Por Johannes Myburgh.
Centenas de médicos cubanos começaram a abandonar o Brasil na madrugada desta sexta-feira 23, com destino a Havana, depois da decisão de seu governo de suspender a participação no programa Mais Médicos, devido às críticas do presidente eleito, Jair Bolsonaro.
Com várias horas de atraso, o primeiro voo fretado da estatal Cubana de Aviação decolou de Brasília com mais de 200 profissionais. Outro grupo viajará nas próximas horas, em um total de 430 profissionais. Assim, começa a retirada dos mais de 8.300 cubanos que atuavam no programa e que devem sair do Brasil até 12 de dezembro.
Carregando volumosa bagagem, incluindo muitos eletrodomésticos (difíceis de adquirir em Cuba), os médicos cubanos se aglomeraram no aeroporto de Brasília desde o início da tarde.
“Nas primeiras horas desta sexta-feira começarão a chegar à Pátria os apóstolos da saúde cubana que são #MasQueMedicos. Nossa homenagem a estes homens e mulheres que fizeram história no Brasil. Bem-vindos para casa”, escreveu no Twitter o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, que deve receber os médicos no aeroporto.
Essa primeira leva de médicos parte apenas uma semana após Cuba anunciar que abandonaria o programa Mais Médicos, do qual participava desde sua criação, em 2013, através da Organização Pan-Americana da Saúde (OPS).
A decisão de Havana foi provocada pela posição de Bolsonaro de condicionar a permanência dos médicos cubanos à aprovação em exames para revalidar suas competências, ao recebimento dos salários integrais e à autorização para a vinda de suas famílias ao Brasil.
“Eu acho que é um pouco ruim para o povo brasileiro, principalmente para o povo pobre, que se va a sentir a falta dos 8.500 médicos cubanos que estão indo embora”, declarou o médico Joendri Vera Fernández enquanto aguardava para despachar sua bagagem.
Programa
Lançado em 2013 pela presidente Dilma Rousseff, o programa Mais Médicos permitiu dar assistência à população das regiões mais pobres e rurais do Brasil, principalmente graças à chegada de profissionais cubanos, que atualmente ocupavam metade dos postos do programa.
No contrato, a Ilha pagava um salário aos seus médicos em missão de cerca de 30% do valor desembolsado pelo Brasil, mantendo seus salários e postos de trabalho em Cuba e dedicando o restante do dinheiro ao orçamento estatal.
“É a situação de praticamente escravidão a qual estão sendo submetidos os médicos e as médicas cubanas do Brasil. Imaginou confiscar da senhora 70% do seu salario?” – questionou Bolsonaro.
O Ministério da Saúde abriu inscrições para preencher as vagas com médicos brasileiros e, posteriormente, com profissionais estrangeiros.
O processo de seleção terminará este mês e os profissionais vão se apresentar aos municípios imediatamente.
Os médicos e paramédicos cubanos trabalham em 67 países, uma prática iniciada nos primeiros anos da revolução de Fidel Castro em 1959 e que foi qualificada como “diplomacia de jalecos brancos”.
Estes serviços representam a principal fonte de renda da ilha, com 11 bilhões de dólares ao ano, acima do turismo e das remessas do exterior, embora em muitos casos Cuba ofereça cooperação gratuita, como acontece no Haiti.