Prefeito omite informações sobre máquina enviada para orçamento em Chapecó

    Por Cláudia Weinmann, de São Miguel do Oeste, para Desacato.info

    Denúncia de que uma máquina da prefeitura teria sido levada para Chapecó e estaria em orçamento há mais de um ano, ocasionou desconforto ao poder público municipal. Prefeito Hélio José Daltoé (PMDB), chegou a falar à reportagem que “Prefeito trabalha no gabinete, né, não trabalha lá no parque de máquinas”, o que dá impressão de que o gestor do município sentiu-se incomodado em repassar informações à comunidade

    Os últimos tempos, tem sido de insatisfação. Grande parte da sociedade, nivelada pela televisão, tem acompanhado notícias sobre os mais diversos tipos de corrupção, no entanto, creio que um puxão de orelha vá bem quando deixamos de fazer luta para nos importar com o que os meios tradicionais da comunicação nos trazem todos os dias. Digo isso, pois, acredito também ser necessário olhar para nossos arredores e promover as denúncias necessárias quando percebemos que as coisas por ali mesmo, não andam bem. Acompanhar a escala global é muito importante, mas refletir e movimentar-se no espaço onde vivemos, é mais significativo.

    Há pouco mais de um mês, fui incumbida, no Jornal onde trabalho, chamado Gazeta Catarinense, que está localizado na cidade onde nasci, São Miguel do Oeste, interior de Santa Catarina, a acompanhar um caso de denúncia no município vizinho, Descanso\SC, muito conhecido pela passagem da Coluna Prestes as margens do rio Macaco Branco. Trata-se da omissão do prefeito da cidade, em fornecer informações a respeito de uma ‘simples’ máquina de propriedade da prefeitura, mas que estaria há mais de um ano fora do município em fase de orçamento. O que provoca estranheza, além de seu comportamento agressivo ao me direcionar as palavras, é o porquê da omissão do gestor sobre um fato que deveria ser tratado com transparência.

    Certa de que o Jornalista tem papel fundamental no desvelar de informações distorcidas e de que possui uma tarefa política na sociedade, partilho com as redes alternativas, este caso, aparentemente simples, mas que transmite inquietude, pela forma como tem sido conduzido pelo gestor da cidade de Descanso.

     

    O caso

    A reportagem do Jornal Gazeta Catarinense recebeu ainda no mês de agosto deste ano, uma denúncia no município de Descanso, onde segundo a fonte que, por segurança, preferiu não ter o nome divulgado nesta matéria, relatou que uma máquina, carregadeira Yale 1900-B, ano 1997, de propriedade do poder público municipal, teria sido levada até o município de Chapecó\SC para passar por um processo de avaliação e orçamento, porém, o que causou estranheza e provocou a denúncia foi o fato desta mesma máquina estar há mais de um ano fora do município, e nenhum conserto ter sido realizado para justificar a demora.

    O assunto de interesse da população Descansense também despertou a atenção da reportagem que procurou pelo prefeito Hélio José Daltoé (PMDB), para saber o porquê esta máquina estaria há tanto tempo em Chapecó.  Na primeira tentativa de conversa feita com o prefeito em agosto deste ano, ele com o tom de voz elevado, questionou quem teria repassado as informações a reportagem. “Quem repassou as informações para vocês? Não bota nada”, justificou a referir-se a publicação da matéria.

    Durante a mesma conversa, foi perguntado ao prefeito sobre qual seria o período em que a máquina havia sido encaminhada para Chapecó. Novamente, ele desviou-se do assunto e contestou a pergunta. “Desconheço. Não sei de nada do que você ta falando”, disse ele.

    No mesmo dia, nossa reportagem procurou pelo então secretário de Transportes de Descanso, Lenoir Luiz Povala (Lilo), que ao ser questionado sobre a máquina, preferiu não se manifestar, já que, conforme ele, fazem apenas quatro meses que está à frente da secretaria e não teria informações sobre o assunto. Povala encaminhou a entrevista ao prefeito.

    “Prefeito trabalha no gabinete, não trabalha lá no parque de máquinas”

    O assunto que até então poderia ser considerado tranquilo, foi aprofundado nesta semana quando a reportagem recebeu a notícia que a máquina teria retornado para o município de Descanso, há aproximadamente duas semanas e, sem nenhum sinal de conserto, após permanecer todo esse tempo em análise.

    Na terça-feira, dia 22, a reportagem realizou contato com a prefeitura, no setor administrativo onde a ligação foi repassada ao prefeito e interrompida em seguida. Na segunda tentativa, o prefeito perguntou quem havia repassado a ligação e disse que estava em reunião e não poderia atender. Perguntou sobre o assunto a ser tratado e quando soube do envolvimento da ‘máquina’ para a entrevista, disse que não teria disponibilidade em falar naquele momento e solicitou que a reportagem entrasse em contato novamente após uma hora.

    As 11h30 da manhã, horário combinado para a entrevista, a reportagem tentou novamente contato e foi informada que o prefeito estaria em horário de atendimento ao público e que não poderia atender. Como a prefeitura tem atuado em turno único, no horário da tarde, segundo o que foi informado, o prefeito também não estaria à disposição do jornal. Mesmo assim, a reportagem do Gazeta Catarinense retornou ligação no celular do prefeito, que após 12 chamadas consecutivas atendeu ao telefone. “O que tu quer saber, não tenho nada a responder pra esse jornalzinho ai”, disse o prefeito ao dar início a conversa.

    Depois de explicar ao prefeito que a matéria tratava apenas de justificar à comunidade o porquê o município tinha uma máquina em Chapecó resguardada e desmontada (segundo consta nas fotos enviadas ao jornal), durante todo esse tempo, ele salientou que o município buscava o conserto dela mas que o orçamento era muito elevado.

    O prefeito negou-se a responder alguns questionamentos justificando que a função dele é atuar dentro do gabinete e não observar o que acontece nas demais secretarias. “Não tava nada funcionando, tem um monte de problema, pelo que o secretário relatou para mim. Prefeito trabalha no gabinete, né? não trabalha lá no parque de máquinas. Mediante valor do orçamento o secretário resolveu trazer essa máquina de volta. O município não comporta o valor do orçamento. Estava lá pra fazer uma avaliação ou não, não deu para consertar essa máquina veio de volta”, enfatizou Daltoé.

    Ao solicitar informações sobre o período que a máquina ficou em Chapecó, Daltoé afirmou “Não lembro de cabeça. Foi o secretário, não foi o prefeito”. O prefeito prosseguiu salientando que quem poderia repassar os dados era o setor de Contabilidade da prefeitura. “Setor contábil que faz a parte de orçamentos. Prefeito trabalha no gabinete como eu te falei antes”, frisou.

    O Gazeta Catarinense fez contato com o setor de contabilidade que preferiu contatar o prefeito antes de repassar as informações. Até o fechamento desta edição, a reportagem permaneceu no aguardo do setor, porém, não foi correspondida. Daltoé disse apenas que a máquina possui mais de 30 anos de uso e que foi encaminhada até Chapecó por não estar em funcionamento, estado em que retornou ao município. “Ficou não sei quanto tempo parada em Chapecó, como não houve recurso o secretário pediu a devolução. Até vai ser vendida, tem uma autorização que tramita no legislativo para fazer o leilão dessa máquina”, afirmou o prefeito ressaltando que o valor dela varia atualmente de R$ 20 mil a R$ 50 mil reais.

    O prefeito ainda acusou a empresa que teria feito o orçamento em Chapecó pela demora na avaliação. “Isso, a demora de fazer o orçamento né. De fazer o levantamento pra ver se era viável ou não. A administração é muito complexa, muito burocrática a coisa”, disse Daltoé, afirmando ainda que a administração gastou em média R$ 600,00 de frete. “Na ida pagamos um frete do caminhão e na volta também, valor insignificante, R$ 500,00, R$ 600,00 reais que eles cobram”, destacou o prefeito que negou gastos com o aluguel do espaço onde a máquina ficou durante o período.

    Máquina ficou 15 meses fora do município

    A reportagem do Jornal Gazeta Catarinense conversou ainda com o ex-secretário de Transportes de Descanso, Agenor Bonatto, citado pelo prefeito pelo fato de estar à frente da secretaria no período em que a máquina foi encaminhada até Chapecó. Bonatto disse que a carregadeira permaneceu mais de um ano sob avaliação. “Ficou um tempão lá. Faz tempo, olha em torno de uns 15 meses ficou lá para fazer o orçamento e daí diante do valor alto, foi retirada, né? O prefeito resolveu que não era viável e agora até botou a venda”, disse.

    Em contato com a empresa de Chapecó, acusada pela demora no orçamento, o proprietário preferiu manter silêncio e não informar o motivo para tanta burocracia, sendo que no primeiro contato feito com a empresa, o proprietário salientou a presença de pessoas que teriam fotografado a máquina em Chapecó, o que também teria causado estranheza para ele. Depois das entrevistas feitas nesta matéria, a pergunta que fica no ar é o porquê tanto receio em colocar sob transparência um orçamento que não deu certo.

    Máquina havia sido desmanchada e permaneceu em Chapecó durante 15 meses

    Foto: Divulgação

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