A decisão do governo Bolsonaro de recrutar militares da reserva não reduzirá a fila de pedidos de benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A opinião é de servidores do órgão, em reportagem de Jô Miyagui, no Seu Jornal, da TVT. Três milhões de pedidos feitos à Previdência Social estão parados e até agora não foram atendidos. Para contornar a crise, o governo Bolsonaro decidiu contratar 7 mil militares da reserva para trabalhar emergencialmente no INSS.
De acordo com os servidores da Previdência Social, atualmente há um déficit de 11 mil trabalhadores no setor, e não será com a contratação de sete mil militares despreparados para o cargo que o problema será resolvido.
“Nós somos contra, servidores são contra, porque os militares sequer têm a capacitação técnica para fazer o serviço. O nosso trabalho é um serviço especializado, técnico, tem que ter prestado concurso. Hoje no atendimento nós temos poucos servidores e estagiários que nos dão suporte. O estagiário ganha uma bolsa de R$ 400 para fazer esse serviço, é absurdo mandar um militar para ganhar R$ 2 mil, R$ 3 mil para fazer um serviço que ele desconhece e não vai dar conta dessa fila”, afirma Rita de Cássia Assis, diretora da Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social (Fenasps).
Vilma Ramos, do Sindicato dos Trabalhadores do INSS, afirma que preparar um servidor para esse serviço leva um ano e meio e a maneira mais rápida de diminuir o problema é contratar servidores aposentados da seguridade social. “Para nós, o concurso público é uma das soluções, é óbvio que nós sabemos que nós temos aí toda uma restrição orçamentária imposta pelo governo, mas nós temos, como já disse, os nossos os aposentados, funcionários, capacitados, qualificados com compromisso com a Previdência Social, que dedicaram sua vida à Previdência Social e que poderiam ser muito bem chamados”, defende.
“O servidor do INSS tem um cheque em branco, dado pelo Estado brasileiro, para conceder benefícios e orientar sobre esta situação e gerar uma despesa para o Estado brasileiro durante 20, 30 anos, por isso, cuidar desses dados é uma condição sine qua non para a Previdência Social”, diz Vilma.
O sindicato dos trabalhadores do INSS afirma que esse sucateamento é um processo calculado de desmonte e privatização do sistema. “A reforma da Previdência já apontou para isso, o ministro Guedes (Paulo Guedes, da Economia) levou a proposta e não passou, mas ainda não tirou da sua cabeça a privatização do sistema previdenciário. O INSS, o governo nos últimos dois anos, de Temer e principalmente agora no governo Bolsonaro, pouco se preocupou se a população ia ter o seu auxílio doença, se a pessoa mais vulnerável da sociedade iria ter o seu Loas, por exemplo”, afirma, referindo-se ao Benefício de Prestação Continuada (BCP), que atende as pessoas mais vulneráveis da sociedade.
Na sexta-feira, o Ministério Público e o Tribunal de Contas da União pediram a paralisação do processo por entenderem que há a necessidade de concurso público. A federação afirmou que também entrará na justiça contra essa medida e não descarta uma greve nacional.
Confira a reportagem do Seu Jornal: