.
A montagem será alicerçada por debates e ações relacionadas ao processo artístico e formativo para ampliar o repertório conceitual e artístico dos participantes, aprimorar o estudo do corpo e fomentar processos, técnicas de improvisação e criação em dança contemporânea. A prática, a pesquisa e o diálogo com uma produção histórica colabora, segundo as idealizadoras do projeto, para o desenvolvimento do ensino da dança na cidade.
Oficinas com profissionais renomadas
O processo de formação e criação em favor de um novo trabalho artístico será conduzido por Diana Gilardenghi, Bia Vilela, Vera Torres, Lucila Vilela e Tejas, cujos conhecimentos fundamentais estarão voltados à montagem cênica que ganhará formato nas quatro oficinas complementares de 55 horas.
A oficina teórica de pesquisa em dança prevê quatro aulas de duas horas com as professoras Lucila Vilela e Vera Torres, para aprofundar e compreender a dança expressionista alemã, do início do século 20, e suas implicações sociais e políticas. Uma das intenções é estabelecer paralelos com a dança contemporânea brasileira, do início do século 21, especificando o contexto catarinense.
A oficina prática de dança contemporânea em oito aulas de duas horas, com técnicas de percepção, conscientização e preparação corporal, será ministrada pelas professoras Diana Gilardenghi e Bia Vilela. A terceira oficina, de criação de máscaras, também prática, prevê quatro aulas de três horas de aprendizagem com a professora Tejas que irá compartilhar os princípios básicos da pesquisa e elaboração das figuras: molde de gesso e base da argila, negativo de gesso, pintura e acabamento.
Por fim, a oficina de montagem engloba quatro encontros de quatro horas práticas para a montagem do trabalho em diálogo contemporâneo com “A Mesa Verde”, de Jooss. O processo de criação envolverá exercícios de improvisação e criação em dança.
O resultado disto tudo? Um presente para a cidade que poderá ser apreciado em uma mostra com quatro apresentações de 40 minutos com entrada gratuita e aberta ao público.
A arte, a política e as escolhas humanas
O caráter atemporal de “A Mesa Verde” (1932), de Jooss, aciona o projeto catarinense e permite aproximar situações e temporalidades distintas. Da Alemanha pré-nazista para o atual contexto político-social brasileiro é entender a dança como potência política. A importância histórica e artística serve como fundamentação teórica e conceitual para pensar a dança atual.
Concebida no entreguerras, a peça de Jooss tem enorme repercussão pois antecipa o movimento nazista que, logo depois, ocupa a Alemanha. O coreógrafo pesquisa as danças macabras medievais e trabalha sobre as gravuras “The Dance of Death” (1523/25), de Hans Holbein (1498-1543). Ao compor o tema da morte intercalado com as conferências diplomáticas, critica o jogo político e a responsabilidade com as vidas humanas, traz para a arte a sensibilidade de uma época.
Trata-se de uma obra que não se limita ao seu momento de criação. “A Mesa Verde” suscita até hoje novas montagens, inquietações e reflexões. A leitura do contexto social e político e o modo como organiza a cena, com a vida de uma população sendo decidida numa mesa composta por velhos políticos, transforma o espetáculo em uma referência para pensar a sociedade, a arte, a política e as escolhas humanas.
EQUIPE TÉCNICA
Coordenação: Diana Gilardenghi e Lucila Vilela
Produção geral: Crica Gadotti, Lucila Vilela e Vera Torres
Produção executiva: Crica Gadotti
Oficinas de dança: Diana Gilardenghi e Bia Vilela
Oficina teórica: Lucila Vilela e Vera Torres
Oficina de máscaras: Tejas
Composição e execução musical: Diogo de Haro
Figurinista: Esha
Fotografia: Cristiano Prim
Filmagem e edição: Alan Langdon
Design gráfico: Ildo Francisco Golfetto
Assessoria de imprensa: Néri Pedroso
SERVIÇO
O quê: inscrições para oficinas do projeto A Mesa (12 vagas)
Quando: 6.2. até 12.2.2023 (resultado em 16.2.2023)
Onde: formulário de inscrição https://forms.gle/
Quanto: gratuito