Povo Tremembé. Por Claudia Weinman

Foto: Claudia Weinman, de Goiás, para Desacato. info.

Por Claudia Weinman, para Desacato. info. 

Teve um final de ano que fiquei muito triste. Não tinha dinheiro para comprar nada. Dormimos cedo, não teve comemoração de natal, ano novo. Sei que é triste, mas não só pra mim, mas para meu povo todo. Eles destruíram tudo”, relato de Robson Tremembé de Engenho, no Maranhão, frente a uma das reintegrações de posse ocorridas.

O povo Tremembé traz relatos de como a vida dos povos indígenas no Maranhão está ameaçada também. Em dezembro de 2018, como de costume sempre no final de ano, “O braço armado do estado, contando com cerca de 150 soldados da polícia militar, tropa de choque, polícia rodoviária federal, estadual, até mesmo a guarda municipal de São José de Ribamar, amparou a ação dos tratores”. Esse é o trecho de uma nota divulgada pelo Conselho Indigenista Missionário naquele momento.

Meu bisavô nasceu no território Engenho. Meu avô tem 92 anos e nasceu no mesmo território. O rio sofreu muitas violências iguais a nós. Era nosso lazer, bem viver, matava fome. Acabou os peixes, a água, as árvores nativas, a Palmito Jussara, enfim, as máquinas derrubaram tudinho. Plantas centenárias foram derrubadas pela grilagem de terra”, relembrou Robson Tremembé.

Os grileiros que possuem as influências políticas e jurídicas contam com o aporte do estado e junto com os jagunços, avançam com a política genocida, do agronegócio, devastando os territórios. Onde vive agora o Robson Tremembé por exemplo, o povo trabalha a partir da experiência com hortas pequenas, de onde as famílias tiram o básico sustento.

Além do povo indígena, dos sem-terra, os quilombolas também vivem nessa constante ameaça. No ano passado por exemplo, capangas dos jagunços atearam fogo no Quilombo de Açude, no Maranhão. A burguesia agrária, muito incentivada pelo governo de Jair Bolsonaro, notadamente segue reforçando esses ataques.

Conhecendo o Robson Tremembé em uma das experiências que tivemos em 2019, passamos a compreender mais sobre essa negação que ocorre da vida dos povos indígenas frente ao estado, a “limpeza” praticada contra povos que ao longo da história foram desaparecendo de forma forçada e bastante violenta. Nessa entrevista por exemplo, nos foi feito um pedido, de ajuda, para que a luta pela existência fosse feita de forma pública e assim fizemos, por meio do #JTT Indigenista, o primeiro jornal com pautas indigenistas do Brasil com o qual seguimos colocando as vozes dos povos que precisam também desse espaço para suas denúncias.

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Claudia Weinman é jornalista, diretora regional da Cooperativa Comunicacional Sul no Extremo Oeste de Santa Catarina. Militante do coletivo da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR).

A opinião do autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

#Desacato13Anos

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