Os especialistas consideram o salto dos valores “impressionante”. Os preços mundiais dos alimentos aumentaram cerca de 40% em 1 ano, atingindo em maio seu nível mais alto desde setembro de 2011, segundo a agência da ONU para a Agricultura e a Alimentação (FAO) nesta quinta-feira (3).
Texto de Rádio França Internacional – RFI.
O Índice de Preços de Alimentos da FAO atingiu a média de 127,1 pontos em maio de 2021, 4,8% a mais que no mês anterior e 39,7% a mais que em maio de 2020.
Esta é também a 12ª alta mensal consecutiva desse índice, que mede a variação dos preços internacionais de uma cesta de alimentos básicos.
O índice situa-se em apenas 7,6% do seu nível recorde (137,6 pontos), registrado em fevereiro de 2011. O aumento de maio é explicado pela disparada dos preços de óleos vegetais, açúcar e cereais, além das carnes e laticínios, detalha a FAO.
Com isso, os preços dos grãos saltaram 6% em maio e abril. Eles foram impulsionados pela alta de 8,8% nos preços do milho em um mês, atrelada à revisão para baixo das perspectivas de produção no Brasil.
Os preços internacionais do trigo também subiram vigorosamente (+ 6,8% em um mês). Mas o mais espetacular é a forte alta dos preços dos óleos vegetais (+ 7,8% em um mês).
O preço do óleo de palma em Kuala Lumpur deu um salto de 60% em um ano (entre 3 de junho de 2020 e 3 de junho de 2021), observa Gautier Le Molgat, vice-gerente geral da Agritel, escritório especializado em gestão de risco de preços. “Já ultrapassamos os picos históricos de 2007”.
“Houve uma colheita pequena, mas a alta também está amplamente ligada à recuperação econômica e à disposição da China em estocar alimentos”, observou.
Em direção a uma “calmaria”?
Para a soja, a alta dos preços é explicada pela previsão de forte demanda global, especialmente no setor de biocombustíveis, observa a FAO. Também houve forte alta nos preços do açúcar (+ 6,8% ante abril).
Já os preços das carnes subiram 2,2% apenas em maio deste ano, devido à aceleração das importações chinesas. Os produtos lácteos subiram 1,8%.
“É complicado para a pecuária” porque os preços das suas matérias-primas aumentam mais rapidamente do que os dos seus produtos”, sublinha Gautier Le Molgat.
Para explicar este aumento geral dos preços dos alimentos, o analista destaca o papel da China, que comprou “um pouco sem limites”, sejam oleaginosas ou cereais, da safra de 2020. “Isso tem pressionado muito os estoques de mercado nos EUA”.
Mas o preço vai continuar a subir?
A FAO disse nesta quinta-feira que espera um “recorde” na produção mundial de cereais em 2021. A expectativa é de que se atinja 2,82 bilhões de toneladas, um aumento de 1,9% em relação a 2020 – principalmente devido ao aumento da produção de milho, que deve ser de 3,7% neste ano.
Por sua vez, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) divulgou recentemente suas previsões de primeira safra para a próxima colheita (2021/22). A expectativa é de um novo recorde mundial para o trigo, de quase 789 milhões de toneladas, com produção em claro avanço na União Europeia e Ucrânia, mas relativamente estável nos Estados Unidos e na Rússia.
Ele também espera safras recordes para a soja brasileira e o milho norte-americano. Por outro lado, a safra de milho no Brasil, diante da estiagem, foi revisada para baixo.
“Se os números do USDA se concretizarem, podemos esperar uma calmaria nos preços”, disse Arnaud Saulais, corretor do Grupo SCB. Mas “o mercado continuará volátil até que a colheita esteja dentro dos galpões de estocagem”, alertou.
(Com AFP)