Por Renato Santana*.
Cerca de 100 indígenas do povo Pankararu ocupam desde segunda-feira, 28, o Acampamento Itaparica da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), no município de Jatobá, sertão de Pernambuco. Os Pankararu protestam contra a construção de estradas na terra indígena, sem a anuência do povo, e por indenização devido a empreendimentos da companhia que cortam as aldeias.
Os Pankararu esperam para esta quarta-feira, 30, uma reunião entre lideranças e representantes da Chesf. Caso não ocorra, os indígenas afirmam que “não terão responsabilidade sobre o que possa acontecer”.
Assista: Vídeo da Apoinme sobre a ocupação do Acampamento Itaparica
“Há alguns anos a Chesf passou uma linha de transmissão em nosso território e nunca indenizou. Hoje a companhia precisa de uma licença de operação e sem a nossa autorização entra na terra com máquinas e faz estradas. Totalmente errado”, explica Sarapó Pankararu, coordenador executivo da Articulação de Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme).
Sarapó Pankararu enfatiza que o povo está “fazendo uma mobilização pacífica pra chamar a atenção da Chesf e buscar um diálogo”. O Acampamento Itaparica foi estruturado depois da construção da UHE Luiz Gonzaga, em 1988. O lago da usina inundou uma área de 834 km quadrados desalojando cidades e terras indígenas em Pernambuco e na Bahia.
“No passado, eu e minha família vivia da pesca. Era o nosso sustento. Meu pai e minha mãe eram pescadores. Isso acabou depois da usina. Então estamos aqui nessa ocupação por conta disso, desses impactos”, explica Ney Pankararu. A professora Maria José Pankararu reitera que “eles (Chesf) entraram nas nossas terras e tomaram conta dos nossos espaços sagrados e de subsistência. Estamos lutando por nossos direitos. Que venham dialogar e fazer esse reparo, por mais que não substitua o que temos de mais sagrado e eles depredaram”.
O cacique Zenivaldo Bezerra, da Terra Indígena Entre Serras Pankararu, também afetada pela usina, argumenta que o movimento é para exigir respeito. Os Pankararu denunciam que no início da ocupação foram tratados com arrogância. “Chegaram aqui fazendo exigências e a gente não pode aceitar isso. O prejudicado aqui é o povo Pankararu. Desde a década de 60 passam linhas de transmissão e nunca indenizaram”, pondera Sarapó Pankararu.
Para Atian Pankararu, parte da memória do povo e dos antepassados está debaixo da água. O que não submergiu está sob constante ameaça de invasão. Por conta disso, “toda nossa terra, abaixo do rio São Francisco, que encontra com o rio Pajeú, com o rio Moxotó, tem toda uma herança que os antepassados deixaram”. O indígena afirma que “hoje o governo com a usina, posseiros, prefeitos, deputados e vereadores tentam tomar de conta das nossas terras”.
A Chesf, enfatizam os Pankararu, nunca resolveu os problemas gerados pelo empreendimento e seus impactos – linhas de transmissão, acampamentos, estruturas de apoio, fluxo migratório de trabalhadores, estradas. Agonan Pankararu, um dos pajés do povo, acredita que parte dessa luta envolve o futuro dos indígenas no território. “A gente briga pelos encantados que vivem na terra, tem o equilíbrio gerado que vai além do povo Pankararu, e pra todo os curumins de nossa nação Pankararu”, diz.
*Com informações de Alexandre Pankararu, da Assessoria de Comunicação da Apoinme.
Fonte: CIMI.