A cidade alemã de Dortmund reverteu a sua decisão de conceder um prémio literário à romancista Kamila Shamsie por esta apoiar o movimento BDS de apoio ao povo palestino.
Em 10 de setembro foi anunciado que a escritora britânico-paquistanesa recebera o Prémio Nelly Sachs.
Mas numa declaração publicada no passado dia 18, o painel de oito jurados anunciou que retirava o prémio à escritora por esta apoiar o movimento BDS.
«O posicionamento político de Shamsie de participar activamente no boicote cultural como parte da campanha da BDS contra o governo israelense está claramente em contradição com os objectivos estatutários e o espírito do Prémio Nelly Sachs», afirma o comunicado do júri.
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O Prémio Nelly Sachs, no valor de 15 000 euros, visa distinguir um autor que defenda a tolerância, o respeito e a reconciliação entre os povos. Entre os vencedores precedentes contam-se Margaret Atwood, Rafik Schami, Christa Wolf e Milan Kundera. A poeta e dramaturga judia Nelly Sachs, galardoada com o Prémio Nobel de Literatura, nascida na Alemanha, refugiou-se na Suécia em 1940, e após a Segunda Guerra Mundial escreveu sobre o sofrimento dos judeus às mãos do regime nazi.
«É para mim uma grande tristeza», declarou Kamila Shamsie ao site Middle East Eye, «que um júri se curve perante a pressão e retire um prémio a um escritor que está a exercer a sua liberdade de consciência e liberdade de expressão; e indigna-me que o movimento BDS (que tem por modelo o boicote à África do Sul), que leva a cabo uma campanha contra o governo de Israel devido aos seus actos de discriminação e brutalidade contra os palestinos seja considerado como algo vergonhoso e injusto.»
E a escritora recorda o contexto político em que o júri do prémio Nelly Sachs optou por lhe retirar o prémio: «Nas recentes eleições israelenses, Benjamin Netanyahu anunciou planos de anexar até um terço da Cisjordânia, em violação do direito internacional, e a objecção a isso do seu opositor político Benny Gantz foi que Netanyahu lhe tinha roubado a ideia; e isso pouco depois do assassínio de dois adolescentes palestinos pelas forças israelenses».
A decisão de retirar o prémio a Kamila Shamsie insere-se num quadro mais geral, particularmente na Alemanha. No passado mês de maio o parlamento alemão aprovou uma moção que condena o movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) como sendo anti-semita.
O movimento internacional BDS, que condena explicitamente o anti-semitismo, apela ao boicote, ao desinvestimento e às sanções como forma de pressão para que Israel ponha fim à ocupação da terra palestina, conceda direitos iguais aos cidadãos palestinos de Israel e reconheça o direito de retorno dos refugiados palestinos.
São muito preocupantes as tentativas a que se assiste nível mundial, com relevo nomeadamente na Alemanha, em França e nos EUA, no sentido de criminalizar a crítica às brutais políticas israelenses contra os palestinos e de amordaçar todas as vozes solidárias com a causa palestina.