Por Thierry Meissan.
O Exército israelense prepara-se para a limpeza étnica da Faixa de Gaza em conformidade com o velho sonho dos supremacistas judaicos. No entanto, em Israel, e nos Estados Unidos, muitos cidadãos se opõem a este crime. Enquanto no Oriente Médio, inúmeros voluntários se preparam para a salvar atacando o Estado sionista. Contrariamente à percepção que temos deste conflito, a impossibilidade de o resolver desde há 76 anos não deriva da má-fé dos seus protagonistas. Mas da ausência de escolha entre dois sistemas: um mundo «baseado em regras» ou «no Direito Internacional».
A PREPARAÇÃO DO CRIME
Os acontecimentos precipitam-se em Israel/Palestina. Todo veem o Exército israelense se preparar e começar a limpeza étnica da Faixa de Gaza.
Depois de ter considerado lançar uma guerra contrainssurreicional nos moldes da Batalha de Argel ou da Operação Phoenix no Vietnã, o Estado-Maior israelense planeia arrasar completamente a cidade de Gaza e depois enviar o seu exército de Terra eliminar os sobreviventes. Segundo o Tsahal, este plano deveria levar três meses.
O Chefe de Estado-Maior do Exército, o General Herzl Halevi, declarou em 21 de outubro: «Entraremos na Faixa de Gaza para uma missão operacional e profissional: destruir os agentes e as infraestruturas do Hamas (…) Gaza é complexa e densa, o inimigo prepara lá muitas coisas, mas nós também estamos a preparar-nos para ele».
A Organização Mundial da Saúde (OMS) insurgiu-se, no dia 14 de outubro, contra a ordem de evacuação dada pelos Israelenses aos hospitais de Gaza. Ela salientou que transferir os doentes em cuidados intensivos os condenava à morte [1]. Três dias mais tarde, o Hospital Al Ahli foi destruído. Israelenses e palestinos rejeitam ambos a responsabilidade deste massacre. Entretanto, nenhum dos aliados de Israel procurou vir em ajuda dos gazenses. Ora, os EUA, a Alemanha e o Reino Unido dispõem de hospitais de campanha, de medicamentos e de alimentos que podem lançar por via aérea em Gaza. Na verdade, os três preparavam-se mais para ajudar o Exército israelense do que ir em socorro de uma população em perigo.
Os Estados Unidos enviaram ao Tsahal (exército israelense) milhares de projéteis de 155 milímetros e um número indeterminado de bombas penetrantes Joint Direct Attack Munition (JDAM), capazes de destruir tudo a 30 ou 40 metros de profundidade e num raio de 400 metros.
ISRAEL DIVIDIDO
Durante meses, manifestações monstras denunciaram os aliados supremacistas judaicos de Benjamin Netanyahu e a reforma de leis fundamentais colocando o Poder judicial sob o controlo do Executivo. Mas, nada feito, o «Golpe de Estado» teve lugar este Verão.
Por «supremacistas judaicos», eu designo o Partido Força judaica (Otzma Yehudit), herdeiro assumido do movimento norte-americano, Liga de Defesa Judaica (Jewish Defense League), do Rabino Meir Kahane. Esta organização opôs-se a qualquer contacto com a União Soviética e hoje com a Rússia. Ela apelou à morte de neonazis e assassinou o diretor do American-Arab Anti-Discrimination Comittee. É explicitamente racista e opõe-se a qualquer casamento entre judeus e não-judeus. Ela está classificada como organização terrorista nos Estados Unidos desde 2001. Foi secretamente financiada por Yitzhak Shamir com fundos do Estado de Israel [2].
«Divina Surpresa» o ataque da Resistência Palestina Unida (exceto a Fatah), em 7 de outubro, deu a ocasião aos supremacistas judeus para realizar o seu objetivo, muitas vezes enunciado: limpar etnicamente a Palestina de árabes palestinos, seja pela transferência da sua população ou pelo seu extermínio.
Perante a emoção da população israelense e o perigo ameaçando o Estado hebreu, o Primeiro-Ministro, Benjamin Netanyahu, formou um governo de emergência como todos os seus predecessores em caso semelhante. No entanto, onde apenas foram precisas algumas horas a Golda Meir durante a Guerra dos Seis Dias, ele levou 7 dias durante a Operação « Torrente de Al-Aqsa ». Um “conselho de guerra” foi formado, no seio do governo, a fim de manter afastados os supremacistas judaicos.
Mas este gabinete restrito foi, desde a sua primeira reunião, palco de um confronto entre os partidários da destruição de Gaza e os de uma operação dirigida contra a Resistência Palestina. A maior parte dos ministros contentou-se em falar em público de uma ação contra o Hamas, já que a censura militar proíbe dar conta das ações de outras facções palestinas. O Ministro da Defesa, o General Yoav Gallant, atirou-se em simultâneo ao Primeiro-Ministro, que ele considera delirante, e ao seu antecessor, o General Benny Ganz, que ele julga fraco. Em junho, o Primeiro-Ministro proibiu o seu Ministro da Defesa de entrar no seu gabinete no quartel-general do Exército, uma proibição que se mantêm. Ele recusa trabalhar com o responsável militar da reparação das infraestruturas, o General Roni Numa. Ele nomeou um alto funcionário para fazer a mesma coisa que ele, Moshe Edri, mas este último depende do Ministro supremacista judaico das Finanças, Bezalel Smotrich, e as relações entre os militares e os civis neste domínio não estão organizadas, nem sequer previstas. Recordemos que o General Numa encabeçou manifestações contra o Primeiro-Ministro, há duas semanas. Ele apresentou um recurso judicial contra as «reformas» que qualifica justamente de «Golpe de Estado. Além disso, vários ministérios-chave (Segurança Nacional, Educação, Informação, Inteligência e Cultura) continuam sem diretores gerais. A censura militar que cobre esta desordem é tal que a Ministro da Informação, Distel Atbaryan, bateu com a porta em plena guerra.
Antes da guerra, os reservistas garantiram em massa que não obedeceriam a ordens criminosas do governo antidemocrático do seu país. Hoje em dia eles foram mobilizados e ninguém sabe o que farão. Benjamin Netanyahu veio visitar alguns para se assegurar da sua fidelidade. De momento, a infantaria e a cavalaria ( os tanques) israelenses estacionam diante de Gaza e diante da fronteira libanesa, esperando as ordens que não chegam. No entanto, a Força Aérea bombardeia a Cidade de Gaza a um ritmo nunca visto. Segundo as Nações Unidas, ela já reduziu a pó pelo menos um terço da cidade.
Gilad Erdan, embaixador israelense na ONU, forceja como pode para que todas as agências da ONU e todos os Estados-membros condenem o Hamas. Se era bem recebido nos primeiros dias da guerra, agora ele encontra cada vez mais dificuldades para fazer ouvir o ponto de vista do seu país.
A RESISTÊNCIA DIVIDIDA
Se a Resistência Palestina em Gaza conseguiu reunificar-se graças às consultas organizadas no início do ano pelo Irão, no Líbano, a Fatah do Presidente Mahmud Abbas prossegue a sua política de colaboração com Israel. Ele não se importa em dizer a todos os seus interlocutores que apenas ele não é cúmplice dos Irmãos Muçulmanos (quer dizer, do Hamas).
Provavelmente, esperava ser assim o único aceitável aos olhos dos Ocidentais, mas perdeu imediatamente toda a autoridade moral sobre os palestinos em geral e os da Cisjordânia em particular. Assim, logo que o Presidente norte-americano, Joe Biden, face às manifestações que sacudiam a Jordânia, anulou a cimeira que para lá havia convocado e na qual o Presidente Abbas devia participar, este recusou atender o telefonema do primeiro. A polémica suscitada pela destruição de um hospital em Gaza convenientemente serviu para mascarar os erros da Autoridade Palestina, a qual já não sabe como se comportar. Ela acaba de sancionar um membro do Comité Central da Fatah, Abbas Zaki, que elogiou a operação « Torrente de Al-Aqsa » e lamentou que a Fatah não tenha participado.
O Hamas também está dividido entre os apoiadores da Resistência em Gaza e os do Islão político no estrangeiro. Enquanto os seus combatentes se batem ardentemente, Khaled Mechaal, presidente do gabinete político, ao mesmo tempo que agradecia ao Hezbolla libanês por manter uma parte do Exército israelense em alerta na fronteira libanesa, criticou-o por não fazer o suficiente. O objetivo de Meshaal (matar israelenses) não é de todo o mesmo que o do Hezbolla (derrotar o Estado de Israel) e dos seus próprios combatentes do Hamas.
OS ESTADOS UNIDOS DIVIDIDOS
O Presidente norte-americano, Joe Biden, viajou para Israel a fim de certificar o país do seu apoio. Ele não se encontrou com os ministros supremacistas judeus, mas participou num conselho de guerra. Ele disse ter consciência que os israelenses deviam acabar com o Hamas. Ele garantiu aos seus interlocutores que os abasteceria em projéteis de 155 minutos e bombas penetrantes… mas pediu-lhes para fazer prova de moderação. As suas declarações ambíguas foram interpretadas como um deixa andar pelos partidários da limpeza étnica, e como uma ordem de contenção pelos outros.
Nos Estados Unidos, pacifistas judaicos manifestaram-se diante do Congresso. A polícia do Capitólio, lembrando-se do assalto dos Trumpistas, reprimiu-os duramente. Cerca de 500 dentre eles foram presos e poderão ser levados à justiça.
Um alto funcionário do Departamento de Estado, Josh Paul, demitiu-se em 18 de outubro com estrondo, acusando a Administração Biden de não ter política e, no fundo, de cobrir uma limpeza étnica em preparação. Não é um tipo qualquer. Depois de uma brilhante carreira no gabinete do Secretário da Defesa, Robert Gates, e no Congresso, ele era, desde há 11 anos, o diretor do Gabinete de Assuntos Políticos e Militares. Era ele quem validava todas as transferências de armas.
Nesta onda, 441 assistentes parlamentares reuniram-se num edifício adjacente ao Capitólio para denunciar a falta de consciência da Administração Biden e dos membros das duas assembleias. Se Josh Paul era um judeu próximo da J Street, o lóbi pró-israelense anti-Netanyahu, estes revoltosos provêm tanto da minoria judaica como da minoria muçulmana. Eles não contestam a luta contra os islamistas políticos do Hamas, mas alertam contra a realização de um genocídio. Todos tem perfeita consciência que a sua tomada de posição os expõe a serem despedidos.
Os funcionários do Departamento de Estado, seja qual for o seu nível na hierarquia, têm a possibilidade de exprimir o seu desacordo num fórum dedicado a este efeito. Trata-se geralmente de criticar os abusos de um chefe de serviço. No entanto, agora, os funcionários debatem a falência moral da Administração Biden que de modo algum leva em conta a opinião dos seus peritos. Os e-mails mais virulentos foram assinados por muitos colegas de escritório, de modo que este fórum deu origem a um motim [3].
Mitch McConnell, chefe da minoria Republicana do Senado, apresentou um projeto de resolução visando interditar a ajuda de urgência a Israel de 14,3 mil milhões (bilhões-br) de dólares, pedida pelo Presidente Joe Biden.
Tim Scott (Republicano, Carolina do Sul), candidato à eleição presidencial, anunciou que recusava votar por Israel. Ele é o chefe dos Republicanos na Comissão senatorial dos Bancos, da Habitação e dos Assuntos Urbanos.
OS PASSIVOS VASSALOS DOS ESTADOS UNIDOS
Os vassalos dos Estados Unidos persistem em alinhar-se cegamente com as posições de Washington. Uma reunião à porta fechada do Conselho de Segurança das Nações Unidas foi palco de um confronto estúpido entre a representante permanente dos Estados Unidos, Linda Thomas-Greenfield, e o seu homólogo russo, Vassily Nebenzia. Embora os dois países tenham resolvido por mútuo acordo numerosas crises no Médio Oriente, a tensão atual entre eles levou Washington a utilizar o seu veto.
A sessão versava sobre uma proposta russa de cessar-fogo humanitário imediato. A embaixatriz acusou a Rússia de proteger o Hamas porque o seu projeto de resolução não o condenava. Ora, por princípio, todas as ações humanitárias, desde Henry Dunant e a criação da Cruz Vermelha Internacional, não devem tomar partido no conflito em que intervêm. Quer se esteja chocado com os comandos do Hamas ou com a Força Aérea Israelense, não se deve antes de mais condenar um ou outro, nem mesmo condenar as suas ações, mas ir exclusivamente em socorro das vítimas. Contudo, Washington, adoptando uma postura moral sonsa e não humanitária ou política, condena a todo o custo. E não define atos bárbaros, mas sim apenas alguns dos indivíduos que os perpetram.
No decorrer da sessão, a França, o Japão e o Reino Unido fizeram comentários semelhantes aos do seu suserano. A França utilizou o seu veto, pela primeira vez desde 1976, dando assim um cheque em branco a um genocídio em preparação. Tendo a reunião sido realizada à porta fechada, as Nações Unidas não divulgaram nem o relatório literal, nem mesmo a acta, mas o embaixador Nicolas de Rivière reconheceu-o, enquanto o diário Le Monde o negou.
Esta mesma atitude foi escolhida pelo Ministro da Justiça francês, Éric Dupont-Moretti. Ele sublinhou perante a Assembleia Nacional que apoiar os supremacistas muçulmanos do Hamas, era apoiar os atos terroristas que comete, e que isso leva a 5 anos de prisão. Claro, mas apoiar os supremacistas judaicos que começaram a destruir a Cidade de Gaza é exatamente o mesmo crime. Num primeiro tempo, a França proibiu as manifestações pró-palestinas, até que o Conselho de Estado revogou esta disposição que viola o direito constitucional de manifestar suas próprias opiniões.
Uma segunda sessão do Conselho de Segurança rejeitou um projeto de resolução idêntico do Brasil. Este retomava explicitamente a versão oficial segundo a qual o ataque de 7 de outubro tinha sido perpetrado unicamente pelo Hamas e condenava a organização. Desta vez, foram o Reino Unido e a Rússia que o denunciaram. No fim, nenhum texto foi adoptado.
Paralelamente o Catar conseguiu fazer libertar dois prisioneiros americano-israelenses do Hamas, em troca da passagem de 20 camiões de ajuda humanitária, de 7 camiões cisterna de carburante e de outros compromissos não revelados. Antes da guerra, passavam pelo menos 100 por dia. A questão das trocas de prisioneiros torna-se ainda mais complexa: desde o início da guerra, as forças de segurança israelenses prenderam e encarceraram em prisões de alta segurança mais 1.070 palestinos adicionais. Abu Oubaida, o porta-voz das Brigadas Izz el-Deen al-Qassam, declarou que o Hamas havia considerado libertar dois outros reféns, mas que Israel não dera seguimento à sua proposta.
O primeiro-ministro britânico Rishi Sunak foi a Israel depois do Presidente norte-americano. Ele também levou o seu apoio ao ripostar israelense contra o Hamas. As Defesas do Reino Unido e de Israel estão ligadas por um Tratado, assinado há dois anos, cujos termos nunca foram tornados públicos. Em Londres, 100. 000 cidadãos manifestaram-se nas ruas para tentar dissuadir o seu governo de apoiar o crime em preparação. Para lhes responder, o Jewish Leadership Council organizou um comício de alguns milhares de pessoas em Trafalgar Square.
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, também fez a sua peregrinação a Tel Aviv. O Presidente cipriota, Níkos Christodoulídis, o Presidente francês, Emmanuel Macron, e o Primeiro-Ministro interino holandês, Mark Rutte, são esperados em breve.
Celebrando a sua missa dominical, o Papa Francisco declarou: « A guerra, toda a guerra no mundo — eu penso também na atormentada Ucrânia — é uma derrota. A guerra é sempre uma derrota; é uma destruição da fraternidade humana. Irmãos, parai! Parai! ».
O ORIENTE MÉDIO QUER SALVAR OS PALESTINOS
Uma conferência internacional para a paz teve lugar no Cairo por iniciativa do Presidente Abdel Fatah Al-Sissi. O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, o Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e o Alto Representante da UE, Josep Borrell, o Rei Abdalla II da Jordânia, o Presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, o Presidente dos Emirados Árabes Unidos, Mohamed Ben Zayed, o Rei do Barém, Hamad ben Issa al-Khalifa, o Príncipe herdeiro do Koweit, Xeque Meshal al-Ahmad al-Sabah, o Primeiro-Ministro iraquiano, Mohammad Chia el-Sudani, o Presidente cipriota, Nikos Christodoulidès, a Presidente do Conselho italiano, Giorgia Meloni, o Presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, o Primeiro-Ministro britânico, Rishi Sunak, o Primeiro-Ministro grego, Kyriakos Mitsotakis. No total estavam representados trinta Estados. Mas nem os Estados-Unidos, nem a China, nem a Rússia e sobretudo Israel, participavam nesta cimeira. O Emir do Catar, Tamim bin Hamad Al Thani, chegou aureolado com a libertação dos «reféns dos EUA», mas não pronunciou qualquer discurso, tendo em vista a posição anti-Hamas dos Ocidentais.
O Presidente argelino, Abdelmadjid Tebbune, recusou o convite. A Argélia organizara, em outubro de 2022, uma Conferência pela unidade do povo palestino. Ela emendou a Resolução da Liga Árabe salientando que se dessolidarizava dos dois pesos e duas medidas que não estabelece uma hierarquia entre os direitos dos palestinos e as violações que Israel comete a propósito.
António Guterres declarou que o ataque de 7 de Outubro «não poderá nunca justificar um castigo coletivo do povo palestino».
Mahmud Abbas, quanto a ele, declarou: «Nós não partiremos, nós permaneceremos nas nossas terras».
O Egito agarra-se à posição da Liga Árabe de 1969: acolher novos refugiados palestinos seria tornar-se cúmplice de limpeza étnica da sua pátria histórica. Uma posição intelectualmente justa, mas que mascara mal o medo de uma invasão palestina como o Líbano e a Jordânia experimentaram. Então, os palestinos tinham tentado tomar o Poder pela força das armas em Beirute (a Guerra do Líbano), depois em Amã (Setembro Negro) e aí estabelecer em substituição o Estado da Palestina.
Em resumo, esta cimeira não serviu para nada: todos mantiveram suas posições. De um lado, aqueles que queriam condenar o Hamas, do outro, aqueles que queriam apoiar a Resistência Palestina, da qual o Hamas é a principal componente.
No Oriente Médio, muitos grupos reúnem voluntários para salvar os palestinos e atacar Israel. Os Guardas da Revolução iranianos tentam pôr em pé um estado-maior comum que uniria os combatentes palestinos do Hamas, da FPLP e da Jihad Islâmica, os combatentes libaneses do Hezbolla, do PSNS e da Jamaa Islamiya, mas também Jordanos e Iraquianos.
POR QUE É QUE NÃO CONSEGUIMOS RESOLVER ESTE CONFLITO?
A divisão generalizada, em todos os campos, torna impossível a tomada de decisões. Embora pareça improvável que Israel coloque o seu Exército ao serviço do projeto genocida dos seus ministros supremacistas judeus, o tempo não é um aliado da paz. Enquanto cada campo tenta estabelecer a sua posição, as bombas continuam a chover duramente sobre Gaza e as armas a chegar a Israel. Entretanto, já há 1.300 israelenses e 4.137 palestinos mortos.
A impossibilidade de resolver o conflito israelo-palestino não reside na má-fé israelense. Na realidade somos todos cúmplices: ela mostra a inépcia do «mundo baseado em regras» que o Presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt, e o Primeiro-Ministro britânico, Winston Churchill, tentaram criar em 1942-45, e que aceitamos aquando da dissolução da URSS. Ele funciona com base nas regras decretadas pelos Anglo-Saxões, agora explicitadas publicamente pelo G7. Pelo contrário, o Secretário-Geral do PCUS, José Stalin, e o Chefe do governo francês no exílio, Charles De Gaulle, exigiram um «mundo baseado no Direito Internacional». Neste caso, os Estados são soberanos e apenas são obrigados a respeitar os Tratados que assinaram. Foi sobre esta base que as Nações Unidas foram criadas. Cabe-nos regressar ao texto fundador, a Carta de São Francisco. Aplicado ao conflito atual, isto significa primeiro para Israel o respeito pela sua própria assinatura aposta no final da sua carta de adesão à ONU, e para a Autoridade Palestina, a da sua assinatura aposta nos Acordos de Oslo.
Tradução: Alva
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