Primeiro-ministro francês é acusado de não ter agido contra crimes sexuais em escola católica

O cenário político francês, marcado pelas recentes mudanças de primeiro-ministro e de disputas entre partidos, segue agitado. O chefe do governo, François Bayrou, que assumiu em 13 de dezembro de 2024, enfrenta sua primeira grande crise: uma história que envolve agressões sexuais e múltiplas violências cometidas contra alunos, em um colégio próximo ao seu reduto eleitoral, na região sudoeste da França.

Foto: Frédéric Dugit

A polêmica já dura duas semanas. O primeiro-ministro nega ter conhecimento dos casos de violência cometidos ao longo de décadas contra os estudantes do colégio católico Notre-Dame de Bétharram, localizado nos Pireneus Atlânticos, bem próximo à cidade de Pau, seu reduto eleitoral e onde ele acumula até hoje o cargo de prefeito. Mas os opositores denunciam a sua responsabilidade, especialmente por conta das funções que ele desempenhou ao longo dos últimos anos.

O colégio, conhecido por seu sistema de ensino rigoroso, está sendo acusado de crimes que aconteceram desde a década de 1950 até 2010. Antigos alunos acusaram o padre Henri Lamasse de ter cometido abusos sexuais no dormitório do estabelecimento no fim dos anos 50. Cerca de 20 ex-alunos denunciaram também um “regime de terror”, ao longo dos anos 80 e 90, com acusações de estupros cometidos por padres, e outras violências físicas, morais e sexuais.

Em 1997, o padre Silviet-Carricart foi acusado de ter estuprado um aluno em diversas ocasiões quando ele era diretor do estabelecimento. Ele foi indiciado e preso, antes de ser libertado após duas semanas e mandado para o Vaticano, onde cometeu suicídio um ano e meio depois.

Somente em 2021 que uma Comissão de Reconhecimento e Reparação (CRR) foi criada para ouvir e compensar vítimas de violência sexual cometida por membros de institutos religiosos. Com isso, cerca de 15 ex-alunos do Bétharram foram ouvidos, reconhecidos como vítimas e indenizados pelo CRR.

Vista do pátio da escola católica Notre-Dame de Bétharram, nos Pireneus Atlânticos, 20 de agosto de 2024.
Vista do pátio da escola católica Notre-Dame de Bétharram, nos Pireneus Atlânticos, 20 de agosto de 2024. AP – Christophe Ena

Mas foi no final de 2023 que um grupo de ex-alunos criado no Facebook acabou ganhando notoriedade, com vários deles apresentando queixas que resultaram na abertura de um inquérito judicial por parte do Ministério Público de Pau e a publicação de diversos testemunhos na imprensa. Até hoje, mais de 100 queixas foram apresentadas, em um caso de enormes proporções.

Qual a ligação com o primeiro-ministro francês?

François Bayrou está sendo chamado a se explicar por conta da sua proximidade com o colégio. Primeiramente porque ele ocupou diversos cargos políticos na região. Além disso, três de seus filhos estudaram em Notre-Dame de Bétharram. Um de seus filhos estava, inclusive, na mesma turma de um aluno espancado por um supervisor geral em 1996.

A esposa de Bayrou, Elisabeth, ensinava catecismo na mesma escola e, segundo o veículo de imprensa Mediapart, ela teria comparecido ao funeral do padre Silviet-Carricart, que se suicidou em 2000, quando foi alvo de denúncias. Segundo o porta-voz das vítimas, Alain Esquerre, o clérigo era “amigo da família Bayrou”.

François Bayrou foi ministro da Educação entre 1993 e 1997, quando surgiram as primeiras acusações contra a escola. Uma antiga professora disse, inclusive, que o então ministro foi informado na época.

Bayrou nega conhecer acusações

Diante das denúncias e cobranças por um posicionamento, o primeiro-ministro denuncia o que ele chama de “mecânica do escândalo”. O premiê afirma não conhecer as vítimas e nem os casos, e denunciou os ataques sofridos por ele e sua família.

“O que interessa é conseguirem montar um escândalo que tenha repercussões políticas no governo e no primeiro-ministro”, insistiu, dizendo já ter “provado que quando informado de uma bofetada [na escola, ele] solicitou uma fiscalização geral” no estabelecimento.

(Com AFP e agências)

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