Por José Eduardo Bernardes.
No Brasil, a questão da terra é um problema crônico na história brasileira, mas se torna mais evidente em todo 17 de abril, quando a luta camponesa demonstra que resiste à impunidade e às violências históricas.
Vinte e quatro anos anos após o Massacre de Eldorado do Carajás, no Pará, apenas os comandantes Mário Pantoja e José Maria de Oliveira foram condenados dos 155 policiais militares responsáveis pelos assassinatos de 21 camponeses na Curva do S – mas cumprem pena em regime aberto.
A impunidade, que percorre a história do crime, ganha coro nos discursos de Jair Bolsonaro (sem partido) de incitação à violência no campo e refletem os dados mais recentes apurados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). Em 2019, foram registrados 1.833 conflitos no campo, um aumento de 23% em relação a 2018. Do total, 71% das famílias envolvidas viviam na amazônia, região onde se concentraram também 84% dos assassinatos.
::Solidariedade do MST busca mostrar que o inimigo, além do vírus, é o capitalismo::
Em entrevista ao Brasil de Fato, Gilmar Mauro, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), relembra o massacre que aconteceu no ano de 1996 e ganhou manchetes no mundo pela brutalidade da ação militar.
“Foi um período de muitas mortes, muitos assassinatos. Evidentemente que não era uma coisa aberta. Mesmo o governo de Fernando Henrique aplicando uma política neoliberal, não estimulava como hoje o presidente da república estimula abertamente essa matança, seja contra índios, negros, LGBTs, sem-terra e movimentos populares.”
A liderança do MST também discute a questão agrária em tempos de covid-19. Ele alerta para o risco da fome atingir o campo por conta da falta de políticas do governo federal à agricultura familiar – responsável por 70% do alimento consumido pelos brasileiros –, em especial pelo desmonte dos programas de armazenamento de alimentos.
“Evidentemente que Eldorado do Carajás marcou a historia do MST, e da luta camponesa também no mundo, porque a partir dele se estabeleceu o 17 de abril como o Dia da Luta Internacional pela Reforma Agraria. Mas hoje nós estamos vivendo um contexto de um massacre de outro tipo, de outra natureza, talvez híbrido, não só pela pandemia, a pandemia é parte disso”, define Mauro.
Acompanhe a entrevista: