Prioridade para a esquerda no Foro de São Paulo é o consenso de Nossa América

foro de sao pauloA capital de El Salvador, San Salvador, receberá nos próximos dias o 22º Encontro do Foro de São Paulo, um espaço para a reflexão e a concertação política entre as forças e os partidos de esquerda da América Latina e do Caribe.

Sobre esse encontro, os desafios que a região enfrenta, a imprescindível unidade de nossos povos e a proposta que Cuba leva a este Foro, o jornal Granma, órgão oficial do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba, entrevistou Francisco Delgado Ro­dríguez, membro do Departamento de Relações Internacionais do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba.

Granma – Tendo em conta a conjuntura atual da América Latina, quanto é necessário articular um consenso?

Francisco Delgado Rodriguez – Trata-se de um problema estratégico. A unidade da es­querda foi necessária ontem, é necessária hoje e será necessária sempre. Creio que sem a unidade – parafraseando o que Fidel disse em 1993 – a América Latina não tem futuro. Por isso é muito importante o trabalho que se possa fazer, as articulações políticas que se possam desenvolver em eventos, em intercâmbios bilaterais, no trabalho cotidiano das forças políticas de esquerda em busca dessa unidade.

Há bastante consenso sobre a necessidade de consolidar a unidade da esquerda. A própria existência do Foro de São Paulo, que vai realizar seu 22º encontro em San Salvador, de 23 a 26 de junho, é uma mostra desse esforço e dessa busca permanente da articulação em um universo muito diverso, em uma realidade ideológica e política onde confluem raízes diferentes, mas ao mesmo tempo predominam as coincidências no programa ou nos objetivos estratégicos desta esquerda ou dos projetos progressistas em general.

Quais poderiam ser os primeiros passos para alcançar esse consenso?

Em uma reunião do Grupo de Trabalho do Foro de São Paulo, que se realizou em 13 de março deste ano no México, houve concordância em elaborar um programa político da esquerda e cada partido vai propor seus critérios sobre o que esse programa político deve conter. O Partido Comunista de Cuba está elaborando suas propostas e o mesmo vai ocorrer com os demais partidos e forças, e inclusive personalidades, organizações sociais, todos aqueles que de alguma maneira queiram contribuir. Chamamos esse programa de “Consenso de Nossa América” para contrapô-lo ao chamado “Consenso de Washington”, que foi um dos documentos fundadores que tratou de dar uma uma ideia do que seria o neoliberalismo.

Qual é o conteúdo desse programa proposto por Cuba?

A proposta de Cuba consta de um Preâmbulo no qual se explicam os objetivos essenciais, reitera-se que nosso horizonte é pós-capitalista, que nosso inimigo principal é o imperialismo e que nossa luta é uma só, com visões, raízes diversas mas com propósitos parecidos ou iguais.

Tem também um Diagnóstico da situação da América Latina e do Caribe que não é uma análise conjuntural. Dá-se ênfase a problemas profundos, que perduram, como o subdesenvolvimento, o atraso no desenvolvimento científico, o impacto da transnacionalização e do neoliberalismo na etapa atual, pelo que a América Latina continua sendo a região mais desigual apesar de todos os avanços que já conhecemos, sobretudo dos governos progressistas, que tiveram um impacto na melhoria da forma e da qualidade de vida das pessoas com métodos e caminhos mais pertinentes.

A partir daí se faz um conjunto de Propostas que têm a ver, por exemplo, com criar modelos que sejam altamente produtivos, que eliminem ou superem o fenômeno da monoprodução e da monoexportação ou da desindustrialização que de uma maneira ou outra tem-se sofrido disso nos últimos anos, que proponha reformas constitucionais as mais radicais possíveis, que encare dificultades como este liberalismo do século dezenove que encabeça esta onda latino-americana e vá ao fundo para resolver os problemas da distribuição das riquezas.

Ademais, o documento tem um conjunto de critérios que poderíamos chamar de Valores Compartilhados, ou seja, quais são aqueles valores ou princípios que distinguem a esquerda: a solidariedade, a honestidade, a modéstia, a vocação unitária, o anti-imperialismo, a integração de nossa América Latina e Caribe, e a Celac tem de ser estratégica nisto.

Por último, um capítulo que pode ser denominado o Ins­tru­men­to político que define com que força política ou com que conjuntos de forças políticas vai aplicar-se este programa. Nisso influem as características dessas forças políticas, a formação política e ideológica, a honradez, os níveis de organização, o trabalho com as massas populares, entre outras coisas. Pro­pomos algo que foi útil, que as direções nacionais, e se for possível as locais, tenham profissionalismo, quer dizer, quadros dedicados a isto e para isso tem que haver uma formação de quadros.

É um projeto ambicioso que recolhe coisas diversas que alguns têm e outros não. Diferencia-se de um projeto eleitoral sobretudo porque é a longo prazo e por definição é estratégico, suas diretrizes são para períodos mais prolongados e os programas eleitorais são para menos tempo e portanto, não contêm tudo o que este programa político está propondo.

Em que fase estamos?

Em uma fase essencial, está começando, sabemos que algumas forças políticas trabalharam, mas a decisão que o Grupo de Trabalho tomou é que todas as propostas sejam recebidas pelo Partido do Trabalho do México. Nosso documento está em fase de aprovação pela direção do Partido, é a proposta do Partido Comunista de Cuba, não de uma pessoa, e isto levou um processo de análise. Penso que em finais deste primeiro semestre já teremos este documento pronto para enviá-lo ao PT do México.

Este é antes de tudo um programa ideológico, uma conformação de uma proposta política e ideológica que tem de estar a cargo das forças políticas, agrupamento ou partidos políticos, ou coalizões ou frentes amplos, não há uma definição rígida de quem em cada país deve fazê-lo. Por isso cremos que está no âmbito do Foro de São Paulo e neste programa poderiam participar forças políticas que por determinadas razões não participam no Foro mas têm essa vocação de mudança ou cumprem, respeitam esses valores compartilhados.

Este processo não tem data para terminar, creio que por sua complexidade ainda não poderia ser definido o prazo. Tem um papel pedagógico pois identificamos agrupamentos políticos de esquerda que nem sequer têm em conta a necessidade de um programa político, conduzem-se com programas eleitorais, improvisações e até a própria luta nesses países é muito complexa. Faz falta gente com preparação política mas também acadêmica, de experiência. É a soma de muitas vontades, de muitos saberes; por isso têm um caráter pedagógico que podia estimular uma forma de atuar.

Nossos adversários, o imperialismo, têm uma coordenação, uma articulação que surpreende às vezes pelo monocórdico que é e nós às vezes desvariamos, não nos pomos de acordo, custa-nos mais trabalho, e sem unidade real, como dizia no início, a América Latina e o Caribe não têm futuro.

Fonte: Granma; tradução da redação de Resistência.

Fonte: Blog do Renato Rabelo.

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