Preços altos dos alimentos levam consumidores franceses a mudarem hábitos alimentares

O preço dos alimentos não parou de aumentar na França, com uma inflação de 16,2% em um ano. A alta de preços leva os consumidores a mudarem hábitos de compra, muitas vezes em detrimento da própria saúde.

Por Carolina Peliz, RFI.

“Todos os preços estão altos, mas o que nos preocupa mais, são os preços dos cereais que são atualmente muito elevados. Estamos no mesmo nível de preços observados na época do que chamamos ‘revoltas da fome’ no Magreb entre 2010 e 2011, isso é preocupante, diz Philippe Waechter, da consultoria Ostrum Asset Management, entrevistado pela RFI.

O economista se refere à Primavera Árabe, revoltas que tomaram conta de muitos países e tiveram início com o aumento dos produtos alimentares em dezembro de 2010.

“Isso leva os consumidores, sobretudo em países mais pobres como os da África, a abrirem mão destes produtos e buscar alimentos menos nutritivos. Isso causa um outro problema que vai além do preço do alimento”, diz.

Mas, com a inflação alta, os consumidores de países mais ricos, como a França, também têm que fazer escolhas. “Mudamos nossa maneira de consumir porque os preços estão mais altos, comemos menos carne, abrimos mão da qualidade, compramos produtos de marcas mais baratas”, diz o economista. “As pessoas estão mais atentas ao consumo nesta situação nova que deve durar ainda algum tempo”, analisa o pesquisador.

Ele explica que, apesar de não ser uma situação nova, o aumento dos preços atual é mais significativo, sobretudo para os cereais e os óleos, que tinham tido alta antes mesmo do conflito na Ucrânia, que levou a um aumento recorde dos preços dos alimentos.

Queda dos preços vai demorar

O aumento dos preços do petróleo, do gás e dos agrotóxicos foi refletido no das matérias primas e o choque energético se reflete no dos produtos alimentares transformados, como indica o especialista.

Apesar do preço da eletricidade e dos agrotóxicos terem voltado, na Europa, aos mesmos valores de antes da guerra, a queda não deve se refletir imediatamente nos produtos alimentares. “Será necessário esperar provavelmente até o quarto trimestre do ano”, diz Waechter.

O aumento também tem uma ligação com as mudanças climáticas. “Todos os estudos e relatórios do IPCC mostram que teremos um verdadeiro problema de produção agrícola e já estamos sentindo isso”, afirma. “Vimos em 2022, em 2021, com todos os problemas da produção de trigo, por exemplo, ligados às condições climáticas”, exemplifica. “Então já existem verdadeiros problemas e essas questões não serão resolvidas espontaneamente. Vamos ter uma verdadeira problemática de segurança alimentar nos próximos anos, e isso vai ser uma questão importante”, alerta o especialista.

“Como vamos administrar esta situação com condições climáticas mais degradadas, com a obrigação de satisfazer as demandas da população? Essa equação é difícil de resolver e se traduz em preços mais elevados”, diz.

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.