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“Estava resolvendo problemas pessoais na região da Cinelândia e, quando atravessava a Rua Evaristo da Veiga, fui atingida por uma violenta cotovelada. O agressor era um homem branco, usava um boné verde e amarelo do Brasil e camisa da seleção brasileira, portava um celular, e com o mesmo braço que segurava o telefone deu uma forte cotovelada no meu peito”.
É assim que começa a postagem de Jaqueline Gomes de Jesus, professora e pesquisadora trans, sobre a agressão sofrida na última quinta-feira (11/10) na região da Cinelândia (RJ). Jaqueline é professora no IFRJ (Instituto Federal do Rio de Janeiro), e psicóloga, com doutorado em Psicologia Social, do Trabalho pela UnB (Universidade de Brasília) e pós-doutorado pela Escola Superior de Ciências Sociais, da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. Também é autora dos livros “Homofobia: identificar e prevenir”, “O que é racismo?” e organizadora do “Transfeminismo: Teorias e práticas”. Mulher transexual e negra, ela foi uma das 52 candidaturas de pessoas trans nas eleições de 2018.
De acordo com o relato da professora, a cotovelada foi tão forte que ela se desequilibrou, mas foi socorrida por duas pessoas que trabalhavam em uma banca de jornais próxima do local. Até esse momento, a atitude do agressor, que continuou falando ao telefone, mostrava que tudo poderia ser apenas um incidente.
“Enquanto eu me recuperava da dor e do susto, o senhor que me socorreu foi em direção ao homem perguntar porque tinha feito aquilo. O homem nada respondeu e seguiu seu caminho, sob os olhares assustados de frequentadores do bar ao lado”, continua a professora.
Depois de tomar um medicamento que tinha na sua bolsa, pediu um táxi e foi para casa. Lá, percebeu que o local atingido doía e agora estava com uma vermelhidão.
“Após muito refletir com amigos e parceiros de militância, suspeitamos fortemente que eu fui alvo de uma agressão intencional, já que acabamos de sair de uma campanha em que fui candidata a deputada estadual pelo PT-RJ. Esta área da cidade é uma onde atuei prioritariamente e onde meu rosto pode ter ficado mais conhecido, assim como meus discursos incisivos na defesa das mulheres, da população negra e LGBTI”, argumenta Jesus.
Em seu relato, a professora também destaca que, durante a sua campanha, foi alvo de ataques sistemáticos de perfis conservadores “bastante agressivos agindo em massa e de forma coordenada com injúrias, xingamentos e práticas explícitas de transfobia e racismo” em suas redes sociais. A professora acredita que a agressão foi realizada por um eleitor do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). Nos últimos dias, mais de 50 ataques foram realizados por apoiadores de Bolsonaro no país.
“A conexão imediata que fazemos é que a descrição do agressor que me atingiu gratuitamente e silenciosamente na rua traz consigo os signos que os eleitores do candidato Jair Bolsonaro têm costumado utilizar. Além de ser óbvia a vulnerabilidade do meu corpo transvestigênere pelas ruas, despertando o ódio daqueles que nesse momento querem restringir as liberdades individuais e coletivas”, finaliza Jaqueline.
A professora registrou uma queixa por meio de um Comunicado de Ocorrência na Delegacia Online da Polícia Civil do Rio de Janeiro.