Por Ana Rosa Moreno, de Puebla, México, para Desacato.info
Tradução: Elissandro Santana, para Desacato.
Certa vez, vi em uma série de televisão que o governo fechava o registro da água para gerar desabastecimento, provocar a população, mergulhá-la em violência para que, ao final, aceitasse sua política que em nada beneficiava o povo. Como a realidade sempre supera a ficção, isto é o que estamos vivendo, porém, na versão combustível.
Somos um país petrolífero, com grandes reservas e há mais de três ou quatro décadas chegamos a ter não somente independência energética, mas, também, conseguimos conter a intervenção estadunidense e agora parece que o milagre petroleiro está desaparecendo devido à má gestão do nosso governo. Dirão que os mexicanos somente culpamos governantes pelos seus problemas, queridos leitores, mas no México, segundo a Constituição, o Estado possui a faculdade de explorar e gerir os recursos naturais renováveis e não renováveis do território segundo o artigo 27 da Constituição dos Estados Unidos Mexicanos.
Neste último mês, temos visto nos jornais o anúncio do aumento e os sucessivos aumentos do preço da gasolina, insumo vital para a indústria e para o transporte, tanto público como privado.
Circula nas redes sociais e nos meios de comunicação a noticia do desabastecimento de gasolina em um país petrolífero; começam a circular algumas hipóteses sobre os motivos para isso; alguns atribuem à grande demanda por combustíveis e outros ao roubo de combustíveis mediante torneiras clandestinas, porém, ninguém culpa a Petróleos Mexicanos (Pemex). Ante o pânico, dezenas de pessoas fazem longas filas com garrafa nas mãos nos postos para a compra de gasolina.
Blanca Estela Coeto Mateo, gerente de postos de serviço dependente da Pemex Transformación Industrial comunicou que a demanda por gasolina é de 40% passando de uma média de um milhão de barris por dia a um milhão e quatrocentos mil barris ao dia e isso faz com que a Pemex tenha dificuldade em fornecer o combustível.
Não é necessário ser vidente para prenunciar que isso vai ficar fora de controle e que é certamente uma estratégia do governo para que os mexicanos aceitem de repente
o aumento da gasolina por necessidade.
O aumento nos preços da gasolina entre 15 e 20 por cento é um golpe à economia mexicana porque não somente aumenta a gasolina, mas, também, aumentam os preços dos bens e serviços (porque todos os produtos são transportados) em um país onde o salário mínimo é uma piada.
No México, o salário mínimo é de 80 pesos por dia, ou seja, de 4 dólares com jornadas de até 12 horas de trabalho. Com o aumento da gasolina, muitos não vão encher o tanque e os seus gastos se reduzirão.
Como ficarão os preços da gasolina? De acordo com a Secretaria da Fazenda a partir de primeiro de janeiro:
- a Magna custará 15.99 pesos por litro;
- a Premium 17.79 e o
- Diesel 17.05 pesos por litro.
E seguirão fazendo ajustes; primeiro semanais e, depois, diários; no dia 4 de fevereiro ocorrerá o primeiro ajuste; no dia 11, também de fevereiro, o segundo ajuste e, a partir de 18 do referido mês aumentarão diariamente. Isto faz com que o litro de gasolina no México seja bem maior que em países como Estados Unidos, Rússia, Afeganistão, Iraque, Colômbia e Venezuela, citando alguns exemplos.
Ademais, o preço dos combustíveis vai depender dos custos gerados no transporte.De acordo com as distâncias que tenha que percorrer a Pemex verificará o custo de fato. Elajá dividiu o país em 90 regiões: 7 cidades fronteiriças e 83 do interior da República. As quatro cidades que terão os preços mais altos são Puebla, Guadalajara, Ciudad de México, Monterrey e alguns municípios do Estado do México.
Porém, não temam, diz José Antonio Meade, o secretario da Fazenda: “o que veremos a partir deste anoé que a gasolina vai subir às vezes, mas poderá baixar em outro momento, conforme se ajustem as condições do Mercado”.
O problema aqui é que esta é a mesma história que nos dizem desde que começou o governo presidencial do talentoso, bastião da democracia, bonito e carismático, o Sr. Enrique Peña Nieto. Inclusive, Peña Nieto disse que com a Reforma Energética e com a Reforma Tributária os preços dos combustíveis baixariam porque a PEMEX se abre ao investimento estrangeiro e outras marcas entrariam no mercado mexicano.
“A partir deste momento já não ocorrerão gasolinaços… Graças à Reforma Tributária; pela primeira vez em cinco anos já não ocorrerão aumentos mensais nos preços da gasolina, do diesel e do gás LP…”.
Literalmente, nos deram “atole-se com o dedo”. Que podemos fazer? Deixar de consumir gasolina, usar a bicicleta, comprar carros híbridos, comprar gasolina de má qualidade com os huachicoleros (que vendem gasolina roubadae de má qualidade), parar de votar no mesmo partido ou aprender a voar.
