O esforço inicial do governo Luiz Inácio Lula da Silva para expulsar garimpeiros ilegais da Terra Indígena Yanomami, no norte da Amazônia, estagnou e o vasto território segue sendo invadido e sofrendo as consequências da atividade predatória, disseram líderes yanomami nesta sexta-feira (26/01). Eles pedem o retorno urgente das operações de retirada de garimpeiros.
A Hutukara Associação Yanomami divulgou um relatório sobre o primeiro ano das ações do governo federal, que em janeiro passado declarou emergência humanitária e enviou militares e policiais para expulsar os garimpeiros. O documento afirma que a situação continua sombria para os 30 mil yanomami que vivem na floresta, na fronteira com a Venezuela, e enfrentam desnutrição, doenças e violência.
O relatório informa que 308 yanomami morreram em 2023 – mesmo número que havia sido divulgado pelo governo –, dos quais 129 mortes foram causadas por doenças infecciosas, parasitárias e respiratórias. Pelo menos sete indígenas morreram por ferimentos a bala em confrontos com garimpeiros, segundo o relatório.
O levantamento também indica que a área afetada pelo garimpo no território cresceu 7% em 2023 – bem menos do que os 54% de 2021 e 2022 –, mas ainda revelador de que a atividade ilegal segue ativa na região.
“Precisamos, autoridade, deputado, senador, ministro que cuida do meio ambiente, Ministério da Defesa, nós, eu preciso do apoio de vocês [para] pressionar o chefe dos garimpeiros, que nunca foi preso, para botar na cadeia. Ele está errado, está fazendo muito ruim para povo indígena brasileiro. Botar na cadeia para aprender a respeitar. Isso está faltando. Matou índio”, disse o chefe e xamã yanomami Davi Kopenawa em um vídeo divulgado com o relatório.
Garimpeiros seguem intimidando indígenas
O documento afirma que a mineração ilegal e o desmatamento diminuíram, mas a presença contínua de garimpeiros armados impossibilita que os profissionais de saúde intimidados cuidem dos yanomami que não foram vacinados adequadamente.
A presença das forças de segurança no primeiro semestre do ano passado reduziu o número de invasores em 80%, de acordo com o relatório, mas depois que os militares reduziram as operações, os garimpeiros começaram a voltar.
Uma unidade de elite do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) disse em dezembro à agência de notícias Reuters que eles foram deixados para perseguir os garimpeiros por conta própria, sem apoio militar.
Em uma reunião ministerial no início de janeiro com responsáveis pelos órgãos de proteção ambiental e indígena e com o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, almirante de esquadra Renato de Aguiar Freire, Lula renovou a operação da força-tarefa com o envolvimento dos militares na região.