Proibida a entrada de menores com boné, chinelo, regata…

proibida-entradaPor Daniel Librelato Massuco.

O aviso em destaque está fixado na porta de entrada de um bar aqui em Orleans (SC). Ao ler o recado das letras menores fiquei bastante impactado. Eu mesmo bati a foto, do contrário teria dificuldades de acreditar no que li e no que senti. O foco da minha consternação não está no aviso na menoridade, mas, sim, no que está abaixo dele, ao que muitos gostam de chamar de dress code.

Sobre minhas opiniões, quando tenho receio de seguir por um caminho extremista, pergunto para várias pessoas de minha confiança o que elas pensam acerca do assunto. Neste caso, muitas também ficaram indignadas enquanto outras, em menor número, falaram que se for esta a opinião dos donos do local, há de ser respeitada.

Pois bem, durante minha carreira enquanto jornalista eu tive contato com muitas histórias. Várias delas permenacerão um longo tempo em minha memória. Quando li o recado escancarado na porta do local, uma destas histórias veio imadietamente na cabeça.

Há três anos, durante uma pauta sobre o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, entrevistei o casal presidente do Clube Etnia Negra, aqui de Orleans. Dentre tudo o que conversamos, um dos pontos mais chocantes foi saber que existia um clube no centro de Orleans em que havia uma corda que dividia o salão para que negros ficassem de um lado e brancos do outro. Antes da existência da corda, os negros não podiam sequer entrar. Não é difícil imaginar o quanto de preconceito havia nisso e em que local ficavam as melhores opções.

Enquanto eles falavam, dava para sentir por meio das expressões de ambos o misto de vergonha e de dor por quem sofre na pele o peso imbecil da discriminação.

Enquanto eu olhava para placa, automaticamente pensei que no futuro sentirei vergonha ao falar para uma pessoa mais jovem que, em 2017, pessoas estereotipadas não podiam entrar em um local que, na época, era frequentado pelos universitários da cidade, os quais eram para ser a geração pensante do momento, mas que nada disso o tinham, pelo contrário, comportavam-se igualmente aos que não viam nada de estranho à época da corda que dividia brancos e negros.

Orleans tem pouco mais de 20 mil habitantes e insiste – como em boa parte do mundo – em querer abrilhantar um elitismo ridículo, vil, o qual produz uma horda de bajuladores enclausurados em uma mente oca de ideias e de empatia. O mundo está em perigo, recados segregacionistas escancarados em uma porta de entrada em uma cidade pequena pode fomentar um número sem fim de comportamentos que irão impedir as pessoas de se conectarem, de se gostarem realmente, de se enxergarem e sorrirem de verdade umas para as outras, sem dar valor algum às vestes e a classe social (vergonha novamente de ainda ter que digitar a existência de diferentes classes) a qual a pessoa supostamente está inserida.

Para mim está bem claro que o local da placa não quer que o pobre dos bairros postos à margem da zona de conforto dos elitistas não entre. Engraçado é que vi um cara entrar na casa vestindo um boné, mas ele era de uma família rica da cidade, e ninguém da casa fez nada, do contrário, sorriram abertamente.

Já é bem sabido que o caminho doentio no qual a maioria das sociedades está a seguir é porque muitos se calaram. Com isso, muitos se separaram. A história da humanidade está recheada de atos cujo principal interesse era separar as pessoas. É hora de dar um basta ao silêncio e termos coragem para conversarmos verdadeiramente sobre o futuro que queremos construir com nossas ações no presente, ou seja, agora.

Fonte: Daniel Librelato Massuco

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