Prevent Senior assina acordo com MP e afirma que publicou inverdades sobre a cloroquina

Seis pessoas ligadas à empresa foram acusadas de crimes contra a humanidade pela CPI da Covid por uso de kit ineficaz

“Os resultados divulgados pela empresa ou por terceiros acerca da eficácia da cloroquina e hidroxicloroquina não correspondiam efetivamente a uma pesquisa científica”, diz nota da empresa – Guilherme Gandolfi

Por Lucas Rocha.

A Prevent Senior, um dos alvos da CPI da Covid por sua atuação durante a pandemia do novo coronavírus, admitiu em documento divulgado nesta segunda-feira (29) ter mentido sobre a suposta eficácia da cloroquina e hidroxicloroquina. A empresa de planos de saúde suspendeu o chamado “Kit Covid” após a assinatura de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público de São paulo (MP-SP).

“Os resultados divulgados pela empresa ou por terceiros acerca da eficácia da cloroquina e hidroxicloroquina não correspondiam efetivamente a uma pesquisa científica, limitando-se a dados obtidos internamente para fins estatísticos, sem qualquer tipo de viés científico”, afirma trecho de comunicado envidado pela Prevent a seus associados (leia a íntegra ao fim desta reportagem).

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Para a assinatura do TAC, a promotoria do MP-SP solicitou inúmeras alterações no comportamento da direção da empresa. Entre elas estava a suspensão da utilização do “Kit Covid” da Prevent, com medicamentos comprovadamente ineficazes no tratamento contra a covid-19, como hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina.

O acordo prevê, também, que a Prevent Senior não realize mais pesquisas sem autorização dos órgãos competentes, além da criação de um conselho gestor de fiscalização. Conforme sugestão da promotoria, este conselho funcionaria com 50% de integrantes associados, 25% de diretores da operadora e 25% de funcionários.

A assinatura do TAC, contudo, não é definitiva. O MP-SP quer continuar o diálogo com a Prevent Senior, com o objetivo de obter novos ajustes. Na instância criminal, a Polícia Civil começou, recentemente, a colher depoimentos de testemunhas e deve se aprofundar nas denúncias feitas durante as sessões da CPI.

Seis pessoas ligadas à Prevent Senior, incluindo o dono Eduardo Parrillo, estão entre os que foram acusados pela CPI de cometerem crimes contra a humanidade.

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No relatório final da CPI foi apontado que a empresa “adotou medicamentos do chamado “kit-covid” para o tratamento precoce de seus pacientes e realizou experimento científico com a utilização desses fármacos, mas sem autorização do Conep”.

“Ainda há indicativos de que, mais que buscar tratamento para o novo coronavírus, a operadora de saúde pretendia se autopromover com tais ações, afinando-se com o discurso de tratamento precoce defendido pelo Chefe do Executivo Federal e propagandeando resultados de um tratamento que carecia de todo um respaldo metodológico (sem uso de placebo, duplo cego ou randomização)”, destaca o texto

“Essas condutas ganham especial desvalor quando se verifica que a prescrição e a entrega dos referidos fármacos e suplementos eram feitas de maneira automática, sem que se analisassem eventuais peculiaridades do paciente, tais como comorbidades, e sem exames clínicos prévios. Após o contato do paciente com a operadora de saúde, o kit-covid era entregue na sua residência. Assim, qualquer sintoma relevante da covid-19 passaria despercebido e, em muitos casos, quando os pacientes decidiam retornar ao hospital, já chegavam com um quadro de saúde mais grave”, afirma a CPI.

Confira o comunicado divulgado pela Prevent na íntegra:

Prezados beneficiários,

A Prevent Senior continua e continuará prestando a assistência necessária aos beneficiários, visando sempre a segurança e qualidade dos atendimentos. 

Ao longo desta pandemia, foram investidos R$ 350 milhões em novas unidades e equipamentos. 

Os planos de investimento e aprimoramento da qualidade continuam. Vamos inaugurar cinco novas unidades hospitalares em São Paulo, para melhor atender nossos clientes até o final de 2022. 

Seguindo o compromisso com a ética e transparência que sempre norteou a nossa atuação, a Prevent Senior vem a público esclarecer que foi firmado com o Ministério Público do Estado de São Paulo um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), no dia 22 de outubro de 2021. 

O TAC consiste em um instrumento jurídico por meio do qual a empresa se compromete a rever e eventualmente ajustar determinadas ações. O referido instrumento, ao mesmo tempo, reforça a boa-fé e a constante busca pelo aprimoramento dos procedimentos internos por parte da empresa.

Como pactuado, a Prevent Senior se compromete a divulgar, neste comunicado, o que segue:

  1. Os resultados divulgados pela empresa ou por terceiros acerca da eficácia da cloroquina e hidroxicloroquina não correspondiam efetivamente a uma pesquisa científica, limitando-se a dados obtidos internamente para fins estatísticos, sem qualquer tipo de viés científico; 
  2. A Prevent Senior não obteve autorização do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) para a realização de estudos científicos  envolvendo a cloroquina e a hidroxicloroquina; 
  3. Inexiste a conclusão de qualquer pesquisa científica realizada pela Prevent Senior que conclua pela eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina ou de demais medicamentos do denominado “kit Covid”, para tratamento da COVID-19;
  4. Inexiste qualquer pesquisa científica realizada pela Prevent Senior que ateste a eficácia de algum tipo de tratamento precoce ou preventivo para pacientes suspeitos, confirmados ou mesmo sem COVID-19.

Vale mencionar que a Prevent Senior segue colaborando com as investigações conduzidas pelas autoridades competentes no contexto de sua atuação frente à pandemia da Covid-19.

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