O comandante das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Timoleón Jiménez, e o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, assinaram nesta quinta-feira (24/11) o novo acordo de paz entre a guerrilha e o governo.
Na cerimônia realizada no Teatro Colón, em Bogotá, estiveram presentes representantes da guerrilha e do governo, além de vítimas do conflito e representantes de países mediadores e apoiadores dos diálogos de paz que tiveram lugar em Havana, Cuba, nos últimos quatro anos.
O novo acordo foi alcançado após mais de 40 dias de renegociação depois da rejeição popular à primeira versão do acordo, assinada em setembro em Cartagena, no norte da Colômbia, e proposta à população no referendo de 2 de outubro. Anunciado em 12 de novembro, o novo pacto, assinado hoje em Bogotá, segue para ser referendado pelo Congresso colombiano ao longo da próxima semana.
Agência Efe
Novo acordo foi assinado em Bogotá, capital colombiana
“Que a palavra seja a única arma dos colombianos”, declarou Jiménez, comandante das FARC, em discurso após a assinatura do documento. “Vivemos mais de sete décadas de violência, meio século de guerra aberta, 33 anos em processo de diálogos” para chegar a este momento, enumerou o guerrilheiro, lembrando também “o desencanto do passado outubro”, quando, com apenas 50 mil entre 13 milhões de votos, o “não” venceu o referendo sobre o primeiro acordo.
Na etapa de renegociação após a derrota no referendo, “modificamos e enriquecemos o último acordo, tendo em conta as observações e recomendação dos mais variados grupos sociais, partidos políticos e líderes”, disse Jimenez. “Introduzimos mudanças substanciais ao texto antigo até converter o acordo final em definitivo”, disse.
O comandante das FARC agradeceu as as organizações de mulheres da Colômbia, o movimento LGBTI, os jovens, as comunidades indígenas, camponesas e afrodescendentes, personalidades da Igreja Católica, acadêmicos e apoiadores do acordo de paz entre as FARC e o governo espalhados pelo mundo.
“Este acordo de paz vos pertence porque ajudaram a construí-lo com suas esperanças e ações. O povo está farto de violência, intolerância e preconceitos. Quer e exige mudanças profundas de costumes políticos como a corrupção, a mentira, o engano”, afirmou.
“A primeira demanda nacional é que se ponha fim ao uso das armas na política”, disse Jiménez, que lembrou dos frequentes assassinatos de lideranças sociais e camponesas e defensores de direitos humanos no país, criticando “a indolência do governo nacional”. “Que se garanta o direito de fazer oposição e protestar contra políticas e leis injustas. Que a vida, a integridade pessoal, a liberdade de movimento e pensamento sejam reais”, clamou.
Agência Efe
A cerimônia de assinatura do novo acordo de paz foi realizada no Teatro Colón, em Bogotá
Santos disse também que o novo pacto fará valer os direitos das vítimas “à verdade, à reparação, à justiça e à não repetição” ao garantir que “os responsáveis pelos crimes ou delitos de guerra e de lesa humanidade serão investigados, julgados e sancionados, e repararão as vítimas com seus próprios bens”.
O presidente também destacou que o novo acordo prevê “que as ideias se expressem e se defendam em uma democracia fortalecida” e que “as FARC, como um partido sem armas, poderá se apresentar e promover seu programa poítico. Serão os colombianos que, com o voto, os apoiarão ou os rechaçarão” nas urnas.
Ele defendeu mais uma vez a legitimidade do Congresso para referendar o novo acordo, um dos principais pontos de dissenso entre o governo e a oposição, que insiste que seja convocado um novo plebiscito. “O novo acordo de paz será discutido no Congresso, para que sejam os representantes eleitos pelos colombianos que o referendem e o implementem, sob o controle da Corte Constitucional”, a mais alta corte colombiana.
“É a essência da democracia. Ali [no Congresso] se analisam e decidem os temas mais importantes para o país, para os cidadãos, e a paz é o mais importantes entre todos os assuntos da nação”, disse Santos.
O presidente explicou que, a partir do Dia D da aprovação do novo acordo no Congresso, que deve acontecer na próxima semana, “as FARC deixarão de existir como grupo armado”. “Nos próximos 90 dias se iniciará o abandono das armas, e em 150 dias todas as armas das FARC estarão nas mãos das Nações Unidas.”
“Este novo acordo nos permite trabalhar juntos, como nação, para aproveitar as oportunidades de crescimento e progresso”, disse Santos, que pediu união entre os colombianos para “assumir essa imensa responsabilidade” de “construir um país em paz”. “Quero convidá-los que, com a mente e o coração abertos, demos uma oportunidade à paz”, disse o presidente.